No Roda Viva, Mandetta diz que principal arma do Brasil na pandemia não foi usada por falta de EPI

Jornal GGN – Uma das medidas mais efetivas de combate ao coronavírus no Brasil teria sido o uso das redes primárias de atenção à Saúde do SUS, para rastrear e romper as cadeias de transmissão do vírus. O País já tinha essa estrutura pronta, mas ela nunca foi utilizada para esta finalidade. Por que falhamos em acionar a nossa principal arma na pandemia, perguntou a microbiologista Natalia Pasternak ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, durante o Roda Viva de segunda (12). Segundo Mandetta, os agentes comunitários não foram utilizados estrategicamente na guerra porque “eu não podia mandá-los atender sem EPI [equipamento de proteção individual].”

De acordo com o ex-ministro, houve falta de EPI no Brasil e no mundo. “O sistema mundial de EPI foi centrado na China. 94% dos EPIs eram produzidos na China. Umas máscara descartável era colocada pela China na cidade de São Paulo por 0,06 centavos. Uma fábrica de máscara em São Paulo faria o mesmo por 0,26. Então essa economia de escala chinesa engoliu todo o parque de produção do Brasil e de todos os países. Quando apresentam a epidemia e a China fecha durante 47 dias a exportação – ela bloqueia e confisca toda a produção para atender o mercado chinês – ela estrangula todo o sistema de EPIs. Nós chegamos no Brasil a quase zerar máscara, luva, capote. Não tinha. A iniciativa privada e o Ministério da Saúde tiveram de entrar pela primeira vez nesse mercado internacional. Nós não tivemos uma liderança, um mecanismo internacional que pudesse ser um fator moderador. Eu consegui, graças a uma amizade pessoal com o ministro da Saúde da China, que a última carga de máscara deles viesse para o Brasil de navio.”

“O que a gente queria era lançar a atenção primária para dentro do sistema, não tenha dúvida. (…) Nunca conseguimos falar ‘agora vai’, porque não havia face shield, não havia óculos. Foi um tempo muito difícil. O colapso do sistema de saúde não era nacional, era mundial.”

Mandetta disse que a “guerra das máscaras” aconteceu em nível internacional. “O ambiente era muito difícil para a gente poder soltar esse pessoal.”

O biólogo e virologista Átila Iamarino também perguntou por que o Brasil ainda não desenvolveu uma estratégia de saúde que envolva os 340 mil agentes comunitários para fazer o rastreamento da Covid. “Por que não temos um programa de rastreamento sistemático no País com tantas pessoas capacitadas?”

“A gente estava indo para esse modelo. Era o que nós… Agora esses países de origem asiática, de maneira geral, têm um preparo muito grande para esse tipo de acontecimento”, respondeu Mandetta, sem completar o raciocínio inicial. Ao final da resposta, ele apenas reforçou que “sem EPI”, o trabalhador da Saúde não vai para o front.

O ministro ainda falou que o tipo de teste obtido no Brasil não conferia resultados que favam uma “previsibilidade”. Ele disse que a ideia era que o Ministério, num segundo momento de organização, tivesse um planejamento “praça a praça, cidade por cidade”, porque a pandemia não ocorreria da mesma forma em todos os cantos do Brasil. Junto com os conselhos estaduais e municipais de Saúde, haveria esse diálogo local. Mas hoje o Ministério da Saúde foi silenciado e não tem “guidelines”, ou seja, diretrizes que apontem para a saída da crise.

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Redação

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  • Que bonzinho! A culpa é sempre dos outros! Ele foi colocado lá para acabar com o SUS, começando com o Mais Médicos. Uma receita de máscaras e aventais mandada pela Internet com proposta de compra mobilizaria milhares de fabriquetas de roupas, a baixo custo. Agora se apresenta como o defensor da saúde pública. Acredita quem é trouxa.

    • tem razão. Não apareceu ninguém para falar em reconversão à indústria. Tudo meticulosamente planejado para dar errado.

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