Categories: Notícia

Os 200 anos da Imprensa Régia

Editorial Brasil de Fato Ed. 261, 28/02/2008

 

“A revista moralista

mostra uma lista

dos pecados da vedete

E tem jornal popular

que nunca se espreme

porque pode derramar

(…)

É somente folhear e usar”

(Tom Zé -“Parque industrial” – 1967)

 

Os 200 anos – que ora comemoramos – da chegada ao Brasil da família real portuguesa, posta para correr da Europa por Napoleão I e escoltada até nossos portos seguros pela Marinha inglesa, suscitam reflexões sobre vários dos seus aspectos. O mais óbvio, sem dúvida, é a abertura dos portos a nações amigas (leia-se Inglaterra), anunciada ainda na escala feita em Salvador, antes mesmo da corte chegar ao seu destino, o Rio de Janeiro, cidade elevada repentinamente à capital do Reino Unido a Portugal e Algarve. Isto é, a capital do Império Português.

Nos velhos livros escolares brasileiros, essa fuga ganha o título quase mágico de “A Transmigração da Família Real para o Brasil”, do mesmo modo que a debandada, alguns anos depois, das forças do Duque de Caxias – O Pacificador nos é apresentada pomposamente, pela historiografia oficial, como “A Heróica Retirada da Laguna”.

Ah, o que são capazes de construir as palavras!

Na verdade subprodutodo prolongamento e expansão da revolução burguesa na Europa, e das aspirações imperiais da França napoleônica que pretendia, através da Península Ibérica – e especialmente através de Portugal –, pôr de joelhos (e fazer rezar) a “Loira Albion”, a chegada da caravana marítima de reinóislusos acabara por imprimir uma nova dinâmica à velha colônia, acelerando inclusive seu processo de independência monitorada por Londres, na medida dos seus interesses.

Disso tudo, porém,nos diz respeito particularmente neste momento, apenas um dos atos do príncipe regente João VI, que governava em substituição da senhora sua mãe, dona Maria I, acometida de insanidade mental, o que lhe valeu desde então o epíteto de A Louca. Falamos da criação da Imprensa Régia, em13 de maio de 1808, pouco depois do desembarque no Rio.

Ainda que de caráter absolutamente oficial, a Imprensa Régia significou a primeira vez que se imprimiu legalmente no Brasil – o primeiro jornal privado legal e não submetido diretamente aos governantes ou ao Estado, em nosso país, só passará a existir três anos após a independência. Foi o Diário de Pernambuco, fundado em 1825.

As elites sempre souberam da importância e do poder dos meios de comunicação. Por isso mesmo, logo depois da chegada dos portugueses em abril de1500, Lisboa garantiu para si alguns monopólios estratégicos na sua nova colônia. O monopólio da terra, da exploração das riquezas, do comércio e da comunicação. No que diz respeito a esse último, todo e qualquer material estava proibido de ser impresso no país – sob pena, inclusive, de punição com morte dos infratores da norma.

Ou seja, Portugal paria assim quadrigêmeos siameses, fantasmas que rondam a classe trabalhadora e o povo brasileiro desde sempre: a propriedade monoplizada da comunicação, da terra, da produção/exploração e do comércio,que depois do período da colônia, passarão a ser controladas inicialmente pelos capitais locais, para hoje – e desde há algum tempo – serem oligopolizadas e apropriadas pelo grande capital internacional.

Mas, apesar de tudo, os trabalhadores e o povo brasileiro poderemos de algum modo comemorar pequenos avanços no dia dos 200 anos de fundação da Imprensa Régia:

1. A grande mídia brasileira é hoje a instituição nacional mais desmoralizada e menos confiável para amplos setores da população.

2. A principal revista de circulação nacional, a Veja (Editora Abril), com sua redação povoada por “nossas antas” e outros energúmenos, além de só ter crédito juntoà ultra-direita, está sendo alvo de absoluto achincalhamento, através de um dossiê do jornalista Luís Nassif, que invadiu e se expandiu via internet, não apenas Brasil afora, mas por todo mundo.

3. A Rede Globo (Organizações Globo), o poderoso império construído pelo senhor Roberto Marinho em troca de apoio e outros favores aos sucessivos governos da ditadura, além de reconhecida publicamente pela contumaz falsificacação das informações que transmite, é hoje acusada formalmente e conduzida às barras dos tribunais por estelionato. De acordo com seus acusadores, a poderosa Rede Globo falsificou documentação de compra da antiga TV Paulista.

Aguardemos até o dia 13 de maio.

Quem sabe nos estejam reservadas outras boas surpresas.

Mas, em sendo tudo “briga de branco”, acabará tudo em pizza?

http://www.brasildefato.com.br/node/4347

Redação

Redação

Recent Posts

Enchentes comprometem produção de arroz orgânico do MST no RS

Prognósticos mostram que perda pode chegar a 10 mil toneladas; cheia começa a se deslocar…

23 minutos ago

Nova Economia debate o poder da indústria alimentícia

Com o cofundador do site O Joio e o Trigo, João Peres; a pesquisadora da…

49 minutos ago

Processos da Operação Calvário seguem para Justiça Eleitoral

Decisão do Superior Tribunal de Justiça segue STF e beneficia ex-governador Ricardo Coutinho, entre outros…

54 minutos ago

O mais bonito Social Club, por Felipe Bueno

Filme e álbum estão disponíveis em streamings e são indispensáveis como fruição. Obras de arte…

2 horas ago

Cidade que se perdeu na inundação, Eldorado do Sul é evacuada

Os moradores de Eldorado do Sul estão sendo resgatados por meio de helicópteros, ônibus e…

2 horas ago

Acorda, Rio Grande, por Elmar Bones

Quando as águas baixarem, o que vai ficar exposto, como os escombros das cidades destruídas,…

3 horas ago