Publicado originalmente: http://klaxonsbc.com/2011/04/12/reler-murilo-rubiao/
“– Por acaso, o senhor gosta de carne de coelho?
Não esperou pela resposta:
– Se gosta, pode procurar outro, porque a versatilidade é meu
fraco.
Dizendo isto, transformou-se numa girafa.
– À noite – prosseguiu – serei cobra ou pombo. Não lhe importará
a companhia de alguém tão instável?”
Trecho do conto “Coelhinho Teleco”
Murilo Rubião reescreveu várias vezes grande parte dos seus contos. Escritor mineiro da modernidade brasileira, foi dos poucos contistas nativos que flertou com o realismo fantástico, estilo de marcante presença nas letras de nossos vizinhos de lingua hispânica como Borges, Cortázar, Garcia Marquez, Fuentes, mas nem tanto por aqui.
Murilo fez mais: tornou o fantástico um canal para a sua originalidade. É interessante que o mal estar dos seus personagens, suaviza a dissensão entre o real e o fantástico. O fantástico fica como a “saída” … Eles estão deslocados, eles não se sentem no lugar, tal qual o homem “moderno” eles procuram se transformar para superar o deslocamento. É um jogo conhecido, e claro, sua literatura não se restringe a esse jogo. Ler e reler.
Não quero ficar brincando de crítico literário, o conhecimento que tenho de Rubião não ultrapassa o senso comum. O passar dos anos me esclareceu o fascínio que sempre tive pelos contos do mineiro, suas epigrafes, a síntese, a precisão, e claro, os personagens fora do lugar, se transformando em “outros” ou enxergando o mundo fantástico.
“Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.”
Trecho do conto “O Ex Mágico da Taberna”
Falar dos benefícios e usos da literatura soa messiânico e professoral, literatura é muitas vezes “a companhia que falta”, ler um livro supera a obrigação quando percebemos que ele foi o protagonista de um momento, determinou um sentido, fez pensar, mudou um caminho. No mais a literatura é “inútil”, porque nos foge.
Lembrar de Murilo Rubião nesta manhã, deu um alento e uma vontade de nunca ter lido nada dele, mas me jogo no artifício que ele bem usou ao reescrever seus contos … releio, releio … para me sentir menos deslocado e conviver com os dragões do dia que vai envelhecer.
“Usando a ambigüidade como meio ficcional, procuro fragmentar
minhas histórias ao máximo, para dar ao leitor a certeza
de que elas prosseguirão indefinidamente, numa indestrutível
repetição cíclica.”
Trecho de entrevista de 1981
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