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A capacidade do governo de influenciar a taxa de juros real

Venho debatendo com alguns colegas que é possível diminuir a taxa de juros nominal em uns 4 pontos percentuais ao ano, para uns 10% ao ano, sem impactos inflacionários significativos. A argumentação contrária é que essa atitude modificaria as expectativas, gerando inflação. Resolvi, dessa forma, identificar se o histórico da economia brasileira permite fazer essa inferência.

Um dos princípios mais controversos da dicotomia entre variáveis nominais e reais da teoria econômica é a ineficácia da política monetária. Esse princípio baseia-se na premissa de que variáveis nominais como os juros nominais não tem a capacidade de influenciar variáveis reais, uma vez que os agentes perceberiam a tentativa de influência e se reajustariam preços, neutralizando a mudança. Em termos coloquiais, caso o Banco Central tentasse diminuir a taxa de juros nominal, geraria inflação, mantendo a taxa de juros real estável[1].

Por estar submetida a critérios científicos, os princípios econômicos devem comprovar-se na prática. Em termos práticos, se houvesse uma diminuição da taxa de juros nominal inesperada, os agentes acelerariam os reajustes de preços, mantendo a taxa de juros real estável. O gráfico abaixo mostra a trajetória da taxa de juros nominal (Selic de 12 meses) e a compara com a taxa de inflação de 12 meses posterior entre janeiro de 1996 e Setembro de 2015 [2].

 

A observação é que a inflação de 12 meses à frente parece mais estável que a taxa nominal de juros (SELIC). Mesmo com quedas bruscas e rápidas da taxa selic nominal, os preços não se aceleraram na mesma magnitude ou mesmo em magnitude proporcional. Mais que isso, aparentemente os dados mostram que a taxa de juros real seguiu a taxa de juros nominal. Um exame mais detalhado pode ser feito comparando-se as duas taxas de juros através de números índices.

 

Novamente, observa-se que nas principais quedas na taxa de juros nominal representam quedas ainda mais acentuadas nas taxas de juros reais. Ou seja, parece bem evidente que a taxa de juros nominal influencia de maneira significativa e permanente a taxa de juros real, sem que a inflação corroa completamente o impulso monetário. Obviamente, o debate acadêmico é um pouco mais complexo, mas os indicativos preliminares são esses.

 

[1] Dados do Ipeadata

[2] Não é possível calcular a taxa de inflação de 12 meses posterior após Setembro de 2015 por não haver dados posteriores a Setembro de 2016.

 

Redação

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