Governo Dilma:Jobim abre Fissura na Relação Pmdb-PT

 

Caiu Nelson Jobim, ministro da Defesa 
Aprofunda-se a crise no governo Dilma

A demissão está ligada diretamente a atual crise interna do governo e pode ser uma tentativa de um setor do PMDB de se aproximar do PSDB, uma vez que Jobim mostrou uma estreita ligação com a oposição, principalmente com os tucanos

5 de agosto de 2011

 

 

Após uma série de declarações contra o governo na imprensa, a demissão do ministro da Defesa Nelson Jobim ocorreu na noite desta quinta-feira, dia 4 de agosto.

É o terceiro ministro demitido por Dilma em pouco mais de setes meses de governo. O primeiro foi Antonio Palocci, do ministério da Fazenda e o segundo, Alfredo Nascimento, dos Transportes.  

A primeira declaração de Jobim contra o governo foi dada na solenidade dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso no Senado. Na ocasião, Jobim se referiu a membros do governo como “idiotas que perderam a modéstia”. Depois, Jobim afirmou que votou em Serra em uma entrevista coletiva dada ao jornal Folha de S. Paulo. E, mais recentemente, disse à revista Piauí que a ministra das Relações Institucionais é “muito fraquinha” e que Gleise Hoffman, ministra-chefe da Casa Civil “sequer conhece Brasília”. 

Para mesma revista, Jobim também relatou uma discussão que teve com Dilma sobre a nomeação de José Genoíno para um cargo de assessor no ministério que dirigia. Ao anunciar que iria indicá-lo para o cargo, Dilma questionou se Genoíno seria útil no ministério. Jobim teria respondido afirmando que “quem decide quem é útil ou não sou eu”.     

Jobim disse que a publicação destas declarações era parte de uma “rede de intriga para desestabilizá-lo”. Mas, diante de um volume tão grande de declarações contra o governo fica evidente a intenção de tornar sua situação insustentável, forçando a demissão. 

Quando estas últimas declarações dadas à revista Piauí vieram à tona, Jobim se encontrava em viagem oficial em Tabatinga, na Amazônia, onde será assinado um acordo entre os governos brasileiro e colombiano que prevê a cooperação entre os dois Exércitos. 

Jobim foi convocado para retornar a Brasília imediatamente, se desligando da delegação do governo. Após retornar, se reuniu rapidamente com Dilma e foi anunciado que ele deixaria o cargo. Logo após a queda de Nelson Jobim foi anunciado que o próximo ministro da Defesa será Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores no governo Lula.

 

Uma futura aliança PMDB-PSDB?

 

Nelson Jobim ocupava o cargo de ministro da Defesa no governo petista desde 2007, quando foi nomeado por Lula. Dilma o manteve no cargo, mas ele já não contava mais com o mesmo poder que possuía no governo anterior, quando mantinha uma boa relação tanto com o presidente como com a oposição. Segundo informações da imprensa capitalista, Lula intercedeu no início da crise para tentar impedir que Dilma o demitisse.     

A demissão de Jobim está diretamente relacionada com a crise do governo. Neste momento há uma enorme disputa no interior do governo entre o PT e o PMDB. Os dois partidos disputam o controle do aparelho do Estado, em ministérios e empresas estatais.

Há uma grande possibilidade de Nelson Jobim estar trabalhando ativamente para abalar e, quem sabe, até por fim a aliança PT-PMDB, o principal ponto de apoio para a sustentação do governo Dilma Rousseff. Há alguns dias, logo após ter afirmado que votou em José Serra, lideres do PT, reunidos em uma Conferência do principal grupo político interno do partido, afirmaram que este era o verdadeiro sentido das declarações e se referiram à ligação de Jobim com a oposição, em particular com o PSDB. “‘O Jobim já está do outro lado há muito tempo. O que ele quer é fazer constar em seu currículo que foi demitido pela Dilma” (Último Segundo, 31/7/2011), disse o deputado Jilmar Tatto, do PT de SP, um dos membros do antigo “Campo Majoritário” do PT, atual “campo Construindo um Novo Brasil”, controlado por José Dirceu .  

Outro fato que colabora com esta hipótese é a disputa para a prefeitura de São Paulo, que pela importância da cidade reflete uma disputa nacional. Embora a movimentação dos partidos para o lançamento de candidatos esteja apenas no início já se pode notar um alinhamento entre o PMDB e o PSDB. Por outro lado, há uma disputa no PT para que o partido lance candidato próprio e não faça uma aliança para apoiar um possível futuro candidato do PMDB, Fernando Haddad.

Além disso, foi noticiado que Jobim já tem uma reunião marcada com a bancada do PSDB no dia 9, terça-feira e um dos líderes da oposição, o senador Agripino Maia, em entrevista ao canal à cabo Globo News sobre a demissão o classificou como “um homem muito competente, mas infelizmente os homens honestos deste governo estão sendo demitidos”. Em declaração para a mesma emissora, o deputado do DEM “ACM Neto” também se solidarizou com Jobim afirmando  “lamentar” que Dilma tenha demitido Nelson Jobim, pois ele vinha fazendo “um bom trabalho” no ministério da Defesa”.

Se os próximos capítulos da crise confirmarem que a queda de Jobim está ligada à crise entre o PT e o PMDB e, mais do que isso, de uma tentativa de setores do PMDB de formar uma aliança com o PSDB, tudo indica que a crise do governo Dilma deve aumentar ainda mais no próximo período. Neste sentido, o enfraquecimento da aliança PT-PMDB é um reflexo da crise do regime político e da divisão da burguesia.