Kike Toledo ressalta a importância da roda de samba autoral, por Augusto Diniz

Kike Toledo ressalta a importância da roda de samba autoral

por Augusto Diniz

O sambista e antropólogo Kike Toledo costuma definir uma roda de samba para valer como aquela em que “o samba antes de tudo é protagonista”. Quando ele fala em protagonismo quer dizer ter a experiência de se ouvir um samba novo.

“Rodas para curtir agregam um público mais flutuante e em busca de prazeres aquém ou além do samba, onde se tem quase nenhuma paciência com sambas novos ou sambistas desconhecidos da mídia. Hoje, felizmente cresce um público que também gosta do samba”, diz.

Gostar de samba é frequentar uma roda e ouvir trabalhos autorais (ou samba artesanal, como Kike prefere chamar), pois é ali que está o exercício de afirmação do gênero. “As novidades do samba vêm das rodas autorais, desde sempre. Quanto mais experimentação mais se apura o samba”, afirma.

Kike Toledo cita o Samba da Vela como exemplo clássico do desenvolvimento do trabalho autoral do gênero – aliás, a principal roda de samba autoral do País completa 18 anos com uma grande festa nesta segunda-feira – 23/7 (mais detalhes aqui).

Outros redutos em São Paulo nessa linha de apresentação de sambas autorais Kike Toledo inclui o Samba do Congo, comandado por Fernando Ripol, e o Samburbano, no Largo de Santa Cecília, que mistura músicas de sucesso com sambas autorais, liderado por duas mulheres: Paula Pretta e Roberta Oliveira.

“Hoje, as rodas de samba autoral abrigam muitas meninas sambistas”, ressalta. “A presença feminina se dá nas diversas atividades do samba, como compositoras, ritmistas, arranjadoras – muitas de qualidade. Posso citar uma flautista excelente, a Ângela Coltri, que acompanha o Toinho Melodia, mas que tem trabalhos em outros gêneros”.

Ele destaca que o samba vem flertando com outros instrumentos, além daquela da formação consagrada pelo Fundo de Quintal, grupo-marco da chamada geração do Cacique de Ramos. “Um outro ótimo músico no samba é o arranjador Eduardo Camargo, que circula entre o samba e a música instrumental paulistana”, comenta.

“A rodas autorais respiram esses intercâmbios e respondem a essas novas demandas por um samba novo, ainda longe das rádios”, diz.

O sambista Kike Toledo participa de um projeto de sambas autorais intitulado Samba de Canto a Canto – aliás, neste domingo (22/7), o grupo volta a se reunir (saiba mais aqui). Integram ainda o projeto Chicão e Sahra Brandão, da Velha Guarda musical da Vai Vai, o compositor Carlinhos Duvai, o sete cordas Lelê Fernandes, a cantora e trombonista Inaê, e os percussionistas Mannu, Everton Reis e Dezinho.

“Reuniões desse tipo não levam necessariamente o samba à profissionalização e a um público maior, mas por sua capilaridade mantém o samba oxigenado. Esse movimento é lento, mas constante por toda a cidade”, analisa.

Em 2016, Kike Toledo lançou o bom CD de samba “Ladeira de pedra”, que está nas plataformas digitais de música. Saiba mais do sambista em sua página na rede social aqui.