O Centenário de Roberto Roberti

Roberto Roberti (Rio de Janeiro, 9 de agosto de 1915 — 16 de agosto de 2004)

Carioca da Tijuca, era filho de Santo Roberti e Yolanda Lopes Roberti.

Começou a compor em 1935 quando lançou com Arlindo Marques Júnior a marcha “Foi numa noite assim” e o samba “Queixas de colombina”, gravados por Carmen Miranda em sua estreia na Odeon. 

Compôs ainda para o teatro de revista, fazendo parte do grupo de compositores que musicaram a peça “Olá, Seu Nicolau”, de 1938, estrelada por Alda Garrido.

Em 1938, um grupo de autores musicais que contava com nomes expressivos da Música Popular Brasileira, entre eles Roberto Martins, Braguinha, Alberto Ribeiro, Oswaldo Santiago, Antonio Almeida, Paulo Barbosa, Mário Lago, José Maria de Abreu, Radamés Gnatalli, Roberto Roberti e muitos outros, decidiram buscar seus próprios caminhos para a defesa de seus direitos, pois até então as obras musicais eram administradas pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Consideravam eles que, embora contando com um departamento específico para atender aos compositores musicais, a SBAT havia sido estruturada de forma mais adequada à defesa dos interesses dos autores de peças teatrais.

Viver de direitos autorais naquele tempo era difícil, daí o grande sonho dos compositores de emplacar um samba no Carnaval. Sonho que se realizou para Mário Lago e Roberto Roberti, em 1941, quando “Aurora” tomou as ruas da cidade e foi a segunda colocada no concurso de Carnaval daquele ano. Uma das mais populares marchinhas do Carnaval brasileiro, talvez seja a música carnavalesca composta mais perto do Carnaval e, ao mesmo tempo, a mais distante do período momesco. A marcha foi criada numa inspirada quarta-feira de cinzas de 1940, quando Roberto Roberti procurou eufórico o seu amigo Mário Lago, com o famoso estribilho da música, mas só tinha a famosa frase “Se você fosse sincera… Ô, ô, ô, ô  Aurora…”. Mesmo sem muito interesse, Mário ajudou rapidamente na complementação da marchinha que iria entrar para história do Carnaval um ano depois, nas vozes da dupla Joel e Gaúcho. A marchinha tem como característica principal a valorização de símbolos da modernidade, como o apartamento com porteiro e elevador. Carmen Miranda a colocou em seu repertório, divulgando-a nos Estados Unidos. Gravada 17 vezes e traduzida para o inglês por Harold Adamson, foi incluída no filme “Segure o Fantasma” (Hold that Ghost) da dupla Abbot & Costello, apresentada pelas Andrew Sisters.

A torcida do Vasco da Gama comemorou a goleada de 8 a 3 sobre o Aurora, da Bolívia, cantando a marchinha “Aurora”.

Também em 1941, compõe “Até papai”, parceria com Arlindo Marques Júnior e Jorge Murad, ambas gravadas pela dupla Joel e Gaúcho, em discos Colúmbia. As duas músicas foram incluídas no filme “Céu azul”, direção de Ruy Costa.

O samba “Eu trabalhei”, em parceria com Jorge Faraj, foi gravado por Orlando Silva na RCA Victor. Esse samba traduz um momento interessante da Música Popular Brasileira quando vários compositores, entre eles Roberti, compuseram letras influenciadas pelo DIP (polícia da ditadura Vargas), enaltecendo o trabalho ao invés da boêmia, tema tradicional recorrente nos sambas da época.

Em 1942, veio “Nós os carecas”, uma das mais famosas marchinhas do Carnaval carioca. Parceria com Arlindo Marques Júnior, obteve o primeiro lugar no concurso carnavalesco e foi sucesso nas vozes do grupo Anjos do Inferno em disco Columbia. 

No ano seguinte, lançou “Que passo é esse, Adolfo?”, gravada em 1943, uma sátira, bem ao estilo do parceiro Haroldo Lobo, que ridicularizava o “passo de ganso” dos soldados de Adolfo Hitler.

Em 1945, venceu novamente o concurso de Carnaval com o samba “Isaura”, uma parceria com Herivelto Martins. Foi lançado por Francisco Alves pela Odeon e, anos depois, em 1977, fez sucesso com João Gilberto.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=mr0YP3nZe1o

O último grande sucesso veio em 1953 com “Sistema nervoso”, parceria com Wilson Batista e Arlindo Marques Júnior, gravado por Orlando Correia e regravado nos anos 1980 pela cantora Simone.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=2qvDmiWixUM

Em 1954, a dupla caipira Alvarenga e Ranchinho gravou o samba “Greve da alegria” e a “Marcha da saúva”, parcerias com Arlindo Marques Júnior. Ainda em 1954, “Se eu fosse o Getúlio”, marcha de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti, apresentada no Carnaval, com momento de crise para Getúlio, que satiriza o número excessivo de funcionários públicos, doutores e professores e sugere que sejam enviados para trabalhar na lavoura.  

[video:https://www.youtube.com/watch?v=eOWijm1hERk

Em 1955, compôs com Murilo Caldas e Arlindo Marques Júnior as marchas “Que papelão” e “Já sei turo”, gravadas por Murilo Caldas na Odeon.

Roberto Roberti faleceu no Rio de Janeiro em 16 de agosto de 2004, uma semana depois de completar 89 anos.

Destacou-se como um dos mais assíduos compositores de marchas e sambas carnavalescos, tendo tido vários sucessos ao longo da carreira. Teve vários parceiros, compôs vários tipos de música, especialmente sambas e marchas de Carnaval. Foi gravado pelas vozes mais expressivas da nossa música. Teve como parceiro mais constante o compositor Arlindo Marques Jr., e a dupla fez muito sucesso, principalmente nas décadas de 30, 40 e 50, com notáveis composições.

Fontes

Roberto Roberti 

Roberto Roberti  no Dicionário Ricardo Cravo Albin 

Aurora e Lenin no mesmo barco ou navio   

Eternas músicas: Aurora 

Homenagem do Gerdal: uma lembrança de Roberto Roberti, compositor inscrito na pauta do carnaval de todos os tempos – Música, maestro!

Nas águas do mesmo lago 

Porque “Aurora” não será inscripta no Grande Concurso “Toddy”

 

Redação

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