Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Três observações sobre a derrota da Argentina

    A primeira diz respeito à psicologia dos povos.

    Todos sabemos como os brasileiros reagem às derrotas: falando, falando, falando, cutucando a ferida até sangrar; liberando sua agressividade contra os responsáveis; e transcendendo (superando) a dor da derrota por meio do humor (vide os tuítes e memes que nem esperaram a vergonha do 7x1 terminar para ganharem a Web).

    Já os argentinos vão no sentido contrário: eles negam o sofrimento – e, muitas vezes, a própria derrota. Quando acessei o "Olé" após a vitória do Brasil na Copa América de 2007 (a Seleção jogou com o time B), estava lá: "É Ouro!". Depois do susto, a explicação: a manchete tratava dos Jogos Olímpicos de 2008, para não reconhecer a vitória surpreendente do Brasil.

    E o que vimos nos Assuntos Mundiais do Twitter ontem? #ArgentinaCampeonBrasil2014 (além de #HeroesArgentinos). Nos jornais argentinos, acusação de que o título foi "roubado" deles – por causa de um suposto pênalti em Higuain.

    Sentir a dor, jamais. Falar e falar sobre ela, nunca. Analisar à exaustão os motivos da derrota, idem. Transcender pelo humor, nem pensar: apresente-me um tuíte, ou post de Facebook, ou um meme criativo de humor argentino. Nada.

    O caminho é sempre negar a derrota, usurpar a vitória alheia ("eles" foram ou serão os campeões) e focar no lado ou potencial positivo (os "heróis" traídos pelo destino).

    A segunda observação é sobre o gênio Messi. Fez 27 anos durante a Copa. Jogou 15 jogos em três Copas do Mundo, fazendo apenas 5 gols, o primeiro deles na primeira partida e os quatro restantes nas partidas do Grupo da Baba deste torneio (Bósnia, Irã e Nigéria). O colombiano James Rodriguez (o verdadeiro Melhor Jogador da Copa) jogou até agora 5 partidas em Copas (só nesta) e marcou 6 gols.

    Coloquem-se na posição de um torcedor argentino. Ele sabe que "tem" o melhor jogador do mundo, há pelo menos 5 anos, e esse jogador não consegue dar um título internacional à sua Seleção. Quando chega perto, bate na trave. Desde 1993, os argentinos esperam ganhar ao menos uma Copa América, uma Copa das Confederações, uma Copa do Mundo – e nada. Uma geração inteira de torcedores argentinos nunca pôde gritar: "Eu sou campeão!".

    Agora imaginem. Messi terá talvez mais três oportunidades na carreira: a Copa América de 2015, no Chile (enfrentando Chile, Colômbia, Uruguai, Brasil), a Copa das Confederações em 2017 (somente se a Argentina vencer a Copa América), e a Copa do Mundo de 2018, quando estará com 31 anos.

    Chegará lá? Quem acompanha futebol sabe que Messi já entrou na fase descendente, assim como Ronaldinho Gaúcho em 2006. Além de vir jogando abaixo do normal no Barcelona, foi o jogador que menos correu nessa Copa, às vezes o mais ausente, dependendo de arrancadas eventuais e passes geniais, cada vez mais esporádicos. Nenhum gol nos últimos quatro jogos decisivos.

    O abatimento de Messi após a final disse tudo.

    Comparem com craques brasileiros como Garrincha, Pelé, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Bebeto, Ronaldinho Gaúcho... Todos conseguiram conquistar torneios internacionais importantes para a sua Seleção.

    Esse é o drama do torcedor argentino: ver um predomínio tão grande no plano individual e talvez ter de amargar uma carreira inteira do seu maior ídolo do presente sem que ele dê um título sequer à Seleção do país.

    A terceira observação é sobre o título que a Argentina, mais uma vez, deixou escapar. Um time campeão sempre tem um algo-a-mais, difícil de precisar, mas que os torcedores, intuitivamente, reconhecem. Foi esse algo-a-mais que levou duas Seleções B do Brasil a derrotarem Seleções A da Argentina numa Copa América e numa Copa das Confederações.

    A Argentina teve quatro chances reais de gol ontem, com quatro jogadores diferentes. E nada.

    Talvez esse algo-a-menos da Seleção Argentina tenha a ver com a primeira observação: enquanto os argentinos não reconhecerem o pleno peso emocional da derrota, sem negações, distrações e usurpações de títulos alheios, eles provavelmente não conseguirão encontrar o motivo pelo qual deixam escapar das mãos tantas conquistas certas.

    Contam com ótimos jogadores, são taticamente disciplinados e têm bons técnicos. Faltam apenas títulos. E talvez continuem faltando. Até descobrirem como se incute aquele algo-a-mais num time, que o torna um vencedor.

    Quantas décadas mais de exaltação aos "heróis" do fracasso?

    P.S. A única das 31 torcidas que chegou ao Brasil com um cântico de rivalidade e deboche foi a da Argentina, cântico entoado em cada um dos 30 dias e modificado, para ser mais ferino, após a tragédia futebolística dos 7 x 1. Lembram-se da alegria do Maradona? Comparem com o comportamento dos alemães (jogadores e torcedores) após o 7 x 1. Pois bem, ao perderem o título, os jornais argentinos reclamaram do único momento de zoação dos brasileiros.

    Também nisso eles têm de pensar um pouco.

  • Dilma, eu lhe vi no final da Copa do Mundo, acredita?

    Na comemoração da conquista pela Alemanha, a rede Globo e assemelhadas esconderam a Dilma de todas as maneiras possíveis. E a Folha insiste que a Presidenta foi novamente vaiada. Por quem? Pelos Argentinos que perderam a final? Quantos brasileiros estavam presentes ontem no Maracanã?

    Agora o papo é que a Copa foi extraordinária porque foi feita pelos brasileiros. Mas isto é o óbvio ululante. A Dilma não pregou um prego na estrutura dos estádios. O que ela fez foi planejar tudo. E como já foi dito diversas vezes em diversos  blogs por esse mundo afora, a Seleção Brasileira teria sido campeã se a Dilma tivesse arranjado tempo para treinar os nossos atletas.

    A mulher tem uma capacidade administrativa extraordinária e é uma workaholic, quero dizer, uma trabalhadora compulsiva.

    Dilma, receba o nosso abraço (e aqui eu falo em nome da minha família), o nosso carinho e o nosso reconhecimento pela sua competência e honestidade à frente deste imenso país chamado Brasil.

    A rede Globo lhe escondeu, mas a sua imagem estava presente no Maracanã como a de um anjo diáfano que possibilita a passagem e transmite a luz para quem dela precisa. Conte com o nosso voto na eleição de outubro.

     

  • Os Benefícios do "Pum".

    Cientistas do Reino Unido

    Divulgaram informação

    De que o cheiro do pum

    É bom para o coração

    E quem cheira flatulência

    Previne câncer e demência

    Sem pagar nenhum tostão.

     

    Os cientistas descobriram

    Uma série de doença

    Que pode ser prevenida

    Com cheiro de flatulência

    Mas pede moderação

    Ao cheirar a combustão

    Benéfica pela ciência.

     

    Pois em grande quantidade

    Pode até prejudicar

    Os cientistas recomendam

    Cheirar aqui e acolá

    Mesmo sendo um benefício

    Não é pelo orifício

    Que você deve cheirar.

     

    Porém não reclame mais

    Ao entrar em elevador

    E nem tape o seu nariz

    Quando sentir mau odor

    Seja bastante educado

    E caso identificado

    Agradeça quem peidou.

     

    Ao fazer suas caminhadas

    Fique próximo de traseiro

    Pois em caso de descuido

    Você vai cheirar primeiro

    Porém não seja egoísta

    Seja na praça ou na pista

    Avise a seus companheiros.

     

    Mas não saia por ai

    Cheirando pum de ninguém

    Porque pode o governo

    Cobrar imposto também

    Já que toda descoberta

    Entre a procura e a oferta

    Tem taxação para alguém.

     

                Edmar Melo.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • O cinema brasileiro goleia em

    O cinema brasileiro goleia em Nova York

    “O futebol não é o único que marca gols no Brasil”, dizia a revista Variety em uma notícia recente sobre o surpreendente aumento das bilheterias durante a Copa. Obviamente, usou esse título antes da desgraça da seleção brasileira. Com a equipe literalmente fora do jogo e a Copa perto de acabar, agora é preciso insistir: o cinema brasileiro continua marcando gols em todo o mundo.

    “A palavra que me vem à cabeça ao pensar no cinema brasileiro de hoje é explosão", diz Marcela Goglio, diretora criativa do Latinbeat, o festival de cinema latino-americano do Lincoln Center de Nova York que inaugura hoje sua 15ª edição com Casagrande, o primeiro longa-metragem de Felipe Barbosa. “É uma explosão, porque é a produção é vasta e muito variada, englobando desde filmes muito experimentais a outros mais convencionais. E há todo tipo de gêneros: comédias, thrillers, retratos pessoais e muitos documentários; e as produções vêm de todos os cantos do país”.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=adi-bR1MtDY%5D

    Desde sua fundação, o objetivo do Latinbeat foi "refletir as tendências do cinema latino-americano", apoiando especialmente os cineastas jovens e emergentes. O festival nasceu ao mesmo tempo em que o cinema da América Latina renascia no final da década de 90. "Quando começamos, só Argentina, Brasil e México acumulavam produções e eram os meninos bonitos dos festivais internacionais", explica Goglio. Nesse momento, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) começou, associado com o Festival do Rio de Janeiro, uma mostra anual que tentava selecionar o melhor da imensa produção brasileira reativada especialmente depois do êxito de Central do Brasil e Cidade de Deus. "Essa mostra acabou no ano passado. Quisemos ocupar seu lugar e ecoar essa explosão, e por isso inauguramos com Casa grande e programamos O homem das multidões”.

    Com esses dois filmes, o Latinbeat mostra "as duas pontas do cinema brasileiro atual". “Casa grande é a obra-prima de um diretor jovem muito promissor, Felipe Barbosa, e uma proposta que não inova na linguagem; é uma história convencional, um retrato sócio-econômico do país sem pretensões, mas, com muita sutileza, termina sendo muito poderoso. O homem das multidões, por outro lado, é uma proposta mais arriscada, quase experimental, de dois diretores [Marcelo Gomes e o artista visual Cao Guimarães] mais consagrados”.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=AzNEO45U5-4%5D

    Novatos, como Felipe Barbosa ou Fernando Coimbra, diretor de O lobo atrás da porta (melhor filme na seção Horizontes Latinos no último Festival de San Sebastián), e diretores mais consolidados como Marcelo Gomes, Karim Aïnouz (que abrirá o New Fest, festival de cinema gay do Lincoln Center, em 24 de julho, com Praia do futuro) ou Kleber Mendonça são o impulso do novo cinema independente brasileiro que está abrindo um espaço nas bilheterias do país, até agora absolutamente dominada pelas comédias da produtora de TV Globo e o cinema de Hollywood, mas que também está ganhando força no exterior. “De forma concreta, O som ao redor, de Mendonça, foi quem abriu, há dois anos, o caminho tanto em termos de produção como de exibição”, explica Carlos A. Gutiérrez, cofundador de Cinema Tropical, distribuidora de cinema latino-americano nos EUA.

    É possível falar então de um novo, novíssimo, cinema brasileiro? De um novo grupo ou geração de cineastas? "Eu não acho que pertenço a nenhum grupo", explica Fernando Coimbra. "Mas tenho muitos amigos cineastas que, como eu, começaram fazendo curtas e agora filmaram seus primeiros longas. Não somos um movimento organizado como foi o Cinema Novo nos anos 60, mas pertencemos à mesma geração e temos coisas em comum; como o interesse por flertar com qualquer gênero e tratar não apenas de temas sociais, de pobreza e violência, mas falar também de amor, de relações, da classe média...".

    Um exemplo seria Casa grande, um veículo para Barbosa contar uma história pessoal, "uma grande plataforma para falar do bom e do mau dos costumes sociais” da classe média-alta, para sua corroteirista Karen Sztajnberg. “Acho que em Casa grande não há heróis ou vilões, só seres humanos. Um pouco como nesta Copa".

    http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/10/cultura/1405018654_127314.html

  • Cine Belas Artes já tem data para reabrir

     

    Um dos mais tradicionais cinemas da cidade será reinaugurado no próximo sábado (19) como Caixa Belas Artes

     

    Depois de três anos fechado, o tradicional cinema da rua da Consolação com a avenida Paulista tem data oficial para ser reaberto: será no próximo sábado (19), em novo formato, programação e administração.

    Agora como Caixa Belas Artes, o cinema retorna após uma intensa luta travada pelos cinéfilos e também pelo Movimento Belas Artes, que articulou a população, empresas e órgãos da prefeitura em prol da volta do espaço. A reabertura foi viabilizada através de um acordo selado entre a Prefeitura de São Paulo, o proprietário do imóvel e a Caixa Econômica Federal.

    André Sturm, diretor executivo do MIS, é quem passa a coordenar o espaço em sua nova fase. Ele garantiu uma programação especial, que deve, inclusive, resgatar clássicos do cinema, como Medos Privados em Lugares Públicos (2006), dirigido pelo cineasta francês Alain Resnais, que ficou mais de três anos em cartaz no Belas Artes.

    O novo cinema volta com um caráter mais plural e participativo. Isso por que, para que o espaço fosse reaberto, a Prefeitura não teve que desembolsar nada em valores em nem o fará em relação à sua administração, que ficará por conta da Caixa. A gestão municipal, no entanto, manifestou interesse em manter um cinema como o Belas Artes em São Paulo e estabeleceu contrapartidas à Caixa em benefício da cidade. Elas consistem em ingressos com valor 20% mais barato que os cinemas da região da Paulista, bombonière com valor 10% mais baixo que as dos cinemas da região, meia-entrada para todos os trabalhadores às segundas-feiras e sala especial de incentivo ao cinema brasileiro.

    No site do novo Caixa Belas Artes, há uma contagem regressiva para que o público possa acompanhar exatamente quantos dias, horas, minutos e segundos faltam para poder voltar a contar com um dos cinemas mais queridos da cidade.

    http://www.spressosp.com.br/2014/07/13/cine-belas-artes-ja-tem-data/

     

  • (cartinha para a Folha a

    (cartinha para a Folha a propósito da coluna de hoje do V. Mota - "Monoglotas sem espírito").

     


    Poliglotas sem alma

     

    Vinicius Mota poderia estender seu raciocínio futebolístico para a imprensa brasileira.

    É inimaginável o bem que adviria da exportação de seus melhores talentos para as redações anglófonas - e anglófonas mesmo quando a língua do país onde se situam seja outra como, por exemplo, o espanhol. Tenho certeza que sempre haverá para essa turma uma vaguinha no The Sun ou no New York Post. Já os mais avançadinhos poderiam pleitear o posto de batedores do Brasil do FT, do The Economist, The Whashington Post ou do Wall Street Journal.  Já o Der Spiegel é para poucos, pouquíssimos. E, de qualquer forma, o Willian Waak levaria a vaga de lavada. E os mais chegados ou chegadas numa oportunidade de negócios poderiam globalizar suas franquias de coxinhas e alcançar o verdadeiro patamar que sempre mereceram. Vai que é tua, Vinícius Mota! Pedro Carlos Penido Veloso dos AnjosRua Capote Valente, 154. SP - SP. 
        




     

  • Robôs noticiosos

    Essa nota certamente fará jornalistas tremer nas bases, caso não consigam se aproveitar disso:

    http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/11/sociedad/1405101512_992473.html

    e também aqui (em inglês):

    http://www.narrativescience.com/

    Em suma, trata-se de programas de computador, que vasculham a Internet à procura de notícias e "escrevem" o que encontram. O jornalista responsável na redação recebe o texto, tenta analisar ou obter mais informações e ajusta o que recebeu conforme necessidade.

    Pessoalmente, eu acho que, desta maneira entrarão nas redações, sob a forma desses programas, os dois futuros Prêmios-Nobel de todas as ciências, o Doutor Control-C e o seu antípoda, o Dr. Control-V.

     

     

  • EL PAÍS12 Jul 2014MARIO

    EL PAÍS
    12 Jul 2014
    MARIO VARGAS LLOSA
    O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar formosos sonhos.
    Mas no futebol, assim como na política, é mau viver sonhando e é sempre preferível se ater à verdade, por mais dolorosa que seja.

    Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.

    Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.

    Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.

    Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar

    Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.

    Tudo nasce com o governo de Luis Inácio ‘Lula’ da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.

    A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.

    As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.

    O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).

    As obras da Copa foram um caso flagrante de delírio e irresponsabilidade

    As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.

    As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.

    Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.

    Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.

    Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.

    Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.

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