Guilherme Rondon e o álbum Melhor Que Seja Raro, por Aquiles Rique Reis

Por Aquiles Rique Reis

Hoje conversaremos sobre Melhor Que Seja Raro o CD independente de Guilherme Rondon. Nascido em São Paulo, mas criado em Corumbá, este compositor, violonista e cantor desde sempre tratou com intimidade guarânias, polcas e chamamés.

Mas foi quando se mudou para São Paulo que a sua música pantaneira se miscigenou com outros gêneros musicais, oxigenando a sua obra e dando-lhe pinceladas de saudável contemporaneidade.

O álbum tem bons instrumentistas. Além de Guilherme (violões de aço e de náilon), lá estão Webster Santos (bandolim, guitarra e violões de doze e de seis cordas), Sandro Moreno (bateria e percussão), Alex Mesquita (baixo e guitarra) e Jaques Morelenbaum (cello), dentre outros. Um grupo homogêneo – tocando arranjos coletivos –, que se sai muito bem tanto nas levadas quanto nas melodias e harmonias.

Guilherme é autor de todas as melodias, cujos letristas nelas encaixaram versos plenos de personalidade. A musicalidade está explicitada nas canções, cujos versos têm palavras adequadas à sua métrica melódica.

Abrindo os trabalhos, “Brincadeira na Beira” (Guilherme Rondon e Alexandre Lemos) tem introdução com violão de doze e de seis cordas, baixo e bateria. A pujança pantaneira está ali para quem quiser sentir. A voz encorpada e afinada de Guilherme adverte: “Brincadeira na beira do mundo/ Quem não sabe não faça (…)”

Uma introdução delicada, tocada por violões de seis e de doze cordas, além de baixo, bateria e percussão, aguça o apetite para saborearmos a melodia de Guilherme e os versos de Zélia Duncan para “Melhor Que Seja Rara”: “Doesse nada/ Não tinha graça/ Perdesse a graça/ Que mais ia valer? (…)” As cordas dos violões ponteiam, e novamente a levada pantaneira grita “presente!”.

“Enxurrada” (GR e Alexandre Lemos) vem com duas guitarras, gaita e teclado. Na levada pop, o baixo e a bateria conduzem. A guitarra toca um intenso intermezzo, enquanto Guilherme vai fundo no canto: “Um dia/ E só descanso no mar/ Um dia desses, que nem um raio, saio (…)”

“De Que Reino Sou Eu” (GR e Iso Fischer) inicia com cello, baixo, piano e violão. Os versos desta canção doce, entrecortada pelo desenho feiticeiro do cello, dizem: “Junto da janela vejo esse menino/ Seu olhar perdido vê que a vida passa (…)”. Cabe ao cello belamente solar e conduzir ao final.

“Vento Veio Contar” (GR e Zé Edu) nos reconduz aos mistérios do Pantanal. As cordas dos violões e do bandolim embalam a cantiga. Feito um acalanto, Guilherme põe sua voz a serviço da bela música: “Vim de longe de outra terra/ Morena pra te buscar/ Acabou a tua espera/ Teu amor já vai chegar (…).

“Amor Perfeito É Só Uma Flor” (GR e Murilo Antunes) tem guitarras, baixo e violão aconchegando a estrutura que os autores imaginaram ser o seu destino ao compô-la: “(…) O amor perfeito/ É só uma flor…”

Neste CD, Guilherme Rondon juntou, tocou e cantou suas influências, criando um trabalho digno de figurar nas principais listas de boa música popular brasileira.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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  • Guilherme Rondon

    Como é bom ser amigo de quem se é fã. O trabalho de meu amigo Guilherme Rondon é EXCELENTE. O texto de Aquiles Rique Reis é certeiro! E nós, músicos e ouvintes, agradecemos esta preciosidade de trabalho bem feito!

     

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