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Brasil em Transe: a faca e o queijo, e a mão?

“Aos amigos, tudo. Aos indiferentes, a Lei. Aos inimigos, a tortura.”

sempre dito e repetido, dentro e fora dos quartéis, durante a Ditadura Civil-Militar (1964/1989).

o fim no Brasil do pacto da Nova República coincide com um realinhamento global do sistema de poder, num contexto de acirramento de crises econômicas.

neste perigoso e conturbado teatro de operações, os Generais tem uma guerra impossível pela frente.

o desempenho demonstrado na intervenção na segurança pública do RJ mostra o tamanho de seu despreparo para gerir a complexidade de um Brasil em escombros.

segundo o General interventor, todos os indicadores estão com viés de queda e a capacidade operacional dos órgãos de segurança foi recuperada, incluindo os valores.      

baseando-se exclusivamente em estatísticas convenientes e análises simpáticas, o General interventor orgulhosamente declara: “cumprimos nossa missão”.

como sempre, o deserto do real não cabe na bolha da burocracia tecnocrática.

a recente mega-operação contra a milícia foi um fiasco. mesmo envolvendo 1.700 homens, dos 118 mandados de prisão apenas 27 foram cumpridos. o principal alvo, o líder da milícia local, conseguiu fugir. houve vazamento de informação.

missão dada, missão cumprida?

a realidade do dia a dia no varejo teima, ainda mesmo por agora e à luz do meio-dia, em contrariar o “viés de queda dos indicadores” apresentado pelo General interventor.

como poderia comentar, com lucidez e ousadia, o terceiro ditador do “MR-64” (Movimento Revolucionário de 31-MAR-1964): “Os indicadores vão bem, mas a segurança vai mal”.

os Generais não poderiam hoje deixar de acrescentar: economia e povo vão mal. ao que nosotros retrucaríamos: mas se o povo vai mal, a economia de modo algum pode estar indo bem.

num diagnóstico correto, os Generais veem um Brasil à deriva e sem projeto para o futuro. ao que nosotros mais uma vez retrucaríamos: e qual Brasil projetam os Generais?

entre 1964 e 1968 os Generais adotaram uma política econômica recessiva. antes que a instabilidade resultante se tornasse incontrolável, Delfim fez a manjada mágica keynesiana do Milagre Econômico.

o bolo cresceu. ainda assim, nunca chegou a ser dividido antes de solar. sempre quem pagou a conta foram os trabalhadores.

agora vivemos inexoravelmente num outro mundo: não haverá retorno. nem aos supostos anos dourados do Lulismo. e muito menos ao milagre fake do “Brasil Grande”.

se já não há mais viabilidade para qualquer terapia heterodoxa keynesiana, menos ainda quanto a um choque ultraliberal austericida.

enquanto Bolsonaro bate continência à ordem de um Imperium em decomposição, a macro-economia global jaz em profunda disfuncionalidade, com a mãe de todas as bolhas dando sinais de estar prestes a outra vez catastroficamente estourar.

por toda parte a Nova Ordem Mundial redundou numa desordenada fragmentação global. mas ao caos, o Imperium propõe nada mais do que ainda mais caos: “Hoje os Estados-Nação devem estar dispostos a abrir mão de sua soberania”.

muito mais do que pelo voto anti-PT, Bolsonaro foi eleito por uma profunda e generalizada rejeição “contra tudo que está aí”. um voto eminentemente anti-sistema.

e o que o sistema tem a oferecer? senão ainda mais endividamento e ainda menos renda, justo para quem demanda medidas urgentes para superar pouca renda e muita dívida…

se a lápide da Nova República é a dupla vitória de Bolsonaro (eleitoral e política), o túmulo do MR-64 foi cavado pela hiper-inflação, por uma faraônica dívida externa e por uma mega desigualdade social.

ironicamente, se foi por causa de uma crise global que os Generais anteriormente começaram a perder a solidez de seu chão,  é no bojo de uma outra crise iminente que marcham de novo ao comando do poder político.

novamente em Brasília, de onde, a rigor, nunca chegaram a sair, os Generais estão com a faca e queijo, mas e a mão?

“Duas batidas fortes e secas na porta da cozinha quebraram o silêncio noturno. Estava sozinho e raramente recebia visitas depois do anoitecer. Tampouco fazia sentido que tivessem batido na porta dos fundos.

Não reconheceu a pessoa. Era um homem de uns quarenta anos, corpulento, com aspecto de militar. Um coronel do Exército, foi a primeira coisa que pensou.

Convidou-o a entrar e se sentar à mesa da cozinha. Quase não trocaram palavras. Os cumprimentos de praxe e pouco mais.

O visitante abriu um notebook e acessou um vídeo que já havia separado. Apareceram três pessoas com uniforme militar e capuz escondendo seus rostos, com os pavilhões pátrios como pano de fundo.

Liam uma proclamação na qual ameaçavam juízes e promotores pelos processos que levaram à prisão oficiais por violações dos direitos humanos durante a ditadura, e anunciavam que providenciariam a libertação de seus “presos políticos”.

Depois da exibição, o homem fechou o computador, se levantou, saudou-o e saiu pela mesma porta, que permanecera aberta.

Foi dormir sem dizer nada a ninguém. Mas é provável que tenha entendido a mensagem e agido em silêncio.

Sobre o caso das ameaças divulgadas no vídeo já havia uma investigação em curso. Acabou sendo arquivada. A advertência dos militares mais conservadores que acabou ficando só nisso.

E continuou a receber em sua casa no sítio ainda mais visitas do que antes.”

“Uma Ovelha Negra no Poder. Confissões e Intimidades de Pepe Mujica”, Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz

vídeo: A Facada no Mito – Uma visão sobre o atentado a Jair Bolsonaro

vídeo: ADÉLIO BISPO FAZENDO RECONHECIMENTO DA AÉREA ANTES DO ATAQUE

vídeo: Bolsonaro Lava Roupa ao som do Funk do Xixi

[video: https://www.youtube.com/watch?v=C_bW1PbseiY

vídeo: Capitão Nascimento X Capitão Bolsonaro

[video: https://www.youtube.com/watch?v=oG1R3kpMvNc

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Redação

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