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Em 2011, Chalita prefeito de S.Paulo, prioridade de Temer para ressuscitar PMDB-SP

O vice-presidente era então conselheiro de Chalita, que ao longo da vida sempre teve mentores.  

 

18 de julho de 2011 – 15h38 

http://www.vermelho.org.br/noticia/159045-1

Chalita prefeito é a prioridade de Temer para ressuscitar PMDB-SP

O PMDB tenta atrair até o DEM, instalado no governo de Geraldo Alckmin, para a chapa de Chalita. Juntos, os dois partidos largariam com a maior fatia do horário eleitoral de TV — trunfo essencial para “despolarizar” a disputa “PT x PSDB”.

Temer considera a eleição paulistana de 2012 a ressurreição do PMDB no estado e sua redenção, após quase duas décadas assistindo a legenda esmorecer sob o comando absoluto do ex-governador falecido e desafeto Orestes Quércia. Assim, toda a estratégia e negociação com aliados passam por ele, que pôs como primeiro objetivo garantir o maior tempo de televisão possível a Chalita.

É o que explica o estágio avançado de conversas com o deputado estadual paulista Campos Machado, que controla o PTB paulista; com o deputado federal Paulo Maluf, que controla o diretório regional do PP; e com o DEM do senador Agripino Maia (RN). Há expectativa ainda de levar o PDT e o PCdoB, embora seja mais provável que esses dois se coliguem em apoio ao vereador e pré-candidato do PCdoB à Prefeitura, Netinho de Paula. O PR praticamente está com os petistas. E o PPS com o PSDB.

O prefeito Gilberto Kassab (PSD), por enquanto, tem garantido o PSB e o PV. Os peemedebistas avaliam que o PSB questiona a migração de Chalita para o PMDB, reivindicando seu mandato, porque estarão em campos opostos agora. Isso a despeito de Temer e o presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, terem feito um acordo pelo qual o PSB não incomodaria Chalita, ao passo que o PMDB não questionaria o mandato do deputado Thiago Peixoto (GO), que pode deixar o PMDB rumo ao PSB.

Temer também está empenhado em fazer o PT desistir de lançar candidatura, em troca do apoio peemedebista a um candidato petista ao governo paulista em 2014. O tema foi tratado há alguns dias em São Paulo entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é simpático à ideia, junto ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (SP). A maior parte do diretório petista paulistano, porém, é contra.

O vice-presidente também opina sobre o candidato a vice-prefeito ideal para Chalita e os melhores adversários a enfrentar. Acha que o deputado representa uma classe média urbana paulistana e, por essa razão, é necessário dar um viés mais social à chapa, como uma mulher ligada aos movimentos sociais. 

Cenários da disputa

Sobre os adversários ideais, acredita, são os veteranos e ex-prefeitos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT). A justificativa é de que as pesquisas internas que lhe chegam dizem que ambos têm índice de rejeição superior a 50% e que o eleitor paulistano quer novidade em 2012. Nessa linha, os piores adversários, segundo Temer, são o ministro Fernando Haddad (PT) e o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB).

Chalita, contudo, sente-se confortável para o debate e já pediu ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para relatar no segundo semestre o projeto de lei de responsabilidade educacional que, assim como o Plano Nacional da Educação de Haddad, deverá traçar metas para o setor e — a diferença — prever punições aos administradores que não as alcançarem.

Além dessas articulações, tem passado pelo gabinete de Temer no Palácio do Planalto em Brasília toda a estratégia da pré-campanha e da campanha de Chalita. O vice-presidente avalia que seu candidato possui uma blindagem natural contra ataques de petistas e tucanos — o que abre caminho para fugir da federalização e da estadualização da disputa que marcou as últimas eleições na cidade. 

O motivo é que Chalita foi secretário da Juventude e depois da Educação do governador Geraldo Alckmin (PSDB), entre 2001 e 2006, com o qual mantém relações pessoais. No entanto, após desentendimentos com o ex-governador José Serra (PSDB), migrou para o PSB e em seguida para o PMDB, onde se aproximou do governo federal. Assim, atacá-lo poderia significar criticar o governador paulista.

Os petistas também não se sentiriam confortáveis, pois Chalita se aproximou da presidente Dilma Rousseff já durante a campanha em um momento crucial, quando a campanha adversária passou a questionar seu posicionamento em relação ao aborto. Muito ligado à Igreja Católica, Chalita atuou para diminuir a temperatura entre os religiosos. Além disso, sendo candidato do partido do vice-presidente, uma crítica a ele poderia ser interpretada como ataque ao PMDB, o principal aliado em nível federal.

Nesse sentido, a campanha deveria ser focada basicamente em temas municipais, “bairro a bairro”. A estratégia já começará a ser posta em prática em agosto, quando o partido quer inaugurar a Casa São Paulo, órgão ligado à Fundação Ulisses Guimarães, o instituto de estudos e pesquisas da legenda. 

Com a ajuda de especialistas em cada setor, ela será responsável por fazer levantamentos sobre pontos críticos da cidade. Já foram convidados o economista Delfim Netto; o ex-ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge; o presidente do Grupo Santander Brasil, Fábio Barbosa; o médico Raul Cutait; o ex-presidente da Fundação Abrinq, Rubem Naves; e o empresário Sérgio Habib.

A candidatura do PMDB em São Paulo já tem até o provável marqueteiro: o mineiro Paulo Vasconcelos, que atua para o PSDB mineiro. Já fez campanhas para o senador Aécio Neves (PSDB) e para o governador de Minas, Antonio Anastasia. Entretanto, há conversas em andamento também com João Santana, responsável pelas campanhas de Lula em 2006 e Dilma em 2010.

Na Câmara

Enquanto Temer “corre o trecho” em São Paulo, Chalita já é tratado como candidato por outras lideranças políticas. No corredor das comissões da Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PT-RJ) saúda o Chalita como “meu prefeito” — e este não esconde a satisfação. 

O sonho do ex-tucano é disputar a eleição com o apoio do PT. Que há simpatias, dentro do PT, para o apoio a Chalita, não resta dúvida. Entre os “chalitas” do partido de Lula estão Gilberto Carvalho, Vaccarezza e os deputados estaduais João Antonio e Edinho Silva. A aposta deles é de que Chalita seria o candidato ideal porque roubaria votos do PSDB na classe média. 

Contra, estão, é claro, a senadora Marta Suplicy, que almeja voltar a ocupar a prefeitura, e seu entourage, com grande poder dentro do partido em São Paulo. Já o ex-presidente Lula trabalha pelo lançamento do ministro da Educação, Fernando Haddad.

Os principais empecilhos no caminho do ambicioso Chalita são mesmo Kassab e Serra. Pupilo de Alckmin, Chalita comprou briga com Serra ao apoiar a candidatura à Presidência, em 2006, do marido de Lu, de quem é, aliás, biógrafo. A partir daí, reclama, virou alvo preferencial da mídia paulista. 

De fato, para quem era considerado “garoto-prodígio”do PSDB, foi só romper com Serra para o ex-secretário de Educação de Alckmin ser apontado como o responsável pela queda de São Paulo nos rankings educacionais e acusado de ter deixado um rombo de R$ 4 milhões em sua gestão.

O apartamento duplex que Chalita comprou em Higienópolis por R$ 4,5 milhões, em 2004, e que hoje vale quase o dobro virou alvo de especulações – e não só imobiliária. Uma representação na Justiça Eleitoral questionava o salto patrimonial do então secretário, de R$ 741 mil, em 1998, para R$ 1,928 milhão, em 2002. Chalita justificou a aquisição com a venda de imóveis recebidos em herança. 

É no apartamento de 1.500 metros quadrados, com piscina, que o atual deputado federal costuma receber o variado leque de amigos para disputados jantares. Os habitués vão da escritora Lygia Fagundes Telles aos autores de novelas globais Walcyr Carrasco e Gilberto Braga, além de religiosos como o arcebispo de São Paulo dom Odilo Scherer.

O pior, para Chalita, foi ver sua reputação como “escritor” e “filósofo” descer pelo ralo depois de virar desafeto de Serra. “Antes de brigar com ele, meus livros não eram chamados de ‘autoajuda’”, queixa-se o autor de 54 obras e que afirma ter vendido mais de 10 milhões de exemplares. 

Embora seja difícil não enquadrar como “autoajuda” títulos como Cartas entre Amigos, best seller que reúne sua correspondência com o padre Fábio de Mello, desde a briga com Serra a ignorada obra de Chalita passou a ser escrutinada duramente pela mídia, principalmente, a paulista. Ganhou epítetos como “biógrafo da Vanusa” (por causa de coautoria em livro sobre a cantora, de 1997), “padre Marcelo Rossi da política” ou “marquês de Rabicó da Renovação Carismática”. 

Mais recentemente, Chalita recebeu o apelido de “guru do subsolo” de uma colunista, após a divulgação de que vídeos com pensamentos seus estavam sendo veiculados na TV Minuto, exibida aos usuários do metrô de São Paulo. A intenção oculta seria propagandear a pré-candidatura a prefeito por ordens de Alckmin, que teria interesse em ver o ex-pupilo no cargo para se vingar de Serra. 

Ele nega. “Não há nenhuma chance de eu ser o candidato de Alckmin. Ainda somos próximos, mas ele vai apoiar um nome do PSDB”, afirma Chalita. “O Alckmin não faz essas coisas de se vingar. Hoje tenho muito mais chance de ter o apoio do PT do que do PSDB”.

“Esquece o Serra”, costuma dizer Michel Temer. O vice-presidente é o atual conselheiro de Chalita, que ao longo da vida sempre teve mentores. A primeira, como gosta de contar, foi dona Hermelinda, senhora que vivia num asilo visitado com frequência pela mãe em sua infância e que lhe apresentou Clarice Lispector e Jean Paul Sartre. 

Depois, Franco Montoro, quando já havia se tornado vereador, em Cachoeira, aos 19 anos, pelo PDT (fruto da admiração por Darcy Ribeiro). Montoro o atraiu para a capital e fez dele seu assistente na pós-graduação em Direito, na PUC de São Paulo, cadeira herdada por Chalita com a morte do tucano.

“Foi por causa do Montoro que entrei no PSDB. Era um partido cheio de bandeiras e que não tinha fome de poder, mas um projeto de País”, diz o deputado. Ao sair, criticou justamente a “falta de projeto” da legenda. Mesmo defeito que vê no atual prefeito de São Paulo. “Kassab poderia ser uma novidade na política, mas lhe falta visão humana. Ele é um prefeito sem projeto, que não está focado nos problemas da cidade. Está mais preocupado em fundar um partido”. 

No entorno do pré-candidato atribui-se a Kassab o pedido de cassação de Chalita, feito na quarta-feira 13, pelo ex-jogador Marcelinho Carioca no Tribunal Superior Eleitoral por infidelidade partidária. Marcelinho herdaria a vaga por segundo suplente pelo PSB, legenda que Chalita trocou pelo PMDB e que costura uma grande aliança com Kassab.

Religião

Ligado à Igreja Católica desde a infância, o virtual candidato à Prefeitura de São Paulo foi seminarista — mas trocou a batina pela política por influência de uma prima, cujo marido concorria à prefeitura da cidade. Permaneceu, porém, com um pé no catolicismo — é apresentador no canal Canção Nova —, apesar de considerar o Estado laico “fundamental”. Na eleição presidencial, em 2010, ajudou Dilma a reverter a campanha difamatória em torno do aborto.

Ele conta ter conhecido a presidente em evento no interior de São Paulo, em 2008, e “adorado”. A admiração teria sido uma das causas de sua saída do PSDB. “Saí para apoiar a Dilma”. Na verdade, desde a indisposição com Serra, Chalita perdeu todo o espaço que tinha no partido, a ponto de apenas um secretário do governo Alckmin ter ido à sua posse na Academia Paulista de Letras, em 2006. 

Aos 42 anos, com 1,89 metro de altura e jeito de menino, porte atlético conservado por corridas matinais, Chalita não se casou até agora. “Estou solteiro, mas não sou celibatário”. No ano passado, o atual deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), em uma resenha sobre o livro de Chalita com o padre Fábio, afirmou haver certo conteúdo “homoafetivo” nas cartas. 

Uma das qualidades de Chalita, é preciso que se diga, é não fugir a nenhuma pergunta. “Achei interessante a abordagem do Jean, respeito, mas Carlos Drummond de Andrade trocou cartas com amigos, Vinícius de Moraes também. A sensibilidade não é exclusividade de quem é mulher ou gay”.

Da Redação, com agências

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