Categories: Notícia

Qual modelo urbanistico precisamos?

As cidades cresceram muito.

Mas a população cresce mais lentamente agora.

As famílias tem, em média, 3 pessoas.

No futuro, serão duas pessoas por família, como nos países desenvolvidos.

Então, mesmo sem a população crescer, precisaremos de 50% mais moradias.

O que fazer?

 

http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2014/319/geracao-21-como-responder                   

 

Geração 21: como responder?

 

País precisa fazer esforço especial para trocar seu modelo urbanístico. Mesmo não sendo fácil, o momento é agora, quando a população para de crescer, sugere arquiteto em sua coluna na CH.

 

Por: Sérgio Magalhães

 

O Brasil vive um momento histórico em que, pela primeira vez, precisará enfrentar a questão urbana. A resposta terá implicações essenciais para o desenvolvimento, a equidade, o meio ambiente e a própria democracia. 

O sistema político foi surpreendido em 2013 pela força das ruas e considerou possível absorvê-las no âmbito das eleições de 2014. Pode surpreender-se outra vez. Os contornos imprevistos avançam além do embate partidário-eleitoral e pedem novos encaminhamentos. O cerne da questão é o modo como a população urbana tem sido (mal) tratada.

Até hoje, o aumento das cidades era visto como inevitável – quase uma força da natureza. Como a população crescia muito, justificavam-se todas as imprevidências, os erros de escolha, a falta de planejamento. Mas a base mudou. Agora, a realidade é a estabilidade demográfica. As cidades terão outras referências e os movimentos de 2013 sinalizam para essa direção.

Vivemos, porém, fenômeno social importante com largas consequências para a cidade: a redução do tamanho médio da família. Hoje, no Brasil, há três pessoas em cada domicílio, em média; mas, em uma geração, serão cerca de duas pessoas, como em países desenvolvidos. Isso significa que, sem a população crescer, é preciso aumentar em 50% o número de moradias, além de substituir as obsoletas, e prover novos equipamentos para as diversas funções da cidade e novas infraestruturas. É possível estimar que, em 25 anos, outro Brasil urbano se somará ao Brasil urbano de hoje. Como fazê-lo?
 

Mudança de paradigma

Esta é uma agenda que implica mudança de paradigma urbanístico.

Se continuarmos no modelo atual, as cidades se expandirão para acolher as novas edificações e o farão em densidade demográfica cada vez mais baixa. Significa danos ambientais crescentes, infraestruturas subaproveitadas, transportes mais caros e mais demorados, perda de eficácia na prestação dos serviços públicos.

As exigências ambientais recomendam que a cidade não continue predatória de território. O rodoviarismo está condenado: a mobilidade precisará considerar os múltiplos modos e privilegiar redes de alta capacidade, como o metrô. A democracia política exigirá a universalização dos serviços públicos. Mas os recursos financeiros à disposição dos governos são limitados. Tudo isso é incompatível com cidades que se espraiam em densidades decrescentes – como ocorre hoje.

O Brasil precisará fazer esforço especial para trocar o modelo urbanístico. Não é fácil. Mas o momento é agora, quando a população para de crescer. Cada dia no modelo antigo torna a cidade mais extensa e menos densa, e mais distante a sua democratização.

A cidade brasileira desta geração precisará se somar à cidade existente ficando onde está, sem se expandir e sem perder densidade. Além de necessário, isso é possível. Aproveitar os vazios urbanos e os equipamentos degradados, recuperar bairros inteiros, urbanizar assentamentos populares e oferecer terra a edificar, usando de modo correto os instrumentos legais, são algumas medidas que podem ajudar nessa tarefa.

Essa agenda também exige novo paradigma na gestão pública. A cidade pede políticas públicas permanentes, não mais à mercê de idiossincrasias pessoais de governantes e de interesses dos detentores de terras a valorizar. É tempo do planejamento compartilhado e de projetos consequentes.

Faz parte deste século 21 a compreensão sobre as vantagens da equidade, o respeito às razões do planeta e as virtudes da democracia política. Equidade, sustentabilidade e democracia são componentes essenciais do ideário contemporâneo. E as cidades, como maior artefato da cultura, se configuram em sintonia com o tempo. 

A cidade é o lugar da política. A resposta da ‘geração 21’ nos dirá o bom caminho.
 

Sérgio Magalhães                   
Programa de Pós-graduação em Urbanismo (Prourb)                     
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo                 
Universidade Federal do Rio de Janeiro                            

 

 

 

Redação

Redação

Recent Posts

Contratos de energia impõem tarifas exorbitantes, por Heitor Scalambrini Costa

Brasileiros herdaram de FHC, além dos apagões, racionamento de energia, a baixa qualidade nos serviços,…

12 minutos ago

Tragédia no RS: 147 mortes confirmadas, 127 desaparecidos e mais de 800 feridos em decorrência das enchentes

São mais 2,1 milhões de pessoas atingidas, em 90% dos municípios gaúchos. Com previsão de…

58 minutos ago

Jornalismo metonímico dá munição às fake news de olho no impeachment, por Wilson Ferreira

uma estratégia ampla de contrainformação com dois objetivos: tirar o protagonismo de Lula e espalhar…

2 horas ago

Efeitos da redução da Taxa Selic aprovada pelo Copom, por José Dutra Vieira Sobrinho

Com Selic de 8,5% a TR seria zero e nenhum mutuário do SFH que tivesse…

3 horas ago

Tapeando o sombreiro, por Daniel Afonso da Silva

Somos todos gaúchos. E vamos juntos superar mais essa. Um pouco da linda arte gaúcha.…

3 horas ago

Há brutalidade e delicadeza na Amazônia, por Augusto Rocha

Até onde vai a adaptabilidade da região Amazônica à brutalidade da mudança climática? Qual será…

4 horas ago