O músico de múltiplos talentos
por Aquiles Rique Reis
Paulo Malaguti Pauleira lançou Segundo Pauleira (Mills Records), segundo CD de um músico que não tem medo de música: a que vier ele traça, inoculando-a com seu DNA. Além de cantar, fazer arranjos, reger corais, tocar pianos acústico e elétrico e violão, Malaguti escreveu todos os arranjos de bases do álbum, enquanto Paulo Brandão produziu, gravou, editou e mixou o trabalho.
O PMP arranjador é musicalmente detalhista em suas criações, tratando-as como a uma filha.
O compositor é antenado com o mundo que o arrodeia. Músico politizado, enquanto cria belezas, defende suas convicções com ardor. O harmonizador e o melodista percorrem caminhos que tanto podem levar a uma música inovadora como remetê-la à tradição. O instrumentista é capaz de cuidar de seus instrumentos como o irmão mais velho protege o mais novo. E, se o regente de corais é o educador que ama o canto e quer vê-lo repassado a muitos, ensinando-lhes a força que têm as vozes quando irmanadas e apoiadas umas às outras, o vocalista leva adiante o seu amor pelo canto em conjunto.
O CD começa com “Gostaria Te Encontrar” (PMP), roquenrrol arretado, no qual o baixo fretless de Fabio Girão empurra o ouvinte contra o sofá – é a mixagem pop anunciando o rumo do som.
“Cordão de Prata” (Helena Jobim e PMP) tem participação do Arranco de Varsóvia. Flautas brilham na intro, enquanto um coral feminino desvenda a beleza dos versos de Helena.
“Lá Vem de Novo” (PMP) é um maracatu com letra politizada. Lenine e o MPB4 estão com ele.
“Nem Choro, Nem Vela” (PMP) é um instrumental que conta com a Orquestra Criola. O arranjo para os sopros é do saxofonista Humberto Araújo, cujo solo no intermezzo é de arrancar a peruca.
“Dom de Acreditar” (PMP) tem participação de Elizah Rodrigues. Em duo com Malaguti, a melodia é pura beleza.
Em “Vamo Pro Bunda” (PMP), Humberto Araújo cria um novo arranjo para a Orquestra Criola que dá destaque a seu flautim – e Malaguti chuta o pau da barraca.
“A Solidão das Prateleiras” (PMP), o segundo instrumental do CD, tem o violoncelo de Eugene Friesen (seu intermezzo é de arrepiar) e a voz de Clara Sandroni gerando delicada atmosfera.
“Fuga das Ilhas Sunda – Não Olhe Assim” (Fabio Girão e PMP) tem Malaguti fazendo percussão de boca. A Criola está de volta (isso é ótimo!). A voz de PMP soa com reverber, recurso bastante presente no CD.
A percussão de boca está também em “A Me Afligir” (PMP), samba à la Jackson do Pandeiro. São de aplaudir o solo do trombone de Chris Washbume e o vocal de Luna Messina.
“Um Presente e um Futuro” (PMP), mistura de Tom Jobim com Guinga (ele que toca violão e canta com Malaguti), tem formação camerística: PMP no piano acústico e Joana Queiroz no clarinete.
Dois corais infantis ajudam a fechar a tampa com “Música Sim” (PMP), uma homenagem à música, musa de Malaguti, que, desde sempre, a ela dedica seus múltiplos talentos e seu amor incondicional.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
PS. Tenho o maior prazer por Pauleira ser, agora, um do MPB4.
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