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Enquanto espero a guerra

Há muitos anos venho divulgando meus temores de uma guerra contra a China em 2017. Percebi esse pesadelo em 2009 e venho escrevendo sobre o assunto desde 2011.

Sempre fixei a data de meus temores em 2017, frisando-a em todos os meus escritos sobre o tema. No início, os que me ouviam costumavam condescender com minha excentricidade e escutar com curiosidade as fantasias de um ficcionista. São já 8 anos durante os quais vejo o cerco se fechando, delineando o evento apocalíptico, com a polarização crescendo no mundo inteiro, o ressurgimento do fascismo e a demolição das fantasias democráticas onde vinham sendo úteis.

Desde 2015, pelo menos, percebi que as provocações ocorreriam no Mar da China, local onde se cavaria algum pretexto cinematográfico para alimentar a propaganda de guerra. Agora, nos últimos dias, constato o intenso aumento da temperatura política mundial. O mundo está quente, revolto. A tensão é evidente nos noticiários.

A cizânia semeada no início de governo americano se acirra avassaladoramente. Menos de um mês de mandato foi necessário para que muitos tivessem jogado suas fichas destemperada e abertamente contra o novo presidente; não haverá retorno; vislumbra-se um caos interno crescente nos EUA.

Tendo comprado brigas consistentes e reiteradas contra os meios de comunicação e agências de segurança, o presidente americano alinha essas duas forças para que uma levante a bola e a outra chute.

O mundo inteiro se abala com as tuitadas cataclísmicas do líder estabanado e frívolo. Seu comportamento impede o estabelecimento da ordem das bicadas, dificultando a estabilização e eternizando os conflitos. A instabilidade resultará em ebulição política. A metáfora termodinâmica se evidencia no mundo inteiro. O mundo está quente, essa é a sensação dos últimos dias. A ebulição revela a proximidade da explosão.

Talvez matem o presidente americano, talvez o derrubem com um impedimento legal. Improvável a complementação de um mandato iniciado de maneira tão atabalhoada.

Temo que a guerra seja vista por ele como única saída para a reconciliação por lá. Temo que seja essa a saída desesperada proposta para a crise crescente. Esse tempero adicional viria se somar ao plano original de conter o avanço avassalador da economia chinesa a qualquer preço, e consistiria em mais um entrave para o impedimento da guerra.

Mas percebo também e aposto na visão oposta, a de que constitua mau augúrio iniciar uma guerra em meio à desagregação já enraizada no país. Torço para que isso pese contra a guerra e a impeça.

Também creio que a guerra venha se assomando como um caminhão desgovernado em uma decida. Creio que o único caminho para impedir a grande guerra, essa catástrofe hedionda e sem precedentes, seja o isolamento dos EUA na defesa da aventura absurda. Creio que apenas um enorme clamor público internacional alimentando uma fortíssima oposição interna consiga parar a avalanche brutal já em curso.

Também já fixei a data do apocalipse: 2 de março de 2017, 72 h depois de apresentado o plano de reestruturação das forças armadas, de fato, um plano de guerra. Temo a explosão nesse dia. Se conseguirmos evitar a guerra nesse momento, creio que o mundo resfriará aos poucos.

                                                           *          *          *

Mas eu contava do início da profecia, quando 2017 ainda era um tempo distante e a guerra soava como um delírio. Desde então o desatino ganhou contornos mais sólidos, e o que era loucura passou a ser visto como uma hipótese concebível, embora inaceitável.

Nossas crenças coletivas são moldadas pelos meios de comunicação, muitas delas fabricadas cuidadosamente. Tendo acompanhado com atenção o desenrolar dos acontecimentos no Mar da China, só ontem (sexta, 17) notei o recrudescimento das notícias relativas à região. Penso que essas notícias sejam bastante controladas e surjam e fermentem conforme o desejo dos que planejam a guerra. Não acredito que, ontem, a tensão por lá tenha se alterado, apenas as notícias foram alimentadas. O fomento das notícias, por outro lado, fortalecerá a tensão. Creio que em menos de duas semanas a região estará no centro dos noticiários.

 

Estamos há poucos dias da catástrofe e “ninguém” acredita nela. Algumas pessoas são condescendentes com minha profecia e a consideram uma excentricidade, a maioria acha que seja tolice, desatino. Fico tentando compreender a razão disso, dadas as evidências tão claras de um grave risco. Creio que ninguém quer se desgarrar do rebanho; preferível despencar do precipício com o bando que se desgarrar. Percebi algo correspondente a isso em mim: apesar de minha convicção na iminência de uma guerra, e de toda a tragédia, continuo feliz e confiante. Gosto disso, prefiro assim, mas percebo o absurdo. Se todos estivessem considerando o risco real estaríamos à beira do pânico. Há motivos para isso, e no entanto eu me comporto como se nada estivesse para acontecer. Também sou obrigado a confessar um quase desejo de que a coisa aconteça. Não quero a guerra, isso tem que ser evitado, mas acabo querendo confirmar minha previsão. Triste constatação do egocentrismo de um herói autoindugente.

Sobre crenças

Suponha que eu te apresente um argumento simples e compreensível em defesa de uma determinada história, você então conferirá minha argumentação, e caso a considere consistente, concordará comigo. Acreditamos que somos assim, racionais. Não somos.

Se o argumento resultar em algo incomum, algo realmente surpreendente, não acreditaremos nele, a menos que outras pessoas também acreditem; precisaremos do apoio de outras vozes para quebrar nossa noção de normalidade; pouco importa a razão.

Percebi isso defendendo a iminência da guerra nuclear, fato cada vez mais claro, mas tão mais inverossímil quanto mais óbvio e iminente. Ninguém quer acreditar nisso, não interessa a impositividade da argumentação, ninguém vai se isolar defendendo algo tão fora de esquadro. Seria muito estranho acreditar em algo desconsiderado pela TV, razões não interessam. (Quantas pessoas são capazes de sustentar uma crença contrária à divulgada na TV?).

Os meios de comunicação consistem em uma fábrica de normalidades. Eles, e só eles, têm autoridade para construir novos enredos, suas descrições são sempre verossímeis, tudo o que sai na TV é verossímil, o que não aparece lá, não é. A realidade de nosso mundo é construída na tela. O que interessa é o que passa na TV. Talvez, nesse momento, esteja ocorrendo, na África, uma guerra sangrenta com milhões de mortos, mas se isso estiver acontecendo, não interessa, já que não passa na TV, então não pode estar acontecendo. As notícias criam nosso mundo.

Como serão noticiados os acontecimentos no Mar da China?

Falarão de expansionismo chinês, na construção de bases militares em ilhas artificiais em águas contestadas por outros países. Criarão uma China militarizada e ameaçadora impondo-se pelas armas. Insistirão sobre um tratado internacional que supostamente não reconhece os direitos do país sobre as ilhas, mas não dirão que os EUA não reconhecem esse mesmo tratado pelo qual fingem ter enorme respeito.

Depois cavarão uma briga entre um barco chinês e outro americano, poderiam ser aviões, mas navios tendem a ser mais cinematográficos. Os EUA estarão fazendo provocações na região, os chineses estão vigilantes; é muito fácil cavar uma briga, mais ainda se você controla a versão dos fatos. Relatarão uma postura agressiva dos chineses omitindo o fato de estarem defendendo seu país do inimigo distante. É muito fácil gerar indignação controlando os relatos e as imagens. Para fazer a guerra, precisarão gerar clamores do mundo inteiro contra os chineses malvados e agressivos, insuflarão ódios pelo mundo todo. Terão que nos fazer esquecer que são pessoas, e que a guerra se espalhará pelo mundo; guerra que resultará em bilhões de mortes.

Serão pessoas a morrer, mas tentarão camuflar esse fato. Falarão em chineses, russos e americanos, de modo a jogar-nos uns contra os outros. Mas serão pessoas a lutar e morrer. Aliás, a maioria dos mortos nessa guerra nem estará a lutar, seremos colhidos em nossas casas pelo bafo infernal das bombas nucleares.

Os que morrem são sempre pessoas, devemos lembrar disso. Alguns terão nascido aqui, outros ali, mas são pessoas.

Chineses e russos são apenas pessoas que nasceram na China e na Rússia, não são criaturas malvadas. Não há razão para querer matá-los, embora a guerra seja feita para isso. As provocações são muito mais ameaçadoras lá que aqui, devem gerar muito mais apreensão por lá. Japão, Coreia e Europa também serão varridos pelo revide sino-russo, constituem o escudo dos americanos, incrustados de bases militares dos grandes guerreiros do planeta.

A esquadra do porta-aviões Carl Vinson* já chegou ao Mar da China. Chegará do mar, com suas 7 cabeças e 10 chifres, enviada pela grande Babilônia para iniciar as provocações. No dia 27 estaremos em pleno carnaval. Festejemos como se não houvesse amanhã.

* As provocações FONOPS já estão em andamento no Mar da China onde o porta-aviões e o destroyer americanos estão testando as reações dos chineses para apresentá-las na próxima semana, ao vivo, no reality show macabro que será realizado com o propósito de justificar a guerra.

O presidente americano pretende fazer a guerra do dia para a noite. O mundo terá muito pouco tempo para se conscientizar e mobilizar contra essa insanidade.

Parem a guerra.

 

 

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Redação

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