A demagogia de Ernesto Araújo, por Jamil Chade

Jornal GGN – Ao fazer um balanço de sua gestão em 2019, o chanceler Ernesto Araújo voltou a atacar a imprensa e a dizer que a credibilidade do Brasil aumentou sob sua gestão, garantindo que sua diplomacia não era ideológica – o que, em uma estratégia bastante comum, nada mais é do que negar a realidade.

Em seu vídeo, Ernesto pede que se acredite apenas no que é divulgado oficialmente e que não se leia a imprensa – em outras palavras, não busquem saber o que ocorreu nos bastidores e não verifiquem os detalhes.

Em artigo publicado no portal UOL, o jornalista Jamil Chade diz que acessou diversos telegramas confidenciais que deixaram evidente o tom ideológico da política externa de Araújo, com poucos traços de realidade impostos pelos militares e exportadores agrícolas. E que o Brasil se tornou motivo de imensa preocupação.

A realidade é que, em seu balanço anual, Araújo não citou que seu ministério se recusou a dar os detalhes do tratado comercial fechado com a União Europeia, enquanto repetia que o acordo era “histórico” – quando, na verdade, as cotas negociadas para as exportações brasileiras eram abaixo até mesmo dos patamares vistos como “mínimos” por outros governos. Meses depois, os europeus indicaram que haviam levado muito mais do que cedido na negociação com o Brasil.

Araújo também não explicou que a assinatura do tratado não significa que ele foi consolidado. A postura brasileira em temas climáticos assustou os europeus, e vários deputados alertaram que não vão autorizar o tratado comercial nas condições atuais.

Quanto à relação com os Estados Unidos, o chefe da diplomacia do governo Jair Bolsonaro não disse nada sobre o susto com o tweet do presidente norte-americano Donald Trump sobre a imposição de sobretaxa ao aço brasileiro, e nem mesmo sobre a abertura do mercado do trigo para o produto americano em detrimento dos argentinos.

Entre outras coisas, o embaixador também não explicou que as relações com Israel estão estruturadas com um primeiro-ministro indiciado por corrupção, que a aliança na Europa é com o governo acusado de abandonar a democracia e silenciar a imprensa, que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) chegou a colocar o Brasil na lista de suspeitos de violar leis trabalhistas e que o país foi denunciado 37 vezes por violações de direitos humanos.

Ernesto Araújo realmente reposicionou a diplomacia brasileira. E, em uma alusão ao futebol, as sucessivas goleadas sofridas pelo país ao longo do ano são um exemplo claro disso.

Redação

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