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a esfínge que todos temem (em 09/08/2015)

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quais os motivos para setores assumidos como de Esquerda renegarem uma investigação que desvela os laços entre financiamento de campanha e apropriação privada do orçamento público?

se a investigação fosse sobre as privatizações de FHC, a compra de seu segundo mandato e incluísse uma auditoria da dívida interna, a reação seria a mesma? sendo assim, por que o lulismo não promoveu esta investigação quando Lula estava no auge de sua popularidade? por que o lulismo operou para abafar a Satiagraha?

o que incomoda estes setores são mesmo os abusos, seletividade e utilização política da Lava Jato? ou por atingir aquilo que denominam de “nosso governo”?

sendo reveladas as entranhas da corrupção sistêmica, endógena ao capitalismo financeirizado e olipolizante, não são apenas os  gangsters fisiológicos do PMDB e das siglas de aluguel que estão ameaçados. a FIESP e a FIRJAN se manifestam. o presidente do Bradesco dá entrevista. os incendiários caciques do PSDB se convertem em bombeiros. Dilma ressurge no Jornal Nacional. e o Editorial do Globo não deixa dúvida: “vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?”

mas que estabilidade institucional é esta que deve repousar num “ajuste fiscal” cujo principal objetivo é promover desemprego e achatamento salarial?

um “ajuste fiscal” para manter um “grau de investimento” conferido por agências de rating desmoralizadas com a crise de 2008. um “ajuste fiscal” do interesse justamente daqueles oligopólios (banqueiros, empreiteiros, agronegócio, usineiros e rentistas) que são os financiadores das campanhas eleitorais.

todo este súbito, inesperado e urgente clamor emitido pelos setores dominantes, conclamando por “sensatez, maturidade e grandeza”, não advém de qualquer sensatez, maturidade e grandeza em torno de uma agenda de desenvolvimento e muito menos de inclusão social.

o que está em curso não é nenhum bom senso contra piromaníacos. é o velho e anti democrático pacto entre as elites. o que está virando pó é qualquer possibilidade do Brasil se libertar do modelo liberal periférico. mais uma vez se desmascara a aliança maldita entre o lulismo e os oligopólios: a estratégia da conciliação permanente a serviço de um reformismo sem reformas.

todos tem um alvo comum: a Lava Jato cruzou uma linha vermelha.

é do interesse dos setores dominantes a continuidade e o aprofundamento da Lava Jato? qual é o plano? a Lava Jato está mesmo completamente a serviço da “elite golpista”? há um plano? cada qual executa sua parte do plano, do qual são apenas marionetes, enquanto todos se julgam protagonistas?

tendo colocado na prisão presidentes das empreiteiras e um militar do programa nuclear, e se a Lava Jato penetrar no coração das trevas da corrupção sistêmica, passando a investigar também as doações vindas dos banqueiros?

os grandes empreiteiros financiam as campanhas como um investimento cujo retorno se dá por inúmeros favorecimentos em concorrências, aditivos de contratos, superfaturamentos, etc… este mecanismo está agora exposto.

os banqueiros obtém o retorno de seu investimento nas campanhas eleitorais através da Selic,  dos swaps cambiais, do spread bancário e da política econômica voltada para os interesses do mercado financeiro. seus  operadores são o Copom, o BC e o Ministério da Fazenda, fazendo com que 45% do orçamento público se destine ao pagamento de juros.

o limite da investigação em curso na Lava Jato são as contradições intrínsecas do capitalismo: financeirização e oligopolização. a contradição interna da Lava Jato é que sua investigação desemboca na constatação que a corrupção sistêmica é endógena ao capitalismo. e não pode ser corrigida, portanto, pela via policial ou judicial. requer uma solução política.

a contradição dos setores de Esquerda é que o lulismo perdeu por opção a oportunidade e a iniciativa de conduzir a luta política contra os oligopólios. ao contrário, a eles se associou criminosamente, como agora a Lava Jato deixa exposto.

então, não existe, e nunca existiu, nenhum “nosso governo” que se justifique apoiar.

numa investigação conduzida com argúcia todos os envolvidos são paulatinamente desmascarados. mas aquele que é realmente um grande investigador, não se limita simplesmente a isto. sempre dá um passo a frente.  não teme avançar para o momento no qual o investigador, ao se encarar perplexo no espelho, desmascara a si próprio.

para um juiz que ousou revelar sua identificação com um herói das HQ, um Homem Aranha atormentado por conflitos internos, eis sua maior contradição:

“Além disso, a ação judicial não pode substituir a democracia no combate à corrupção.”

Sérgio Moro, “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, 2004

e a esfinge que todos nós tememos é a inexorabilidade de nosso próprio desmascaramento.

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Redação

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