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O mito do neonazista

Por Flaggsmasher

Um texto interessante retirado do livro COMO LER JORNAIS, de Janer Cristaldo:

“O fantasma do neonazi — O jornalismo contemporâneo, para atingir o maior número de leitores, baliza o texto com fotos ou grafismos de modo a tornar o mais esquemática possível a mais complexa das realidades. Como a mente do leitor já vem alimentada por um imaginário do cinema e da TV, os ícones do século são preciosos sinais de tráfego para orientação da leitura. As reportagens assumem a estrutura romanesca e os personagens são apresentados de forma que o leitor perceba onde está o bem e o mal, quem é herói e quem é vilão, vítima ou algoz.

De uns tempos para cá, a mídia foi invadida pela figura do neonazi. Se um grupo de jovens, brancos e preferentemente europeus ou de origem européia, sai a fazer balbúrdias e agride imigrantes, negros ou árabes, está configurado o neonazismo. Podem até mesmo jamais ter ouvido falar de nazismo, Hitler ou Segunda Guerra. Mas são evidentes neonazis.
Se não há agressão alguma, cria-se pelo menos atos criminosos por omissão.

[…] Imprensa importa neonazis — Se há neonazistas na Europa, tem de existir também no Brasil. Assim, quando ocorre qualquer incidente nalgum país europeu, preferentemente em países germânicos ou nórdicos, os editores saem a catar nos arquivos grupos equivalentes no Brasil. Basta achar um careca, branco e preferentemente parrudo, vestido com couro e correntes, e lá está a ameaça nazista.

[…] A farsa de Marie — Dia 10 de julho de 2004, a máquina de produzir racismo voltou a funcionar. Uma jovem de 23 anos, Marie L., que viajava com seu bebê de 13 meses no metrô de Paris, apresentou queixa à polícia de ter sido agredida por um grupo de jovens desconhecidos com idades entre 15 e 20 anos. Os agressores seriam negros e africanos do norte. Rasgaram sua roupa, cortaram seus cabelos, atiraram seu bebê no chão e pintaram suásticas em sua barriga por acreditar que ela fosse judia. Ainda segundo Marie, cerca de vinte pessoas assistiram à agressão passivamente, sem sequer prestar-lhe auxílio.
Escândalo na França, horror na Europa. Os jornais do continente deram suas primeiras páginas ao fato abominável. Jacques Chirac manifestou seu susto ao tomar conhecimento “desta odiosa agressão” e pediu que seus autores fossem “julgados e condenados com severidade e responsabilidade”. Organizações religiosas e de direitos humanos condenaram com veemência não tanto a agressão dos árabes e negros, mas principalmente a omissão e passividade dos demais passageiros. Um clima de progrom perpassou a Europa. Neste domingo passado, o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, exortou os judeus da França a viajar imediatamente a Israel. “Proponho a todos os judeus que venham a Israel, mas para os judeus da França é absolutamente necessário, e eles devem partir imediatamente”, disse Sharon. Como se a França tivesse declarado guerra a Israel.

Por 48 horas, o país foi tido como uma reencarnação da Alemanha nazista. Logo se descobriu que a denunciante era uma moça com problemas mentais, que já apresentara queixas semelhantes no passado.

Um exame das imagens das câmeras de segurança da estação de metrô não mostraram agressão alguma. Eventuais testemunhas foram chamadas a depor e nenhuma se apresentou. Diante das evidências, a moça acabou “quebrando” e admitiu a farsa.

Jornal algum, nem mesmo o sisudo Le Monde, teve a preocupação de checar a notícia, que tinha todos os componentes para ser um blefe. E blefe dos mais perigosos, pois joga com ressentimentos de duas comunidades que nutrem ódios milenares. A prefeitura de Lyon chegou a programar uma passeata contra o anti-semitismo, cancelada após a confissão de Marie L. Os muçulmanos, por sua vez, tiraram sua casquinha, denunciando uma “islamofobia reinante, acentuada pelos meios de comunicação e as autoridades, que se lançaram a denunciar os fatos sem esperar para verificá-los”.

É fácil acusar uma multidão. Os fabricantes de racismo desde há muito intuíram isto. Como ninguém é acusado individualmente, ninguém reclama. Mais difícil é acusar uma ou duas pessoas. O acusado se vê forçado a defender-se e o acusador arrisca um processo. Como a luta de classes está fora de moda, o racismo tornou-se o novo motor da história. Multidões serão novamente denunciadas por crimes que não foram cometidos nem podem ser provados. Mesmo desmentidos, comunidades e países inteiros herdarão a pecha de racistas. O alvo é a Europa. Como o fantasma do comunismo não conseguiu dobrá-la, como previa Marx já no Manifesto, suas viúvas brandem um outro, o da luta racial.”

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Bom, o perito afirmou que não
    Bom, o perito afirmou que não estava grávida. Considerando que o perito esteja certo, afinal, por que mentiu? Se pegarmos as notícias, veremos que ela já tinha passagem marcada para o Brasil, semana que vem. E afirmou que a viagem estava mantida, mesmo após o ataque. Uma tese que eu penso é que ela poderia ter feito algo para interromper uma eventual de gravidez não desejada. Para criar um álibi para um eventual aborto ela seria capaz de forjar um ataque de neonazis? A família agora está adotando o silência total. O perito certamente não deve ter falado que ela não está grávida se não tivesse certeza absoluta do que diz. O caso tomou uma dimensão tão grande que será difícil esconder alguma coisa agora. Mas é claro que isto é apenas uma tese, falta muita informação ainda.

  • Se for confirmado, não vou
    Se for confirmado, não vou aceitar o uso da diplomacia brasileira para livrá-la das consequências do seus atos. Se fez que pague por lá mesmo. Sem pena.

  • Concordo que neonazismo não
    Concordo que neonazismo não seja mito, afinal acabamos de ver o estado neonazista de Israel massacrando palestinos, mas está virando o bicho papão moderno. Não sabe que rótulo dar? Fácil: neonazista!

  • Curiosa por saber a origem do
    Curiosa por saber a origem do sr. Janer Cristaldo, e tendo tempo esta tarde, pesquisei e cheguei a um artigo do Olavo Carvalho- pensador reconhecidadmente de direita, e que já foi citado aqui pelo Nassif como um intelectual honesto.

    E ele diz assim, certamente a respeito de algum artigo do Cristaldo sobre religião:

    “Revoltado contra Deus, Janer Cristaldo sente a compulsão irreprimível de bater nos que O amam. Primeiro pegou os cristãos, agora os judeus. Numa época marcada pela perseguição anti-cristã generalizada e pelo inquietante ressurgimento do anti-semitismo, não se pode dizer que ele esteja em descompasso com a moda.” (Mídia sem Mascara, 16.12.2005)

    Creio, portanto, que não devemos perder tempo lendo um catatau desses de um senhor que é qualificado dessa forma até por um pensador de direita.

    Sim, o neonazismo não é um mito, Waléria.

    E senhores, o enredo que estão fazendo a respeito do caso da moça está bem pior que os novelões aqui criticadas pelo Nassif.

  • Nassif e
    Nassif e comentaristas

    Apenas uma pergunta, antes de lerem toda a matéria :

    Vocês sabem quem entrou com está ação no STF?
    Foi o Nery Kluwe.

    ________
    13/02/2009 - 16p6
    Ministro do STF manda arquivar ação contra a Abin na Operação Satiagraha

    da Folha Online

    O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou arquivar a ação que pedia para a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) devolver aos cofres públicos o dinheiro que gastou na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

    (continua)
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u503585.shtml

  • eu fico lendo sem entender
    eu fico lendo sem entender nada.

    Maldita ignnorãncia que me persegue.

    ''neonazista"

    Neo...

    Neo é novo? ou seguidor dos antigos?

    enquanto não souber disso não posso comentar.

    Alguma alma bondosa pra elucidar este pobre intelectual anarquista?

  • Deveria ler,
    Deveria ler, Elisabeth.
    Primeiro porque mostra que devemos primeiro conhecer melhor os fatos, antes de julgar e, segundo, porque se Olavo de Carvalho está contra o Sr. Cristaldo, já é um motivo para se estar a favor.

  • Devagar aí...

    é muito
    Devagar aí...

    é muito possível que estejamos diante de um pânico generalizado por uma imprensa que não filtra as informações que lhe chegam. É possível que acusações falsas sobre ataques neonazistas sejam indevidamente noticiados.

    Mas não vamos nos iludir. Informações falsas não nos pode levar a negar que haja um movimento de emergência de idéias neo-fascistas.

    Fascismo não é rótulo ou algum tipo de clube apenas para iniciados. Fascismo é uma mistura de nacionalismo exagerado, intolerância e gosto pela agressão.

    É inegável que idéias e práticas de intolerância estejam em evidência. Assim como idéias e práticas que as condenam, como imagino que ocorra entre a maioria dos que aqui participam.

    Sou professor de uma grande rede de ensino privado em SP. Lido com alunos de classes sociais muito privilegiadas. Com frequência tenho que alertar os alunos sobre suas manifestações de ódio racial, regional e social. Ou seja, palavras explícitas de ódio contra negros, nordestinos e pobres.

    Ano retrasado um aluno de nossa escola se manifestou com idéias neo-nazistas numa aula de história. O professor o alertou diversas vezes. O garoto continuou. O professor pediu que se retirasse da sala de aula e relatou o caso à diretoria. Deixou claro que não se tratava d euma divergência de idéias, mas de um ato imoral e inclusive ilegal, contra judeus.

    A escola não levou o caso adiante. Minimizou o fato.

    Duas semanas depois o aluno foi agredido por um grupo de punks que já o conheciam. Esses punks já tinham apanhado de uma turma de neonazistas que acompanhava esse garoto em outra ocasião. Espancaram o aluno e quebraram seu maxilar na porrada.

    A escola fingiu que não tinha nada haver com isso. O referido professor lamentou profundamente o caso.

    Onde ocorreu a agressão? Próximo a Av. Tiradentes, em SP.

    A imprensa noticia esses fatos de forma isolada e raramente identifica o fenômeno como algum sintoma de problema social, latente.

    Seria errado imaginar que isso ocorre em maior escala na Europa?

    O maior problema frente ao fascismo é o menosprezo daqueles que podem combatê-lo e não o fazem.

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