Na Alemanha, todos os alunos são obrigados a cursar a Escola Primária (comum ao início de nosso Ensino Fundamental) que vai até a quarta série.
Após esse período, os alunos são divididos entre três tipos de escola, onde cursam as séries equivalentes ao final do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio brasileiros. Essa divisão é feita baseada nas notas dos alunos. Os três tipos de escola são Hauptschule, Realschule e Gymnasium (ginásio).
A duração da vida escolar dos alunos de cada escola varia em até 4 anos, e as opções profissionais desses também é bastante diferente.
Tem turmas até a 9ª ou 10ª série, quando os alunos recebem um diploma de conclusão dessa escola. Com esse diploma, eles podem ingressar em cursos profissionalizantes e ter um determinado número de profissões. Alguns conseguem fazer alguns anos a mais e ter o diploma das próximas escolas.
Os alunos frequentam essa escola até a 10ª ou 11ª série. Ao final também recebem um diploma. Contudo, esse diploma lhe permite um número maior de profissões. Eles também têm a opção de estudar mais um pouco e concluir seus estudos como os estudantes do Gymansium.
Os alunos do Gymnasium estudam até a 13ª série e, ao final, realizam uma prova semelhante ao nosso vestibular, chamada Abitur. A partir da nota dessa prova, os alunos podem entrar na universidade.
Muitos alunos modelo alemães vêm do Vietnã – eles atingem com frequência ótimos resultados. No entanto, a educação rígida tem seu lado sombrio.
Na quarta-feira (2 de fevereiro), na véspera do ano novo asiático, os Tran Chaus festejaram. […] Após a janta, a menina de 10 anos, Bao Chau ajudou a lavar a louça e foi dormir com sua irmã pequena, com quem divide a cama. Sob o lençol, com auxílio da lanterna, ela ainda leu romances juvenis sobre luta de gatos.
Bao Chau significa “tesouro” e sua mãe Anh Ngo não deixa dúvidas de que suas filhas são as coisas mais importantes de sua vida. “Eu dou tudo por uma boa formação para minhas filhas, a qualquer preço” diz ela, “Isso é uma tradição das famílias vietnamitas”. A senhora Ngo está orgulhosa. Há meio ano Bao Chau vai ao ginásio [equivalente ao às quatro últimas séries do ensino fundamental brasileiro e ao ensino médio] Heinrich-Hertz, um dos melhores em toda a Berlim. Em seu último boletim, a menina teve uma média de 1,3 [nota máxima é 1]. Matemática é sua matéria favorita. “Eu gosto de contas e lógicas”, diz Bao Chau, se vira para sua irmã pequena risonha e sinala que ela não deve interromper a conversa.
Estudantes vietnamitas são mais bem sucedidos na Alemanha do que os alemãos
No ginásio dos antigos distritos orientais de Berlim, 15% dos alunos vêm de famílias vietnamitas. Em matemática e ciências naturais a maioria deles vai bem. Por todo o país, 59% dos estudantes vietnamitas estão no ginásio – assim, são mais bem sucedidos do que os alemães (43%). Em comparação com os jovens de origem turca ou italiana, sua média de alunos no ginásio é cinco vezes mais alta.
“Os pais vietnamitas”, diz o pedagogo Olaf Bechling, “são muito conscientes da formação e põem seus filhos sob forte pressão pelo desempenho.” Beuchling fez seu doutorado sobre o sucesso da formação dos estudantes de origem vietnamita, o que descreveu em seu livro “De refugiados a cidadãos alemães”.
Aproximadamente 100 mil vietnamitas vivem na Alemanha. No lado ocidental as crianças dos assim chamados “pessoas do barco”[refugiados que saíram de seus países natais pelo mar e receberam esse apelido por isso] frequentam a escola. Seus pais vêm do sul do Vietnã e foram para a Alemanha após a vitória do norte comunista no final dos anos 70. Os Tran Chaus vêm do norte socialista e seguiram o chamado da antiga Alemanha Oriental. Depois da mudança esses trabalhadores não tinham mais permissão de estada, muitos procuravam uma forma de ganhar a vida fora da legalidade: nos negócios da máfia vietnamita dos cigarros.
Em1993, o governo federal finalmente legalizou o estado dos trabalhadores com contrato. Devido ao problema de idioma, muitos não se mantiveram independentes. […] Eles não participam muito da sociedade alemã – e não têm tempo para aprender alemão. Sua falta de integração se estende ao trabalho, onde a maioria realiza suas atividades em silêncio e a sós.
“Os vietnamitas trabalham duro, mesmo doentes, durante o ano inteiro”, diz Tamara Hentschel da União Reistrommel, que oferece ajuda a famílias vietnamitas. “Também de suas crianças eles exigem trabalho duro – frequentemente como ajudantes nas vendas, mas também na escola. Eles inserem a ideia de que apenas a educação pode lhes proporcionar uma vida melhor. Os filhos veem que os pais se sacrificam e se sentem obrigados a dar um passo além.” […]
O sucesso de crianças vietnamitas refuta a tese de que os pais imigrantes devem se integrar para que o crescimento escolar das crianças ocorra. Sua situação social na maior parte do tempo ruim não provoca nenhum problema para o sucesso escolar das crianças. Muito mais frequente é o sucesso escolar das crianças apesar das situações econômicas desfavoráveis das famílias.
Bao Chau é uma menina ávida por conhecimento e consciente. Seu ritmo semanal segue um plano rígido. Perto das 15 horas, ela vem da escola. Nas tardes de segunda-feira ela vai para um curso de vietnamita para não esquecer a língua materna. Terça-feira ela busca a irmã na creche e a leva junto para o treino de handball. Quarta-feira as aulas de piano estão no programa, quinta-feira de novo handball, sexta-feira, um curso de teoria musical. Todo dia ela toca piano por meia hora e faz seus temas por cerca de duas horas. Sábado ela tem com frequência jogos de handball. E domingo? “Daí eu ajudo com as tarefas domésticas”, diz Bao Chau, “ou leio”. Quando Bao Chau tira uma má nota, ela se irrita. “Daí nós procuramos juntos os erros”, diz a senhora Ngo, “e daí eu digo: ‘Aqui está o teu problema’. Quando eu lhe faço uma crítica, ela fica triste, mas ela sabe que estou certa.”
O estilo de educação rígido lembra a tese da mãe sino-estadunidense Amy Chua, autora do bestseller “O Choro de uma Mãe Tigre – Como eu criei meus filhos para o sucesso”. Segundo Chua, mães asiáticas são superiores às ocidentais porque criam seus filhos corretamente. Os Chua criam suas filhas com disciplina. Jogar, sonhar, divagar, ir a aniversários de crianças: tudo isso está proibido.
Essa autoridade não vem das famílias vietnamitas, diz Beuchling, que há 15 anos pesquisa sobre a educação dessas. Muito mais pesa a tradição confuciana, que leva os vietnamitas ao progresso, quando eles estudam, tanto faz se são filhos de pedreiros ou de dirigentes. Os vietnamitas também pregam a necessidade de harmonia: não queremos imprimir o ritmo da família através das vontades individuais, muito menos incomodar a sociedade por isso.
Com sua mentalidade confuciana e seus desejos, os asiáticos têm sucesso no sistema escolar alemão. O interesse dos estudantes asiáticos se duplicou nos últimos dez anos. A maioria dos estudantes vietnamitas na Alemanha é chamada de estudantes estrangeiros: eles ganham entrada na universidade em seu país, mas vão para a Alemanha para fazer sua pós-graduação.
[…]
[Um cientista da área da saúde] Vuong Anh Duong disse que ele admira a mentalidade de vida dos alemães. “Eles são muito disciplinados e ávidos por estudo, mas eles aproveitam a vida também”. “Nós vietnamitas quase sempre passamos dos limites. Nós arruinamos nossa saúde e nossos cérebros – tudo por nossa carreira.” Tamara Hentschel da União Reistrommel criticou a pressão dos pais vietnamitas. “Eles têm punições duras e praticam violência psicológica, os filhos não têm tempo livre. Eles me dão pena.”
Bao Chau ainda não sabe o que ela vai querer ser. A menina parece vietnamita, tem passaporte vietnamita, mesmo tendo se socializado na Alemanha. Às vezes lhe é difícil explicar aos pais como ela está, lhe faltam palavras em vietnamita e a seus pais em alemão. Quando perguntada sobre o que ela espera no futuro, diz que é a próxima olimpíada de matemática. No último ano, ela não teve bons resultados e quer melhorar no próximo ano, disse ela, e sua mãe ri.
Freia Peters
Tradução de Alexandre Piffero Spohr
Acesse o original aqui
Imagem retirada daqui
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