Todas as grandes canções de Cole Porter são fáceis de achar, por Ruy Castro

Da Folha de S. Paulo
Sucessos do compositor morto há meio século estão em filmes e discos
Ruy Castro
O Brasil nunca viveu à míngua de Cole Porter. Desde que o mundo o descobriu, em 1934, com o filme “A Alegre Divorciada” –e se encantou com “Night and Day”, na voz e nos pés de Fred Astaire–, foi impossível deixar de segui-lo. Em 1936, ele voltou às telas brasileiras com “Nasci para Dançar”, em que Virginia Bruce cantava “I’ve Got You Under my Skin” e James Stewart –o próprio– destroçava a indefesa “Easy to Love”, e com “Fuzarca a Bordo”, em que Bing Crosby e Ethel Merman faziam maravilhas com “Anything Goes”, “I Get a Kick Out of You” e “You’re the Top”.
Em 1940, uma consagração: Fred Astaire e Eleanor Powell em cena por seis minutos, acariciando com suas chapinhas o chão espelhado ao som de “Begin the Beguine”, em “Melodia da Broadway de 1940” –que trazia ainda “I Concentrate on You”. Em 1941, Fred de novo, mas agora com Rita Hayworth em seus braços, em “Ao Compasso do Amor”, trouxe à vida “So Near and Yet So Far”.
Notar que, entre um filme e outro, os fãs brasileiros de Porter eram abastecidos regularmente com uma dieta de discos de 78 rpm, nacionais ou importados, trazendo essas e outras canções –“Just One of Those Things”, “Let’s Do It”, “Love for Sale”, “It’s De-Lovely”, “Miss Otis Regrets”, “My Heart Belongs to Daddy”, “Ev’rytime We Say Goodbye”– pelos cartazes da época: Bing Crosby, Mary Martin, Benny Goodman, Artie Shaw e o jovem Sinatra. Todas essas canções, pela esforçada Ginny Simms, estavam em “Canção Inesquecível”, “biografia” do compositor perpetrada pela Warner em 1946, em que Cole é interpretado por… Cary Grant –o homem bonito que ele queria ser.
Os grandes filmes com “score” de Cole Porter, no entanto, só começaram mesmo com “Dá-me um Beijo” (1953), em que Kathryn Grayson, Howard Keel e Ann Miller (Bob Fosse é um dos dançarinos) recriam um excepcional “score” contendo “So in Love”, “Too Darn Hot”, “Always True to You in my Fashion”, “Brush Up Your Shakespeare” e “From This Moment On”. Em 1956, Cole escreveu quatro canções originais para “Alta Sociedade”, com Bing Crosby, Grace Kelly e Frank Sinatra. Três delas eram “I Love You, Samantha”, “You’re Sensational” e “True Love” –que tal?
Fred Astaire (com Cyd Charisse) despediu-se dos musicais no mágico “Meias de Seda” (1957), cujo maior número era “All of You”. E Sinatra, Shirley MacLaine e Maurice Chevalier, em “Can-Can” (1960), imortalizaram “C’est Magnifique”, “I Love Paris”, “It’s All Right With Me” e várias outras. Todos esses filmes estão disponíveis em DVD e muitos dos momentos citados são fáceis de achar no YouTube.
Mas, se você quiser fazer um Ph.D em Cole Porter, tem de ir aos discos –aos songbooks, que incluem as canções menos famosas e tão extraordinárias quanto, gravadas por Lee Wiley, Ella Fitzgerald, Anita O’Day, Sarah Vaughan, Mabel Mercer, Jeri Southern, Bobby Short, Rebecca Luker, o próprio Cole. E o surpreendente “Murilinho – Seven to Seven no Sacha’s”, de 1959, em que o carioca Murilinho de Almeida (com Sacha ao piano, Cipó ao sax-tenor e Dom-Um à bateria) interpreta 12 clássicos de Cole –este último, naturalmente, o único daqueles LPs que nunca chegou ao CD.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

View Comments

Recent Posts

1º de Maio, Itaquerão vazio, episódio ridículo, a ficha caiu?, por Percival Maricato

Se cada sindicato do estado enviasse um representante, haveria mais pessoas no Itaquerão que o…

1 minuto ago

Sanções contra Rússia por guerra na Ucrânia fracassaram, diz Itália em apelo pela paz

Ministro da Defesa da Itália diz que a única solução agora é substituir sanções por…

24 minutos ago

Como o comportamento das polícias espelha projetos de governos, por Jacqueline Muniz

Socióloga conta por que casos de racismo policial, noticiados quase que diariamente, nunca devem ser…

51 minutos ago

Hospital de Campanha começa a atender população afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul

Estrutura montada em Estrela entrou em funcionamento no domingo. Outra unidade foi transportada para a…

1 hora ago

Extrema-direita usa tragédia no Sul para disseminar novas fake news contra o governo

Para especialista prática da desinformação “zomba da vida alheia, tripudia sobre os mortos”. Entenda

2 horas ago

Operação Greenfield: a outra Lava Jato, por Luiz Philippe Torelly

A falácia de que houve rombos gerados por falcatruas continua e alimenta comentários de jornalistas…

3 horas ago