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Ata do Copom mostra as apostas do Banco Central

Quem se der ao trabalho de ler a longa ata da última reunião do Copom, onde se decidiu por uma nova etapa de corte de 0,5% na taxa Selic, vai encontrar todas as evidências de que esse rebaixamento dos juros vai prosseguir com muito mais rapidez do que esperava o mercado.
E ninguém poderá se dizer, como quando começou esta série de cortes, supreendido por estas baixas nos juros.

Diz o Copom que “o processo de moderação em que se encontrava a economia brasileira foi potencializado pela fragilidade da economia global”.

Tradução: a redução do ritmo econômico induzida com a elevação das taxas desde dezembro de 2010 ficou forte demais com a crise e precisa ser revertida através de estímulos à atividade econômica.

O Banco Central também sinaliza que, apesar da crise externa, não pretende ampliar mais, senão residualmente, as reservas brasileiras em dólar, que cresceram perto de 20% em 2011.Ou seja, que considera ter munição suficiente para, no caso de ter de “brigar” com o mercado por cotação da moeda americana, na hipótese improvável de que um agravamento da crise externa pressione o câmbio. Na verdade, o BC torce por um avanço moderado na cotação, difícil de acontecer nas condições de excesso de liquidez internacional.

De outro lado, sinaliza que o Governo manterá a política de austeridade, esperando um superavit primário igual ao de 2011, o que implicará um ligeiro aumento da participação do Governo Central neste total, uma vez que não se deve esperar que o mesmo ocorra com Estados e Municípios. Mas a redução da conta de juros deverá ser suficiente para isso, mesmo com a política de recompra de títulos que o Tesouro vem exercendo.

O BC, porém, joga água fria na fervura de quem espera que o BNDES alavanque mais crédito, ao afirmar que “considera oportuna a introdução de iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito.”
A visão da autoridade monetária é a de que serão o crédito (favorecido, embora com atraso, pela redução da Selic) e o consumo internos os responsável pelo reaquecimento da economia:

(…)a expansão da oferta de crédito tende a persistir tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas; e no fato de a confiança de consumidores, a despeito de acomodação na margem, encontrar-se em níveis elevados. O Comitê entende, adicionalmente, que a atividade doméstica continuará a ser favorecida pelas transferências públicas, bem como pelo vigor do mercado de trabalho, que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em crescimento dos salários, apesar de certa acomodação na margem.”

Na sua decisão, o BC provoca o mercado a fazer – o que já fez hoje – caírem as previsões de taxa de juros que norteiam seus padrões de fixação das taxas cobradas pelo crédito, ao estimar para o final de 2012, num patamar ligeiramente menor que a Selic (menos 0,22%) as taxas de juros no mercado de “swap” (troca) de CDBs.
E, mesmo afirmando que toma a decisão de baixar a taxa Selic sem apontar-lhe viés de baixa – o que já é evidente – deixa claro que a queda será maior do que os 10,25% em que apostavam os investidores para o final de 2012:

“(…)neste momento, o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito.”

Mais viés, impossível.

Por: Fernando Brito

Redação

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