Augusto Martins acaba de lançar “Felizes Trópicos” (Fina Flor), seu quinto CD. Que ele é um ótimo cantor eu não tinha a menor dúvida, desde que ouvi “No Meio da Banda”, alguns anos atrás.
À época escrevi: “Grata surpresa na praça: Augusto Martins! Este novato cantor carioca acaba de lançar seu CD ‘No Meio da Banda’, pela gravadora Fina Flor. O moço nasceu para a música, embora só atentasse para isso após cursar medicina na Universidade Federal Fluminense. Mas logo ele percebeu que a música dizia mais a seu coração do que os compêndios médicos. Foi seu pai que fez chegar a ele as vozes de Dolores Duran e Silvio Caldas e o trompete de Louis Armstrong. Esse é Augusto Martins, um cantor de voz personalíssima, timbre agradável, bom sambista, cujas divisões rítmicas lembram as dos que souberam alavancar o cantar do samba”.
Hoje, sem tirar nem por, volto a saudar o cantar bonito de Augusto Martins. Como se não bastasse sua voz privilegiada, para gravar “Felizes Trópicos” ele juntou-se a Humberto Araújo (produtor do disco). Junto com este grande saxofonista e arranjador, veio a sua Orquestra Criôla, ela que é hoje uma referência na cena musical carioca.
Além do admirável apoio da Criôla, Augusto homenageia João Donato. E é com o piano tocado pelo mestre que ele divide a faixa “Enquanto a Gente Namora” (João Donato e Thalma de Freitas). A orquestra embala a bossa nova donatiana. O balanço é de não deixar ninguém quieto. O piano de Donato impregna de ritmo a marcação batida no cincerro. A bateria é a de Robertinho Silva. O intermezzo tocado pelos sopros é privilégio de quem segue o dom de arranjar que tem o seu maestro Humberto Araújo.
A faixa mais ensolarada do CD, é também de João Donato, parceria com Joyce Moreno: “No Fundo do Mar”. O refrão espetacular é de fazer levantar da cadeira o camarada mais mal-humorado. O suingue contagia. Augusto repete o refrão e deixa-se contaminar pela alegria que emana da orquestra. Não há como não se deixar envolver. À percussão é dado o direito de se fazer imprescindível. À voz é dada a oportunidade de se dar por inteiro… Sensacional!
O Augusto Martins compositor está presente em seis músicas, sendo cinco com parceiros e uma apenas dele, “Baobá”: o sax inicia com um solo. A letra é delicada, como delicada é a voz de Augusto. O bongô segura o ritmo. O sax volta num intermezzo… Bela música!
Essa alegria, cantada e tocada nas mais várias formas que o samba tem, mescla a modernidade de harmonias com a levada cadenciada que marca o ritmo, e mais naipes que sopram a tradição e improvisam, realçando o poder que tem o gênero. Samba que é a cara de Augusto Martins, que, com seu registro médio de voz exalando doçura, suas finas interpretações e sua sobriedade dispensando afetações e privilegiando a dicção e a afinação, tem tudo para logo se tornar um intérprete destacado da música brasileira.
PS. Paulinho Tapajós, mais um grande compositor que se vai… Descanse em paz, querido amigo.