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Crise:A Europa à Beira do Colapso Financeiro

Depois do fiasco da cúpula de Bruxelas 
A Europa à beira do colapso financeiro

Terminada a Segunda Grande Guerra, as nações vencedoras do conflito trataram logo de espoliar por completo a Alemanha, como fizeram depois da Primeira Guerra

19 de dezembro de 2011

 

 

Terminada a Segunda Grande Guerra, as nações vencedoras do conflito trataram logo de espoliar por completo a Alemanha, como fizeram depois da Primeira Guerra. Mas, em vez de um Tratado de Versalhes, que submeteu a Alemanha à humilhação internacional, elaborou-se um plano que, se por um lado não privavam do espólio de guerra os vencedores, por outro dava aos alemães o acesso às zonas produtoras de minério do Vale do Ruhr.

Essa região esteve em disputa durante as duas Grandes Guerras e também durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870. Dali se extraem o carvão e o ferro, minérios vitais para a produção siderúrgica. Se o Tratado de Versalhes procurou barrar o acesso alemão ao Vale, para que o país não voltasse a fabricar armamento de guerra, o Plano Schuman, de 1950, procurava supostamente evitar que o revanchismo e a humilhação desencadeasse futuramente uma nova guerra.

Não foi, contudo, por benevolência que se elaborou o Plano. O capital norte-americano penetrava na Europa em grande quantidade e caminhava para dominar a economia do continente. Antigos inimigos, a França e a Alemanha, uniram-se para salvaguardar os interesses do capitalismo europeu. O Plano Schuman criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que foi o embrião da União Europeia (UE).

A UE também surgiu para proteger a economia europeia dos interesses norte-americanos. Foi um avanço radical em relação aos projetos anteriores.

Hoje, a UE comporta 27 Estados, dos 49 existentes. Ao ser criada, a União Europeia adotou determinadas medidas para viabilizar o seu sucesso, como o espaço Schengen, que permitiria a livre locomoção de pessoas no continente, e a criação de uma moeda única, o Euro. Essas duas medidas tendem a desaparecer. As crises atuais confirmam a tese marxista de uma Europa capitalista unificada é impossível.

Com a crise política no Norte da África, muitos africanos fugiram para a Itália. Governos de outros países, como o da França, não querem receber africanos emigrados. A crise econômica, que vem se alastrando na Europa, reduziu os postos de trabalho e a chegada de africanos implica uma concorrência maior ainda por esses postos. A direita aproveita-se da situação acenando com projetos xenófobos (como ocorreu na Itália, na França e na Bélgica).

Quanto ao Euro, para que sobreviva, será necessário medidas de extrema austeridade em quadro de décadas de sistemático rebaixamento das condições de vida da classe operária daquele continente.. Desde Margareth Thatcher, não apenas o Reino Unido, mas toda a Europa vem, paulatinamente, voltando-se para uma economia cada vez mais neoliberal e atacando as conquistas sociais das massas obtidas com a mobilização evolucionária após a II Guerra. O Estado de bem-estar social acabou. O próximo passo é terminar também com as garantias constitucionais ainda existentes.

No entanto, o caminho para isso não será fácil. Primeiro, devido à enorme resistência das massas operárias e populares.. A crise grega e o fracasso do plano grego estabeleceram um limite que somente pode ser ultrapassado com uma profunda mudança na relação de forças entre a burguesia e a classe operária. Em segundo lugar, os conflitos entre os interesses das diferentes burguesias – a UE é a união do capital financeiro, não de toda a burguesia – impede a aplicacão de um plano unitário coerente.

Foi o que mostrou a última cúpula da UE, realizada na semana passada, em Bruxelas, na Bélgica.

O fiasco da Cúpula de Bruxelas  

A principal pauta da Cúpula de Bruxelas era impor aos países participantes da União Europeia uma política fiscal de austeridade. Era, de fato, uma etapa da tentativa progressiva de minar a independência dos países membros, atrelando suas políticas à política maior do grande capital internacional.

Aquilo que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, chamaram de “união de crescimento e estabilidade” era, na verdade, uma política de estagnação industrial, uma vez que todo o interesse por trás desse “crescimento” era garantir que os bancos, justamente os setores parasitários da economia, não saíssem perdendo nessa crise que ora se abate sobre a Europa.

Um dos pontos da Cúpula era que os governos controlassem seus déficits orçamentários ou que chegassem ao superávit. O déficit estrutural não poderia passar de 0,5 por cento do PIB nominal e isso deveria ser incluído nos sistemas judiciários dos países da união Europeia. É um claro atentado contra a autonomia dos países. Mas, antes de mais nada, é preciso notar que há, nessa proposta, um grande problema.

Se o mundo soubesse, dentro dos marcos do capitalismo, como produzir superávit, o mundo não estaria em crise. E, depois, tudo o que a proposta diz é que para conter o déficit orçamentário é preciso conter o déficit orçamentário. É apenas uma tautologia.

Para conter o déficit orçamentário, melhor do que conter os gastos é aumentar a arrecadação. Tirar dinheiro do povo por meio de impostos já não adianta mais. Essa mina se esgotou. Tudo o que se pode fazer é aumentar a produção, o que, por sua vez, incrementaria economia como um todo e amentaria também a arrecadação. Por detrás do fracasso assoma o fantasma da Grécia.

Ocorre que os capitalistas não vão  investir na produção. Investir no mercado financeiro, investir em especulação, emprestar dinheiro a juros exorbitantes, etc., tudo isso dá aos bancos e aos capitalistas em geral rendimentos muito mais fáceis do que se investissem na indústria. Cientes disso, os bancos vêm seguindo essa política nas últimas décadas. O estouro da bolha em 2008 também estabeleceu um limite neste terreno..

A hipertrofia monstruosa da especulação financeira já é, em si, o resultado da crise de superproducão dos anos 70.

Como se sabe, boa parte desses bancos, concentra-se no centro de Londres, numa região conhecida como City. O primeiro ministro do Reino Unido, James Cameron, não admitiria que a City sofresse a ingerência das autoridades monetárias da união Europeia. O Reino Unido cuidou sempre de suas próprias finanças e também de sua moeda; razão pela qual não aderiu à zona do euro. O Reino Unido já foi a nação mais poderosa e centro financeiro do mundo. Era pouco provável que deixasse que seu sistema bancário fosse controlado por outros povos.

Por causa de Cameron, a Cúpula terminou sem acordo. E o problema sem solução. Não sabemos que consequência o desacordo terá, mas o que provocou, em última análise, a cúpula de Bruxelas foi a crise grega.

A crise na Grécia

 

A explicação que se tem dado para a crise na Grécia dificilmente reflete a realidade dos fatos. De acordo com os analistas burgueses, a Grécia, simplesmente, gastou mais dinheiro do que tinha e, hoje, encontra-se incapacitada de pagar as suas dívidas. Ao entrar no “mundo maravilhoso” do Euro, a Grécia, cujo padrão de vida de sua população era baixo, passou a usufruir da riqueza produzida no continente e adquiriu um padrão de vida semelhante ao da Alemanha, embora a produção grega continuasse enormemente inferior à da Alemanha.

Como a Grécia produzisse menos do que gastava, foi obrigada, para manter o padrão de vida do povo, a contrair empréstimos para fechar as suas contas. No decorrer do tempo, a dívida do país aumentava e ele era obrigado a tomar novos empréstimos, cada vez com juros mais altos. À medida que o país se tornava mais endividado, emprestar-lhe dinheiro se tornava mais arriscado; por essa razão, os juros dos empréstimos subiam. Chegaria uma hora em que a Grécia não conseguiria mais pagar suas dívidas e tampouco conseguir novos empréstimos. Nessa hora, o calote seria uma saída para ela.

No entanto, se o calote era uma saída para a Grécia, era um enrosco para a União Europeia, por causa da existência de um Banco Central Europeu. Outra saída era a desvalorização cambial, pois isso diminuiria a dívida pública, não obstante diminuísse também a riqueza do país. Estava também fora de cogitação, por causa do Euro.

A Grécia encontrava-se na mesma situação em que se viu a Argentina no começo da década: endividada e com o câmbio atrelado a outra moeda. O que aconteceu na Argentina nós já sabemos. O que acontecerá com a Grécia pode-se prever.

A União Europeia imporá aos gregos uma solução nos moldes do FMI. A Grécia terá de ajustar suas despesas à sua produção. Até lá, como fará para pagar as suas dívidas com os bancos? Contraindo novos empréstimos, obviamente. Esses empréstimos, porém, não serão voltados para o incremento do parque industrial grego, para a compra de máquinas, para o aumento do nível de emprego. É dinheiro morto, dinheiro que vem dos bancos e vai para os bancos, sem passar pela produção.

Começará então a impor-se um círculo vicioso. O governo está falido; as empresas não terão dinheiro para produzir e, consequentemente, para empregar e pagar fornecedores. Com a produção e o emprego em baixa, a arrecadação do governo também diminui. Estabelece-se uma crise sem solução.

A crise já atinge também outros países, como Portugal, Irlanda e Islândia; e começa a atingir economias mais poderosas como as de Espanha e Itália.

O Banco Central Europeu não terá como cuidar de todos eles. Restará aposentar o Euro e deixar que cada país resolva seus problemas de insolvência. A Cúpula de Bruxelas não encontrou uma solução que agradasse a todos. A resistência do Reino Unido mostra que James Cameron teme comprometer também a Libra. Mas mesmo que todos os líderes europeus entrem em acordo sobre o que fazer, terão de se preocupar com a resistência popular aos planos de austeridade que certamente virão.

Os analistas burgueses costumam dizer que o europeu acostumou-se com um nível de vida pelo qual não pode mais pagar e do qual não está disposto a abrir mão. A verdade, porém, é que terão de abrir mão de um nível de vida pelo qual podem muito bem pagar — e pelo qual já pagaram mais do que deviam —, desde que não fiquem sustentando o capitalismo financeiro internacional.

Banqueiros europeus exigem redução drástica de salário mínimo

Não satisfeitos com os inúmeros planos de austeridade, os agentes dos sanguessugas internacionais (os bancos europeus), o FMI (Fundo Monetário Internacional) , o Banco Central Europeu (BCE) e a Uniao Europeia querem reduzir o valor do salário mínimo dos trabalhadores europeus de vários países.

A pressão para baixar os salários se concentra na Grécia, Espanha e Portugal. A burguesia internacional quer que a Grécia reduza o salário mínimo de 751 euros para 450 euros. Em agosto deste ano, o Banco Central Europeu já havia pedido à Espanha que os salários desvalorizassem em 200 euros. O BCE queria que o salário mínimo espanhol de 641,4 euros para 400 euros.

No mês passado em Lisboa, a exigência feita pelo FMI foi de que o corte dos benefícios de natal e de férias contra os trabalhadores do setor público que tem validade para 2012 e 2013 também fosse feito para os trabalhadores do setor privado.

Na Espanha, o Banco Central Europeu enviou uma carta ao então primeiro-ministro Zapatero chantageando o governo para que baixasse os salários. O BCE dizia que para continuar comprando títulos da dívida espanhola era necessário aplicar medidas de “desvalorização competitiva”, ou seja, baixar o salário mínimo dos salários.

A proposta consistia em reduzir os salários de 751 para 400 retirando dos patrões a obrigação do pagamento da previdência social e para receber o benefício os trabalhadores deveriam pagar a contribuição por conta própria.

Ainda há cortes previstos na aposentadoria e a revogação de um acordo realizado na Grécia entre patrões e sindicatos que garante aumentos salariais regulares. Em 2012 será aplicado um reajuste de 1,7%.

É um aumento ridículo, abaixo da inflação, o que mostra o nível de exploração que a burguesia quer impor aos trabalhadores. Nem mesmo este aumento irrisório ela quer conceder.

Além destes cortes o FMI e demais órgãos imperialistas vão fiscalizar a aplicação dos cortes nas despesas sociais e o andamento do plano de privatizações.

São exigências para impor um regime ainda maior de exploração sobre os trabalhadores europeus que estão sendo obrigados a viver cada vez com menores salários, menos benefícios etc à custa da corja de sanguessugas que são os banqueiros e especuladores internacionais.


Redação

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