É um mapeamento dos caminhos visuais apontados por José Carlos de Brito e Cunha (Rio *18/6/1884 + 2/10/1950) – da Praça Mauá à Praça Paris – durante a Belle Époque Tropical (1889-1922) e Modernismo (1922-50), com o intuito de recomendar footingações.
O banco de dados reúne homenagens, do século passado, a J. Carlos: de selo (1996) à logradouro, bem como exposições (1914, 84, 86, 88, 91). Salienta as apropriações e reelaborações de sua obra, que começaram em vida (1942) e mais tarde apareceram em cartaz (1984), abertura de seriado televisivo (1986), capa de CD (1997).
O memorial J. Carlos… apresenta:
- os artistas gráficos e plásticos franceses referentes: Gavarni, SEM, Hérouard, Erté e a quem J. Carlos serviu de referência
- o paraíso artificial da boemia à rua
- as ferramentas adotadas em seu processo criativo, evidenciando sua produção como designer gráfico, editorial: quanto a concepções para periódicos (1902-50), como capista de livros (1920-44), quadrinista (1905-30), cenógrafo (1930-36), publicitário (1930-36), vitralista.
J. Carlos foi testemunha ocular do centro urbano, da sinalização, da substituição da iluminação pública do Rio, com o advento da energia elétrica. Observou o culto à mulher singular, flagrou a vida mundana, mais escrachada a partir da presença da força e luz e por conseguinte da extensão do tempo de estar por aí, conversar nas praças. O campo de cor acompanha esta evolução em J. Carlos que começou na tinta china e foi variando com a tricromia e cores chapadas. Flâneur, equanime, operou magnificamente com formas e estampou um panorama de panoramas da cultura brasileira em sedimentação.
As artes do espetáculo acompanharam a trajetória de J. Carlos, como dramaturgo, cenógrafo, figurinista, programador visual das revistas de cinema e criador da identidade visual da Cinédia. Não só inventou personagens como captou o zeitgeist, retratando os atores e costumes civilizados da cena carioca cosmopolita: elétricas melindrosas, chauffers, camelôs, anotadores do jogo do bicho, macacos, papagaios, compreendeu o povo miúdo que enfrentava situações cotidianas: filas, fluxos, problemas sanitários, transfusão de sangue, paquera nos bondes ou emarginados da ex-capital federal. Como transeunte dos meios sociais registrou rituais e vícios burgueses: do ócio ao banho de mar, de ir à modista, tornar-se folião.
O movimento do lápis de J. Carlos gingava ao som da cuíca, pandeiro, tamborim e violão, sendo o samba um tema recorrente e embutido na sua expressão gráfica. Cada composição está prenhe de narrativa, alegorias e surpresa, que ao mesmo tempo que seduz o olhar leigo, o impacta por uma imprevista malícia.
Múltiplos interesses focaram no inventário e difusão de J. Carlos, culminando na virada do milênio: documentário (2009), tipografia (2003), coleção moda praia (2007), mostras em que foram inseridos seus artísticos desenhos (2002, 06, 08, 10, 11).
A literatura menciona historicamente, nos anos 1950, 83, 85, 95, 98, 99, sua faceta satírica e a partir dos anos 2000 destaca a identidade nacional e os símbolos pátrios, em 2002, 04, 05, 06, 08, 09 resgata a linguagem-marca de J. Carlos.
As dissertações acadêmicas começaram a abordá-lo exclusivamente a partir de 2002, antes estava mesclado ao humor gráfico, se resumia ao desenho, agora tendem a desvendar e enquadrá-lo como designer.
A Biblioteca Nacional oferece os anuários de algumas das revistas para as quais J. Carlos trabalhou, para consulta on-line: Careta, Fon-fon!, O Malho, Para todos…
A Biblioteca Digital das Artes do Espetáculo oportuniza a fruição a todos os exemplares da Cinearte, oriundos da coleção Jenny Segall.
O Arquivo Público de São Paulo disponibiliza as revistas de seu acervo, em caráter virtual, dentre estas A Cigarra, O Malho e Para todos… que contemplam o período em que J. Carlos exerceu a direção artística.
O site Memória Viva compila desde 1998 as revistas Careta, O Cruzeiro, O Malho.
O projeto Memória Gráfica Brasileira (2008), uma espécie de hemeroteca digital, dispõe em hotsite as revistas ilustradas, por ele projetadas: O Malho e Para todos…
Álvaro Moreyra (Porto Alegre 1888-1964) predizia em 1923: “daqui a cem anos”, exatamente em 2023 quem acessasse as obras primas de J. Carlos poderia experimentar ares de outrora, puro diálogo entre nouveau e déco, sugerindo uma áurea second life a partir do patrimônio gráfico de raiz.
Vanessa Johnson, profunda admiradora do legado de J. Carlos – inverno 2011
– No Blog continua do link abaixo do autor tem ainda:
Desenho o que quero desenhar, ou por outra, o que posso desenhar. Uma prova disso é que as legendas de meus desenhos são também minhas. Criticando e ironizando os inimigos da liberdade creio que estou andando bem
-Um slight, J. Carlos por Álvaro Moreyra (Porto Alegre 1888-1964) com 164 paginas,J. Carlos por Luís Fernando Veríssimo
(Porto Alegre 1936)
http://www.youtube.com/watch?v=Tr_zaoh_yE4]