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Os norte-americanos e os russos

O governo dos EUA forneceu quase tudo que o Exército Vermelho utilizou para invadir a Manchúria e derrotar rapidamente as tropas japonesas que ocupavam o Estado fantoche de Manchukuo.  Ao fim da II Guerra Mundial os EUA tinha 113 mil soldados na China em condições de auxiliar Chiang Kai-shek a derrotar os comunistas chineses. Todavia, enredado na teia diplomática de Stalin, Herry Truman retirou seus soldados da China abrindo caminho para Mao Zedong (inimigo dos EUA) chegar ao poder com ajuda dos Russos.

A Rússia supostamente perdeu a Guerra Fria, reduziu seus gastos militares e conservou sua condição de super-potência nuclear. Nas últimas décadas o país governado por Putin se integrou à economia européia, produzindo uma sociedade muito mais aberta do que era durante o período soviético. Os EUA supostamente venceu a Guerra Fria, mas aumentou seus gastos militares e continua sem poder confrontar militarmente Russia e China razão do medo de uma retaliação termonuclear. Na última década, internamente o país comandado por Obama se tornou policialesco e muito autoritário. Externamente, os EUA passou a agir unilateralmente de maneira belicosa e ficou quase tão arrogante quanto a antiga URSS.

Nos dias de hoje, os EUA tem ferido economicamente a Rússia. A Casa Branca tenta controlar todo território ucraniano por intermédio de um governo nazista títere que chegou ao poder em Kiev através de um golpe de estado fomentado e financiado pela CIA. Resultado: divisão territorial da Ucrânia; guerra civil indefinida; consolidação das ligações entre os ucranianos de origem russa e a Rússia e; pasmem, 81% dos cidadãos da Federação Russa apóiam Putin apesar da crise do rublo.

Os governantes norte-americanos sempre tiveram e provavelmente ainda tem uma imensa dificuldade de entender a Rússia. Em razão disto, todas as vezes que lidaram com os russos os EUA não conseguiu tirar proveito de suas vitórias ou, pior, fortaleceu o inimigo que pretendia derrotar. Os russos, por sua vez, parecem saber exatamente como fazer os norte-americanos agirem em prejuízo dos EUA. A Rússia sabe se fortalecer através de suas fraquezas e explora com maestria a crença do seu adversário na própria superioridade.  

A Alemanha vem se distanciando dos EUA em razão das relações econômicas com a Rússia e em virtude da espionagem praticada por norte-americanos contra os alemães. A Rússia se aproxima de China, Brasil, Índia e Africa do Sul. O monopólio do Canal do Panamá deixará de ser único e estratégico para os EUA, pois os russos pretendem abrir  um novo canal na América Central.

Uma nova ordem mundial está se desenhando e dependerá mais dos russos que dos norte-americanos e isto certamente deve estar ferindo profundamente o orgulho dos habitantes dos EUA. Ao contrário dos russos, os norte-americanos acreditam demais na própria superioridade e estão condenados a perder espaço na arena mundial em razão de não conseguirem tirar proveito da própria fraqueza.

A história norte-americana é marcada por duas idéias obsessivas: isolamento e fronteira. Os colonos norte-americanos do litoral pretendiam se isolar das perseguições religiosas na Inglaterra. Chegaram ao novo mundo e ocuparam as duas áreas costeiras, deixando um imenso território para os indígenas. A fronteira porosa entre brancos e índios somente seria derrubada por ocasião das guerras contra os “peles vermelhas” no século XVIII e XIX.

As colonias semi-independentes umas das outras entraram em guerra civil quando o Sul quis se isolar do Norte, estabelecendo uma fronteira clara entre estados escravagistas e aqueles em que a escravidão não era admitida. Resolvida a disputa interna, os norte-americanos procuraram se isolar do mundo. A doutrina do isolamento perseverou até a tardia entrada daquele país na primeira guerra mundial, algo que se repetiria na segunda guerra mundial.

Desde a vitória na segunda guerra mundial, a idéia que mais obsessivamente domina os EUA é a fronteira. E a fronteira, meus caros, não é mais algo fixo dividindo o território norte-americano do México e do Canadá. De fato os EUA agem como se sua fronteira fosse em qualquer lugar onde os norte-americanos tenham interesse. A ideologia da fronteira móvel levou os EUA à guerra na Coréia, no Vietnã, na Sérvia, no Iraque e agora na Ucrânia.

Os norte-americanos parecem acreditar que podem ficar isolados num mundo que lhes pertence. Isto explica a dificuldade que a Casa Branca, o Congresso dos EUA e o Pentágono tem para compreender que Rússia, China, América Latina e Europa não são e não serão vassalos da Casa Branca. Alguns dos atores globais e regionais nunca se curvarão aos auto-proclamados patrões norte-americanos porque tem poder de dissuasão termonuclear e condições militares de causar holocaustos dentro dos EUA.

A reaproximação de Cuba ocorre no mesmo momento histórico em que a Casa Branca envia milhares de soldados e tanques para a Ucrânia. Isto sugere que a inovação norte-americana na América Latina é apenas simbólica, uma cortina de fumaça cuidadosamente criada para desviar a atenção dos latino-americanos de um plano de dominação global que levará a guerra à Rússia  e, por via de consequencia, a trará ao continente americano. Os russos, porém, não estão totalmente isolados. Os norte-americanos parecem acreditar que podem isolar os russos, muito embora eles mesmos estejam mais isolados do que jamais quiseram estar.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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