Os erros históricos nos rios Tietê e Pinheiros

Do arquitexturas 

SERÁ QUE, DE FATO, É APENAS EXCESSO DE CHUVAS? 

Por Edgard Georges El Khouri 

Mal termina o ano de 2010, e lá vem a chuva em São Paulo, e com ela o retorno (?) daqueles velhos ‘problemas’. Gostaria de comentar alguns erros históricos que tem sido cometidos contra os rios Tietê e Pinheiros, hoje potenciais fontes de dores de cabeça aos governantes paulistas. Mas, sim, há de se registrar que estes erros se somaram ao longo dos tempos e resultaram no atual quadro negativo das marginais destes rios. Vamos a eles: 

1) O traçado original do rio Tietê era bastante sinuoso no passado, o que por si só diminuia a velocidade do mesmo. Após a intervenção para construção das marginais, ‘retificaram’ os rios, aumentando-se a velocidade (vazão) dos mesmos, fazendo com que se tivesse menos tempo para a absorção das águas; 

Faze2) Fazendo as marginais o solo foi sendo impermeabilizado, o que por si só aumenta o fluxo de água direto para o rio; 

3) Eliminaram-se as áreas de várzea dos rios, que necessitavam dessa área permeável na absorção de parte das águas pluviais. Nessa área de várzea, nada poderia ter sido edificado/impermeabilizado, e agora com as novas pistas para o ‘aumento da fluidez do tráfego’ se impermeabiliza ainda mais, embora num menor grau do que antes, mas a impermeabilização ao invés de retroceder continuou avançando nessa área, e em tantas outras na cidade; 

4) Recentemente impermeabilizaram até as calhas destes rios; 

5) Reforça-se anualmente o aspecto do transporte individual com isenção de impostos e financiamentos governamentais, o que ‘força’ (bem entre aspas) a péssima opção por mais pistas nas marginais. E de que adiantariam mais pistas, se as entradas/saídas continuam as mesmas? É como se fossem ‘grávidas’ de mais carros, um barrigão imenso, o maior ‘estacionamento’ a céu aberto do mundo na hora em que o tráfego engarrafar de novo, fato já comprovado em menos de um ano por aqueles que ali transitam diariamente, ponto negativo… 

Em países como o Japão ou França, bairros inteiros são demolidos quando se chegou à conclusão de que eram inadequados, refizeram-se inteiros, com estudos protagonizados por especialistas de fato – urbanistas, ambientalistas, engenheiros de tráfego – possibilidade quase utópica por aqui porque, de fato, dinheiro não faltaria. Falta vergonha na cara, ética, humanidade. E um grande lobby de grandes construtoras que forçam a deturpação das leis de ocupação do solo. Preciso tipificar o que acontece por toda São Paulo? 

As soluções teriam que ser corajosas, e quebrar com essa mesmice irresponsável que já leva a cidade ao colapso. Propostas como grandes parques lineares ao longo de todos os rios (em sua várzea), reforço efetivo do transporte coletivo em prejuízo ao individual entre outras, projeto ambicioso e corajoso que duraria décadas, mas que seria frutífero. Não basta a intenção de se querer criar agora parque linear em área mais extrema do rio Tietê, pois teria que ser acompanhado de um estudo e execução, de longo prazo, para se recuperar toda a área das marginais, devolver as várzeas de forma completa aos rios. Mas é evidente que não farão isso, falta coragem política. 

Note-se que apenas abordei o assunto de forma ‘macro’, pois haveria uma série de atitudes no âmbito das subprefeituras, que tem se mostrado extremamente falhas neste sentido, seja no aspecto impermeabilização quanto ocupação ilegal, acessibilidade etc… Já postei alguns descalabros neste sentido aqui mesmo neste blog, que almeja ser mais efetivo e constante. E será! 

E enquanto isso, veremos de tempos em tempos várias cenas do apocalipse paulistano…