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Afro-brasileiros não são imigrantes: uma mentira institucional

 

Uma propaganda oficial que falseia a história é mentirosa!

 

 

Alguns militantes que se ajeitaram nos ´puxadinhos´ do governo federal, são autores confessos de uma violência institucional contra os compromissos de igualdade de tratamento e de oportunidades devidos pelo estado brasileiros aos descendentes das vítimas da escravidão.

São os mesmos ativistas profissionais que vivem de bolsas de estudos e projetinhos de ONGs financiados pelo racismo ianque a fim de cumprirem o projeto racialista das Fords Foundacion´s ocupando cargos de ´boquinhas´ em órgãos públicos em nome da defesa de cotas raciais que a maioria dos afro-brasileiros repudia, pois equivalentes a ´cotas de humilhação´ violando a dignidade humana dos pretos e pardos com os pleitos de direitos segregados em razão de um falacioso pertencimento racial (cotas raciais).

Esta propaganda do governo federal é mentirosa. Os pretos e pardos brasileiros não são imigrantes! A imigração pressupõe uma opção voluntária de povos em dificuldades no território de origem. Os africanos, sob tortura e violência, foram sequestrados e submetidos por várias gerações à crueldade da violência à dignidade humana que foi o sistema escravocrata em que humanos, desde criança, eram tratados como peças disponíveis e comercializadas como se parte de rebanhos.

Não se forja um povo, com mentiras oficiais. Essa propaganda oficial, em pleno 2015, representa a insensível expressão do pensamento oficial. Mais uma vez é um engodo: não, não somos imigrantes! Somos brasileiros herdeiros de uma história perversa.

Mais grave ainda que este atentado e falta de respeito à história visa desinformar, confundir e negacear compromissos internacionais, tal como o da ´Década Internacional de Afrodescendentes´, instituída pela Assembleia Geral, da ONU, por meio da Resolução n. 68/237, de 23 de dezembro de 2013, proclamou a Década Internacional de Afrodescendentes, com início em 1º de janeiro de 2015 e fim em 31 de dezembro de 2024, com o tema: “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”.

Diz os propósitos da Resolução das Nações Unidas: “O principal objetivo da Década Internacional consiste em promover o respeito, a proteção e a realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de afrodescendentes, como reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Década será uma oportunidade para se reconhecer a contribuição significativa feita pelos afrodescendentes às nossas sociedades, bem como propor medidas concretas para promover sua inclusão total e combater todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e qualquer tipo de intolerância relacionada.” –  http://www.un.org/en/events/ africandescentdecade/

Não se edifica reconhecimento, justiça e desenvolvimento com mentiras. Não se combate a xenofobia falseando a história.

Os pretos e pardos brasileiros são os descendentes de africanos vítimas do maior crime de lesa-humanidade de todos os tempos conforme já declarado pela ONU, pelo Papa João Paulo II, pelo Bispo, pelo Obama, pelo Lula enfim… Os afro-brasileiros são os únicos que nem são nativos nem são imigrantes!

O que precisa ser ensinado aos brasileiros em geral é a verdade histórica pouco ou nada conhecida: o Brasil, desde 1650 a 1888 foi onde mais se praticou a violência do trabalho escravo. Foram trazidos naqueles fétidos navios tumbeiros mais de seis milhões de seres humanos sequestrados e embarcados acorrentados na África, dos quais quatro milhões foram escravizados aqui. Os dois milhões morriam na travessia do Atlântico e eram atirados ao mar. As condições eram absolutamente desumanas:

 

 

A pedagogia estatal deveria ensinar aquela realidade trágica do escravismo que Castro Alves nos legou em ´Navio Negreiro´, onde o poeta nos legou a obra prima do romantismo. Seu cântico inicia narrando a bravura dos marinheiros e a beleza do mar. E avançando, narrava as cenas horrorosas que via de homens, mulheres e crianças pretas, dançando de acordo com o que ´determinava´ o chicote do Capitão, por puro prazer.

O eu-lírico do poeta, descrevia mais detalhadamente as pessoas daquela triste e horrorosa cena que se repetia todoso os dias da travessia. mulheres nuas de seis suspensos com ar de espanto. Crianças magricelas que imploravam por comida, homens e velhos doloridos atendendo o que ordenava o chicote. O poeta a tudo descreve. Até os marinheiros capazes de risos enquanto enredava o cruel evento. E que tal inferno se repetia às dezenas, todos os dias, todos os meses, todos os anos, todo o século e foram quase quatro centúrias. Quase meio milênio.

O crime, reiterado era bárbaro. Sem precedentes na história pela longevidade e quantidade. Desde o aprisionamento, o sequestro, a travessia e a vida de trabalho estafante imposto ao escravo até a morte, sem esperança sequer de que seus filhos poderiam ser livres, nos revela  doentio sistema degradante e desumano do escravismo. Isso precisa ser contado. Milhões de vezes, por milênios. Sempre.

A realidade era outra que não seja a de felizes imigrantes que tenham voluntariamente deixado a miséria, a escassez e as moléstias de origem na busca da esperança das boas novas e vieram ´fazer a América´.

O estado não se pode desconhecer – nem deixar de ensinar aos brasileiros – que todos os ciclos econômicos de construção da nação, desde o pau-brasil, a cana de açúcar, da mineração e do café, foram edificados com a apropriação criminosa dos frutos do trabalhador escravizado. Que 100% dos trabalhadores até meados do século 19, eram escravos.

Não se pode esconder que a nossa abolição não contemplou nenhuma reparação histórica aos ex-escravos. Nos EUA se fez um programa – a primeira reforma agrária da história – para o início da vida dos libertos. Os EUA receberam 700.000 e hoje representam 13% da população e têm um Presidente. Os afro-brasileiros são 51% da população e são vítimas do racismo institucional que exclui e sonega a igualdade de tratamento e de oportunidades.

A história que precisa ser contada é que em 1888 existiam 2,0 milhões de pretos e pardos no Brasil, dos quais a metade ainda escrava e que, de 1880 a 1920 ingressaram também dois milhões de imigrantes, subsidiados por políticas públicas, cujo papel fundamental, planejado, financiado e implementado foi um projeto de substituição da mão de obra escrava.

Enquanto na América do Norte a imigração foi acolhida para povoar e desenvolver a agricultura, o comércio e a indústria, no Brasil foi destinada, fundamentalmente para atender aos latifundiários que perdiam os únicos trabalhadores existentes. Na mesma virada do século, os EUA receberam 20 milhões de imigrantes que desenvolveram o país.

O combate à xenofobia precisa ser embasado na história verdadeira. A xenofobia que atinge mais aos pretos africanos e haitianos precisa ser combatida com a pedagogia da informação e sensibilização dos brasileiros atuais.

A história precisa ser contada desde a escravidão por três séculos. E que, após a abolição, o Brasil adotou políticas públicas deliberadas de ´branqueamento´ da população, impedindo o ingresso de pessoas de cor (até mesmo chineses) e financiando a fundo perdido o processo migratório europeu.

Florestan Fernandes, nos anos 1960, já diagnosticava com precisão sociológica em ´Raça & Classe´: no Brasil, os pretos e pardos não foram excluídos das oportunidades em razão da ´raça´, conforme afirmam os defensores de cotas raciais. Os afro-brasileiros foram e são excluídos por serem os descendentes de escravos.

Essa verdade sociológica precisa ser contada e exige que seja reparada. Assim como os familiares e descendentes das vítimas da repressão do regime militar mereceram as indenizatórias reconhecidas, também os descendentes das vítimas do sistema escravocrata merecem a reparação histórica e ela não é devida em razão da ´raça´, a reparação é devida em razão da escravidão em si e de seus efeitos colaterais que ainda perduram.

E, como condição para isso, é preciso ensinar a verdadeira história aos brasileiros em especial aos filhos da imigração beneficiária da substituição da mão de obra escrava que a desconhece: o Brasil foi o maior país explorador do cruel sistema escravista de todos os tempos. Como disse Rui Barbosa: “uma mácula que jamais será apagada de nossa história”. 

Essa história, edificada sobre milhões de cadáveres, mantida sob torturas, há de nos indignar e não pode ser contada pelo governo federal como se fruto de uma historinha ´cor de rosa´.

 

Ministério da Justiça

Há cinco séculos, imigrantes de todas as partes do mundo ajudam a construir nosso país. 
Participe: www.eutambemsouimigrante.com.br

‪#‎EuTambémSouImigrante‬ ‪#‎XenofobiaNãoCombina‬

 

Redação

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