Atividades em comemoração à Consciência Negra são boas oportunidades educativas

Por Julia Dietrich, do Centro de Referências em Educação Integral

Tamanho é o significado da data, que todas as cidades do Mundial de Educação estão desenvolvendo ações especiais para comemorar a Consciência Negra no Brasil. Embora o feriado – municipal em várias cidades do país -, tenha acontecido ontem (20/11), todo o mês de novembro é considerado como o mês de demarcação das conquistas e das causas do movimento negro no Brasil.

Fundamental nas aulas de história e geografia, a Consciência Negra pode suscitar importantes discussões nos mais variados campos do conhecimento. Um exemplo são as exposições culturais de artes plásticas, esporte e dança que acontecerão emFortaleza (CE). Entre as atividades, haverá uma roda de capoeira – manifestação cultural estruturante da cultura negra no país. Professores de educação física podem tomar a oportunidade para discutir como a capoeira se constrói como esporte no Brasil e sua importância tanto para o desenvolvimento físico e de saúde do indivíduo, bem como sua relação na resistência dos negros durante o período de escravidão. EmPorto Alegre (RS), o tema também se apresenta no 2º Encontro da Consciência Negra no museu da comunicação: além da capoeira, serão feitas discussões sobre danças e poesias afrobrasileiras e sobre os espaços da cidade que refletem a história do negro.

Da mesma forma, professores do Rio de Janeiro (RJ) podem aproveitar a exposição “Deusas Negras“, entre outras ações da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Na atividade em questão, é possível discutir a construção do imaginário social em relação à mulher negra e do debate de gênero associado à questão. A partir das obras, que exaltam as mulheres negras, é possível provocar os estudantes a pensar sobre como a mulher – em especial a mulher negra -, é retratada pela mídia, publicidade e telenovelas.

Em São Paulo (SP), professores podem aproveitar as oficinas de literatura africanaque serão promovidas nas Fábricas de Cultura por toda a cidade. Além de gratuitas, as atividades oferecem uma mediação importante com oficineiros que, embora de fora da unidade escolar, podem contribuir com a aprendizagem dos estudantes. A partir do estudo das obras, os alunos podem refletir sobre o contexto histórico em que foram escritas e refletir  – como em toda obra literária -, sobre os grandes temas da humanidade, representados nas vozes de escritores do continente que tanto dialoga com o Brasil.

Já em Brasília (DF), figuram atividades que discutem o negro e a contemporaneidade, como o empreendedorismo afro-brasileiro e as novas mídias focadas na questão. A partir das exposições, os educadores podem problematizar como se dá a inserção do negro na sociedade atual, quais políticas públicas efetivamente respondem ao público e quais necessidades ainda são pautadas pelos respectivos movimentos sociais.

Ainda que indiretamente relacionada com o tema, aexposição da releitura das obras de Portinari por crianças é uma boa opção para os professores de Cuiabá (MT). Considerado um dos grandes mestres brasileiros, Portinari foi um dos primeiros pintores a tomar o negro brasileiro como personagem central de suas obras, refletindo não apenas sobre sua condição social, mas sobre sua beleza e riqueza cultural.

Também relacionada com o tema está a exposição “Uma parte de Nós”, em Natal(RN). Nela, um coletivo de artistas visuais busca refletir sobre personagens e cenários contemporâneos a partir de suas próprias trajetórias de vida. A partir da visita, professores podem provocar que estudantes reflitam sobre sua imagem, como ela é vista pelo outro e vice e versa. A partir da leitura lírica das obras, crianças e adolescentes podem ser estimulados a refletir sobre alteridade e preconceito.

Uma dica para atividades interdisciplinares em relação ao tema é o trabalho desenvolvido pela escola Escola Municipal Herbert Roses, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Intitulada de “Qual é a graça” e criada por um professor de biologia, a atividade reúne estudantes para discutir a questão do preconceito a partir de diferentes campos do saber – das ciências naturais à história, artes e geografia.

Ainda na perspectiva de grandes artistas, em Recife (PE), professores podem discutir como o negro era apresentado por importantes pintores do século 20 na exposição “Raridades“. Além da representação na imagem, os artistas discutem também a construção social do Brasil e refletem sobre o uso de cores que representam as diferentes culturas no país. Muito rica, a exposição pode fomentar inúmeros debates a partir da arte.

Em Salvador (BA), a sugestão é visitar a mostra “Filhos de Nzambi“, que discute a religiosidade brasileira a partir de variadas formas de representações das artes visuais. A exposição destaca as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, que podem estimular importantes debates sobre a formação da religiosidade brasileira a partir da vinda do povo africano. Os estudantes podem ser convidados a pensar sobre o tema da intolerância religiosa e sobre como eles – como cidadãos -, podem pensar formas de combatê-la.

Já em Curitiba (PR) há possibilidades de discutir todos os temas apresentados levando os estudantes a pensarem sobre a construção de políticas públicas que respondam às questões pautadas pelo movimento negro no Brasil. Em variadas atividades promovidas pela prefeitura do município, professores podem estimular a discussão entre os estudantes. Vale lembrar o tema da recente suspensão do Supremo Tribunal Federal (STF) do dia 20 como feriado municipal em função de pressão apresentada pelos comerciários locais, alegando que os mesmos seriam prejudicados pelo dia não trabalhado.

Por fim, para os professores de Manaus (AM), a dica é a exposição “Peixe e Gente”, do Museu da Amazônia (MUSA), que retrata a vida e cultura cotidianas dos índios do Alto do Rio Negro. A partir da visita, os educadores podem estimular que os estudantes reflitam sobre a data da Consciência Negra em paralelo com a discussão de valorização da cultura indígena, pauta presente e constante no respectivo movimento social.

Redação

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