Todas as músicas do Brasil na tua presença, Rádio USP, por Rui Daher

Vim aqui “pisar nesse chão devagarinho” porque a Rede USP de Rádio “entra pelos sete buracos da minha cabeça”, especialmente dois deles, e me traz cultura e prazer

Dizem que tudo que é ruim sempre pode piorar. Mais ou menos isso. Não, não falarei de política. Hoje em dia, fujo dela. O que desejo é lembra-los do contrário. O que é bom sempre pode melhorar.

É como ficou a Rádio USP depois de reformular a sua programação. Não oferecesse, desde quando foi fundada, em São Paulo (outubro de 1977) e Ribeirão Preto (dezembro de 2004), a melhor programação musical de rádios paulistas, somente o fato citar nome, intérprete e autores das músicas, já seria um grande diferencial em relação às demais emissoras preguiçosas, desrespeitosas, sem capacidade de pesquisa, e que preferem usar o tempo com histeria radiofônica. Pressa do quê? De serem medíocres?

A Universidade de São Paulo, com todos seus perrengues atuais, queira-se ou não, foi e continua sendo um dos mais importantes centros de irradiação de saber, conhecimento, pesquisa e inovação do planeta. Dane-se sua queda nos rankings alegada por gente do meio que a quer privada. Há milhões de universidades pelo mundo, estabelecidas em países com maior vocação educacional. Para o Brasil, a USP fez e faz muito. Corporativismo discente, nostalgia? Que sejam.

Seria inconcebível pensar que na USP nada é desenvolvido e renasce como ensino. Da mesma forma, não é possível crer todos os departamentos, cursos e professores como medíocres. Não me alongo. Se mais quiserem saber da universidade, visitem seus campi espalhados pelo estado de São Paulo e pesquisem o que lá acontece.

Vim aqui “pisar nesse chão devagarinho” porque a Rede USP de Rádio (São Paulo, FM 93,7; Ribeirão Preto, FM 107,9) “entra pelos sete buracos da minha cabeça”, especialmente dois deles, e me traz cultura e prazer.

A febre nas redes digitais anda próxima dos 40 graus. Cada post um slogan. Cada compartilhamento um compêndio filosófico e político. Pouca verdade, muita vergonha. Acredito e assino embaixo em quatro slogans da FM 93,7: “Excelência musical brasileira, só na Rádio USP”; “A rádio da sua universidade pública e gratuita”; “A rádio que não tem publicidade comercial, aqui a gente não quer vender nada para você”; “Mais do que ficar sabendo, você entende por que as coisas acontecem”.

Urbanoides infelizes, como eu, só lembramos de sintonizar a USP no carro ou em casa. Motoristas de táxis e Uber, pensam soberana a CBN. Daí eu lamentar não ser alfaiate e poder ficar quietinho, concentrado em tesouras e máquinas de costura, alinhavando pontos, radinho ligado, ou corretor de imóveis, esperando alguém para visitar imóvel à venda.

Por que a Rádio USP melhorou?

Alguém lá dentro sacou que ao jornalismo radiofônico não basta ler as notícias já divulgadas pelas folhas e telas cotidianas, muitas vezes acontecidas ontem. Também, a miríade de iniciativas interessantes, tecnologias novas, diversificadas que saem do campus para a sociedade, na forma de eventos, simpósios, pesquisas. Descobriram que, mesmo de forma tópica, professores poderiam tirar das algibeiras de seus cursos algumas moedas que interessassem o público.

Colocaram “colunistas”. A maioria ótima, que trata de temas isentos de partidarismos, o que faz deslocado certo José Álvaro Moisés, empolado tucano. Como sabemos, ninguém é perfeito. Eu, por exemplo, nunca me interessei e não entendo nada de mitologia. Às 18 horas, um professor me ensina o básico da matéria. Apresentador com sotaque fala sobre cinema brasileiro.

Além do melhor da música brasileira, “Boletins com poemas”, “Memória Musical” – gravações antigas que você pode nunca ter ouvido -, colunistas como Raquel Rolnik (Urbanismo), Gilson Schwartz (Economia), Pedro Dallari (Globalização e Cidadania), Ciro Marcondes (Ciência Feliz), André Singer (Política), Renato Janine Ribeiro (Ética e Política), Carlos Eduardo de Lins e Silva (Jornalismo), José Eli da Veiga (Sustentabilidade), Luli Radfather (Datacracia), muitos mais.  

Fins de semana, o imortal Moisés da Rocha, com o “Samba Pede Passagem”, Antônio Rosa, do “Vira e Mexe”, “Manhã com Bach”, “Alquimia”, a música do 3º Milênio, com Simone Moon.

Enquanto escrevia este texto, ouvia “Especiais”, com Badi Assad. Onde mais? O site ainda não está 10, mesmo assim consultem-no e deem esse prazer aos sete buracos de suas cabeças.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

View Comments

  • Tem a memoria musical

    No horario das 7 as 8:30 tem a velha guarda (se não estou errado: Memoria musical).

    Nelson Gonçalves, Caubi, Braginha, Carmem Miranda, Dorival  e muito outros.

    Não sou saudosista, mas vale a pena ouvir!!!

    • José Antônio,

      É isso. Não é questão de saudosismo. O programa é ótimo tambem por se referir, através das letras das músicas e marchinhas, a fortes mudanças de características dos brasileiros do século XX em relação aos atuais. É curioso e muitas vezes engraçado. Abraço

  • Adoro essa rádio
    Ouço sempre que posso, no trânsito.

    Gosto do Vira e Mexe, talvez o programa de música nordestina mais bacana de SP. No último sábado. Paulinho Rosa (não Antônio) entrevistou Oswaldinho do Acordeom um dos grandes sanfoneiros do Brasil, meio sumido da velha mídia, mas ainda na ativa, com shows no exterior etc.

    Estou curtindo também a nova programação das manhãs, com o Memória Musical, com as gravações antigas. Faz lembrar o Luciano Hortêncio aqui do blog.

    • Obrigado meu caro,

      fiquei batendo cabeça para lembrar se era Toninho ou Paulinho (aos 70 anos, querer confiar apenas na memória é meio arriscado), não pesquisei e chutei errado. Basta a arrancada do Vira e Mexe com o "Cantinho do Dominguinhos" para a gente querer ouvir o povo que o Paulinho descobre. Abraço 

  • Programa MPB Sempre

    Fotos de alguns dos convidados do Programa MPB Sempre, que o "Movimento dos Sem Rãdio" realizou voluntariamente, na gestão da Lígia Trigo.

    Benjamim Taubkin Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Maio 2001

     

    Celso Viáfora Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Dezembro 2000

     

    Consuelo de Paula Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Março 2001

     

    Mônica Salmaso Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Janeiro 2001

     

    Eduardo Gudin Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Dezembro 2000

     

    Jotagê Alves Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Maio 2001

     

    Thomas Roth Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Abril 2001

     

    Chico César Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Fevereiro 2001

     

    Nei Lopes Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Janeiro 2001

     

    Vicente Barreto Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Março 2001

     

    Renato Braz Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Fevereiro 2001

     

    Rita Ribeiro Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Novembro 2000

     

    Arrigo Barnabé Fotos do Programa MPBSempre Rádio USP Outubro 2000

     

    Cid Campos, Ademir Assunção, Beto Ruschel - Fotos do programa MPBSempre Rádio USP

     

    Ná Ozzetti Fotos do programa MPBSempre Rádio USP 11/2000

     

    Choronas (Rosana e Ana Claudia) e Luis Nassif - Fotos do programa MPBSempre Rádio USP 11/2000

     

    Choronas (Gabriela e Roseli) e Luis Nassif - Fotos do programa MPBSempre Rádio USP 11/2000

    • Baita achado, Marcos

      E vemos aí um jovem jornalista e bandolinista bastante conhecido por nós. Obrigado e um abraço.

      • "Família Nassif" musical

        Coincidentemente (ou não), creio que todos tem relação com o ele. Deles o Luis é amigo, parceiro, fã ou padrinho.

        As fotos foram feitas por mim, tive a honra de participar desse grupo.

         

      • Sarau com Suzana Salles, Chico Saraiva e Dante Ozzetti

        Sarau com Suzana Salles, Chico Saraiva e Dante Ozzetti. (Rádio USP, junho de 2001)

  • Rui, nao tem transmissao na

    Rui, nao tem transmissao na internet?!  Eu escuto exclusivamente o listenarabic.com.  Praticamente so isso.  Nao tenho acesso a radios desde que a Apple assassinou o campo todo deixando de incluir links e o "radio" que era imbutido antes.  (Todas as radios do mundo praticamente desapareceram desde entao.)

    Tem ou nao tem?

  • Faltou mencionar o impagável

    Faltou mencionar o impagável programa Rádio Matraca, com Laert Sarrumor....

    • Verdade, Afonso

      Inovadores. Muito antes que Pânicos e quetais. Acho que continua aos sábados, 5 da tarde. Abraço.

      • Rádio Matraca

        Sim, Rui, a Rádio Matraca continua aos sábados, às 17:00h.

        No ar desde 1985, é produzida e apresentada por este Laert Sarrumor, Ayrton Mugnaini Jr. e Alcione Sanna, com muita música, curiosidades e bom humor. 

        Em 2008 ganhou o prêmio APCA como melhor programa humorístico de rádio.

        Abraço.

  • todas as musicas....

    Nada tem haver com a matéria nem com a ótima USP mas abusando do face caboclo, não poderia deixar de mencionar que Apagão Total de energia elétrica em Sorocaba e toda região ontem e hoje por mais de 10 horas não deu nem noticia na imprensa. Seria o medo de revelar os resultados de anos de privatização em época de eleições? Abs.

    • Zé Sérgio,

      soube do fato apenas por que um cliente de Piedade me informou. Não é de se duvidar que sua hipótese esteja correta. Abraço.

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