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CHRISTOPHER HITCHENS: DEUS NÃO É GRANDE E NÃO EXISTE.

Christopher Hitchens vê com muito ceptiscismo o futuro do Oriente Médio…

“Um futuro conflito entre Israel e Irãn é algo inevitável”

O polêmico colunista britânico Christopher Hitchens, em uma entrevista exclusiva a snc em espanhól, declara que o atual conflito entre Israel e a guerrilha dos Hezbolá é sómente a antecipação de um acontecimento consumado: a guerra entre o Estado judío e a República Islâmica dos Ayatolás.

entrevista e fotos: ©snc/ Miguel Otero

snc em português: Arlete F. Kaufmann

PARATI (BRASIL) 12.08.06. Christopher Hitchens é um provocador nato. Sempre gostou de ir contra a corrente maioritária e quem sabe por isto que deixou de ser um intelectual de esquerda.Alegou que há tantas pessoas como êle que decidiu mudar de lado. Como agora todo mundo se dedica a criticar a Busch, ao contrário, êle o defende. Nos anos 60 Hitchens era um trotskista e lutava contra a guerra do Império no Vietnãm, hoje defende a guerra no Iraque e se une ao bando dos neoconservadores da Casa Branca nesta “interminável” guerra entre o Ocidente e o “fascismo islâmico”, como chama êle.

Hitchens tem tantos admiradores como difamadores, mas o que ninguém pode negar é sua mordacidade intelectual e seu talento como jornalista. Considerado para o Jornal “The Observer” o melhor ensaísta que produziu a Inglaterra desde a morte de George Orwell, suas refinadas e argumentadas críticas colocou em evidêcia a personagens como Henry Kissinger, Bill Clinton, Madre Teresa de Calcutá, Lady Diana e George W.Bush.

Este intelectual belicoso de 57 anos de idade, com residência em Washington D.C. e declaradamente radical, está agora imerso em uma guerra fratricida contra todo o tipo de visão teocrática da vida, venha esta de onde vier. Para êle, a utopia já não é uma sociedade socialista, senão uma sociedade secular.Daí vem precisamente seu próximo livro: “God is not Great” (Deus não é grande), que segundo declara o próprio autor não é sómente uma crítica ao Islãm. ” É uma obra contra a crença em Deus em geral”, disse. Hitchens é um crítico que nunca tem medo de dizer o que pensa e seus artígos no “Daily Mirror”, e na revista “Vanity Fair” ou no portal virtual “Slate” assim acreditam nele. Autêntico franco-atirador com pena de escritor, Hitchens é um daqueles que seguem lutando para que o jornalismo seja esta arte dedicada a encontrar e contar a verdade.

As críticas deste inglês excêntrico são sempre pulsantes, mas sua personalidade é toda contrária. Estamos na Festa Literária de Paraty, uma localidade preciosa da costa do Brasil, e este “monstro” das letras, que acaba de ter um agitado debate com Fernando Gabeira do Partido Verde do Brasil, se converte de repente em uma pessoa amável e passivo que sorri ao interlocutor e lhe manda sentar-se para ter uma conversação mais tranquila e distendida. Faz muito calor. O polêmico escritor está banhado de suor, bebe sua inseparável cachaça (Hitchens é destes intelectuais que bebem e fumam muito) e começamos a entrevista.

Além de ser um jornalista que esteve várias vêzes na linha de fogo, também é um intelectual que se interessa muito pela literatura. Você acredita que a reportagem jornalística pode chegar a ser uma obra literária?

Hitchens: Eu creio que sim, mas é também algo que estou indagando. Na história houve poucos exemplos que hajam conseguido isto. Quem sabe o melhor exemplo seja o livro ” Homenagem a Catalunia” de George Orwell. Uma obra magnífica. Um livro muito bem escrito que ao final demosntrou dizer a verdade. Agora temos acesso a documentos do bando republicano na Guerra Civil espanhola e do Partido Comunista da União Soviética e podemos dizer com toda a segurança que foi verdade que o Partido Comunista persseguiu aos milicianos do POUM (Partido Obreiro da União Marxista) e que em Barcelona houve uma guerra entre as diferentes facções que formavam o bando republicano.

Então, você crê que o jornalismo pode ser objetivo? Porque a mim o que me ensinaram na faculdade de jornalismo é que a objetividade é impossível no jornalismo?

Hitchens: Isto é verdade, mas também é um clichê, é dizer, é uma tautología, uma verdade absoluta. Claro que o jornalismo não pode ser 100% objetivo, mas esta não é a questão. O importante é a luta por apresentar os feitos com objetividade. Se isto é desejável e possível? Eu creio que sim. É desejável ….e é possível.

Passamos agora já mais aos acontecimentos que estão sucedendo na atualidade. Você crê que Israel e os Hezbolá vão respeitar o cessar fogo aprovado na última resolução das Nações Unidas?

Hitchens: Duvido muito. As duas partes não estão totalmente satisfeitas com esta resolução.

Acredita então que se vai intensificar o conflito? Que vai haver uma escalada da violência?

Hitchens: Com toda a certeza. Realmente esta guerra é sómente a antecipação da verdadeira guerra entre Israel e Irãn. Um futuro conflito entre Israel e Irã é algo inevitável. Isto é somente um jogo de crianças em comparação com que está por chegar.

Pode ser então o início da terceira guerra mundial como predizem muitos?

Hitchens: Pode ser. Está claro que Irãn já se encontra incontrolável. No tema de energia nuclear já não escutam as pressões dos Estados Unidos, tampouco fazem caso da União Européia e muito menos seguem os Conselhos das Nações Unidas. Os Ayatolás tem um discurso apocalíptico e mesiânico. Para êles esta é uma guerra santa entre os fiéis a Mahoma e os infiéis. Esta gente é muito perigosa. E por isto que eu não quero que tenham armas nucleares.

Mas por outro lado também temos o mesmo discurso. Os evangelistas radicais dos Estados Unidos, apadrinhados por personagens como Billy Graham e com muita influência na Casa BranCa, também falam de que estamos perto do Apocalípses e do Juízo Final.

Hitchens: Sim, mas esta gente tem cada vez menos influência.Conheço bem os evangelistas. Eu os ataquei toda a minha vida e os continuarei atacando.

Não acredita que sua belicosidade contra o Islãm, em geral, e contra o fundamentalismo islâmico, em particular, ajude alienar também mais a comunidade muçulmana, sobre tudo em seu país: Inglaterra?

Hitchens: Eu não obrigo a ninguém a atuar de determinada maneira. Cada um é livre para pensar e atuar como êle quer. Eu diria que a palavra “alienar” não é mais adequada. Eu não quero alienar os muçulmanos, quero eliminá-los.

O colunista inglês é daqueles que não tem papas na língua…

Então não estalece diferenças entre muçulmanos radicais e muçulmanos moderados?

Hitchens: Não. Esta não é minha tarefa, é um trabalho dos próprios mulçulmanos. Ao final uns apoiam aos outros. Eu não ví a nenhum íman criticar abertamente a queima de sinagoga ou a queima de templos cristãos por parte dos muçulmanos radicais.

Então, para você está claro que vai haver um conflito étnico-religioso na Grã-Bretanha?

Hitchens: Com toda a segurança. Não sómente na Grão Bretanha. Em todo o mundo. Isto começou tudo em 1989 quando Salman Rushdie escreveu “Os Versos Satânicos” e os muçulmanos começaram a persegui-lo e a colocar preço por sua cabeça.

Você defende a tese de Huntington do ” Choque de Civilizações”?

Hitchens: Este não é um choque de civilizações. Este é um choque sobre o conceito de civilização. O problema é que os muçulmanos moderados são reféns de seus próprios radicais.

Mas, você não acredita que algum dia Bin Laden vai ser estudado como um herói que lutou contra o malvado Império como fizeram com Conan “O Bárbaro” e o Rei Arthur contra o Império Romano?

Hitchens: Isto já está acontecendo hoje em dia com a esqueda. Os intelectuais de esquerda admiram a Bin Laden. A revista “New Left Review” recopilou todos os textos de Bin Laden e os já publicou. Bin Laden se converteu no novo Che Guevara. Justamente por isto já não estou com esta gente.

Você se declara também hoje um materialista histórico, segue sendo também de esquerda?

Hitchens: Eu já não tenho alianças políticas. Mas sim que está claro que eu penso como um marxista. Eu aprendi muito de Marx. O triste é que as pessoas se esqueceram dos postulados de Marx, sobre tudo no tema da luta contra as religiões.

Falando em religião, porque acreditam que o continente americano é mais religioso que o europeu?

Hitchens: A resposta a esta pergunta é fácil. Porque neste continente há muitos mais pobres e a pobreza e a desesperação levam a gente apegar-se a esperança da fé. É muito difícil ser ateu em uma região pobre.

Mas este argumento não valería para os Estados Unidos. Alí as pessoas não são pobres e segue sendo profundamente religiosa. Não será que a Europa depois de tantas guerras por religiões se deu conta que para solucionar seus problemas políticos é melhor deixar a religião de lado?

Hitchens: Isto pode ser verdade. Sim. Mas no momento o único país que soube separar a Religião e o Estado foi o Estados Unidos.

Sobre o papel, mas não na prática?

Hitchens: Também na prática. Este ano teve três sentenças dos tribunais americanos condenando o uso de simbología religiosa em espaços públicos.

Hitchens teve que largar mão da Cachaça para resistir ao calor do Brasil…

Bem, para finalizar nossa pequena conversa eu gostaría simplesmente dar-lhes alguns nomes e alguns conceitos e pedir-lhe que responda prontamente.

Hitchens: Está bem.

1. Chavez?

Hitchens: Perón.

2. China?

Hitchens: Perigoso, os chineses tem um complexo de superioridade e um complexo de inferioridade e isto é muito perigoso.

3. Irãn com armas nucleares?

Hitchens: Já disse. Extremamente perigoso.

4. O novo evangelismo estadounidense?

Hitchens: Um lixo.

5. A União Européia?

Hitchens: Demasiado nova para poder falar.

6. O Fórum Social Mundial?

Hitchens: Não conheço, não sei o que é.

7. A Biogenética?

Hitchens: Todavia estou estudando este tema, mas creio que é a coisa mais esperançosa que temos.

8. O desastre do Iraque?

Hitchens: É um tema amargo, mas eu sigo defendendo a invasão. Creio que temos que enfrentar o terror com o uso da força. Sómente assim poderemos ganhar esta guerra.

9. A Suiça?

Hitchens: Não tenho muito o que dizer. Os suiços não são uma nação, são uma classe.

10. As Nações Unidas?

Hitchens: O bom da guerra do Iraque foi que se descobriu que a ONU é um organismo corrupto, ineficiente e cínico. É hora de criar-se outro sistema de segurança internacional

Redação

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