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Evolução do Ideb nas séries iniciais é significativa

 

É tanta ênfase nos problemas, que as boas notícias do Ideb para os anos iniciais foram relegados ao segundo plano. Vale lembrar que são considerados uma boa nota índices acima de 6,0 (no caso da leitura, isto já significa proficiência). Em 2005, mais da metade dos alunos da rede municipal (54%) não superava os 3,7 pontos no Ideb. Hoje, nove anos depois, este percentual se reduziu a menos de 1/3: para 16,2%.

A paixão pela má notícia e a compreensão da escola como uma questão puramente intra-muros leva a estas percepções imediatistas. Além de usos demagógicos por interesses os mais variados e distantes de qualquer preocupação sincera com a educação.

Não considerar o cenário socioeconõmico, os complexos processos de identificação e contra-identificação com a escola, o histórico de escolarização da família, os índices diferenciais entre grupos sociais distintos, leva a uma percepção míope de que o ensino é só uma questão de escola boa ou má.  Para o ensino médio, as questões acima e mais outras (como, por exemplo, a expressiva diferença de gênero na adesão ou evasão escolar) são ainda mais relevantes. É preciso complexificar o debate sobre a educação, portanto.

Mas para ficar somente nos índices que foram ignorados em quase toda a divulgação de imprensa, as notícias são bem interessantes, quando nos referimos aos primeiros anos. O índice nacional ficou em 5,2. As escolas municipais são responsáveis por mais de 80% das matrículas. Elas saíram, em 2005, do conceito 3,4, para 4,9, em 2013. Uma evolução de 1,5 pontos percentuais. As escolas privadas apresentaram uma progressão de 0,8 pontos, chegando a 6,7.

Dentre as escolas estaduais (minoria para este nível), o índice chegou a 5.4. Na Rede Federal, o Ideb ficou em 7,0 em média.

Vale um adendo. Do sexto ao nono ano, o índice ainda está em 4,2, saindo de 3,5 em 2005. A média das públicas variou de 3,2 para 4,0 (as estaduais, majoritárias neste nível, tendo saído de 3,3 para 4,0). Só para ter uma ideia, a progressão das privadas é de apenas um ponto percentual neste período. O ensino público percorreu um caminho mais longo.

Há uma evidente melhora nos níveis iniciais. E há uma melhora apenas razoável nos níveis posteriores do ensino fundamental. A educação, portanto, não está estagnada, como faz crer a ênfase nas notícias ruins. De novo, o ritmo de progressão pode não ser o ideal. Mas ele vem se dando, e de forma contínua.

É provável que o país alcance, nos primeiros ciclos, a meta de 6,0 em 2022 – ano do Bicentenário. É possível que demore mais alguns anos para que o mesmo patamar seja atingido entre o 6o e o 9o ano.

A universalização do ensino se completou há menos de 15 anos. Se em mais 15 anos, “universalizarmos” a leitura proficiente para todos os alunos do ensino fundamental, será uma conquista inimaginável há pouco mais de 20 anos (não custa lembrar que, há 30 anos, o Brasil saía da ditadura com mais de 1/4 da população analfabeta). Evidentemente, a boa base repercutirá no ensino médio – hoje o grande desafio. Desde que a discussão seja mais global do que carteira, quadro e salário.

Um outro adendo é necessário, desta vez sobre o ensino médio. O Ideb das particulares era de 5.6 em 2014. E recuou para 5,4, em 2013. O que parece ser motivado pela entrada de novos alunos, com o aumento de renda da população. No entanto, com muito mais dificuldades, e tendo que abrigar muito mais alunos, as públicas tiveram alguma evolução: de 3,1 para 3,4. É aqui o nó górdio da educação brasileira.

Mas vale lembrar também que o desafio do ensino médio muitas vezes é grande mesmo em países desenvolvidos. A evasão nos EUA chega a 12% dos adolescentes negros hiispânicos. Na França, a desigualdade de desempenho entre ricos e pobres, mesmo num país de tradição escolar republicana, assusta os avaliadores. E estamos falando de países ricos. Riquíssimos. Não precisa nem dizer o quanto de dificuldades ainda teresmos pela frente por não ter a mesma riqueza, por sermos uma sociedade profundamente desigual, e ainda estarmos no alvorecer da escolarização universalizada.

O Ideb usa indicadores similares ao Pisa, exame internacional. Os países desenvolvidos obtêm média 3 (a pontuação vai de 1 a 5). O que equivale mais ou menos à média 6, do Ideb. No final dos anos 90, a OCDE criou o Pisa. O Brasil aderiu em 2000. Em 2005, o índice nacional foi criado, trazendo para cá, pela primeira vez, a cultura da avaliação contínua e das metas. Em 2007, foi o ano da primeira meta.

Sobre os problemas na França, ver aqui.

http://www.lemonde.fr/ecole-primaire-et-secondaire/article/2013/12/03/classement-pisa-la-france-championne-des-inegalites-scolaires_3524389_1473688.html

Sobre os problemas nos EUA, principalmente, entre alunos negros e hispânicos, ver aqui

http://www.childtrends.org/?indicators=high-school-dropout-rates

 

Redação

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