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Sobre o reinício da concorrência dos caças

Da Folha

JANIO DE FREITAS

Um voo mais alto

Um dos efeitos do reinício da concorrência para caças da FAB recai nas relações políticas com os EUA

O REINÍCIO, com maior abertura e novas bases, da concorrência para os futuros caças da FAB alcança muito mais do que a recusa ao negócio forçado, e agendado mais de oito vezes pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, com a fábrica francesa Dassault e contra os pareceres dos técnicos militares brasileiros.

A decisão de Dilma Rousseff põe em suspenso também, com a cautela diplomática de não o mencionar, a “aliança estratégica” do Brasil com a França, tal como acertada por Lula e Nicolas Sarkozy. O que, por sua vez, levará a reconsiderações nos desdobramentos práticos da Estratégia Nacional de Defesa, o mirabolante plano armamentista de custo estimado em US$ 40 bilhões (antes da desvalorização do dólar).

Outro efeito do reinício da concorrência -não declarado, mas implícito na abertura a mais concorrentes- recai nas relações políticas com os Estados Unidos. A aceitação de mais concorrentes significa a possibilidade de que a Rússia volte a propor o seu caça Sukhoi.

TalaTal admissão pelo Brasil contém a recusa ao veto emitido pelos Estados Unidos, e aceito pelo governo Fernando Henrique Cardoso na primeira concorrência dos aviões, quando o russo Sukhoi destacou-se na seleção da FAB. Àquela altura, a contrapartida de incremento no comércio bilateral era dada como parte determinante na concorrência, e também nesse aspecto, contrariando as expectativas, a Rússia fez as melhores ofertas.

Não houve outro jeito: vieram o veto e a curvatura de espinha do governo brasileiro, como no Sistema de Vigilância da Amazônia em que os vencedores franceses foram despachados para escanteio. Agora há um problema adicional para os Estados Unidos, além da soberania aparentemente implícita na atitude do novo governo.

Se o caça russo, testado na primeira seleção por uma equipe da FAB na Força Aérea da Índia, já obteve a preferência, agora há um modelo ainda mais avançado. E neste estaria, como uma das razões da maior abertura da concorrência, a atenção da FAB, considerado que talvez só a China, além dos russos, se disporia a confrontar-se com os principais fabricantes.

Sob aspectos formais e institucionais, é muito positiva a sustação do simplismo com que foram estabelecidas e admitidas a “aliança estratégica” com a França, a escolha dos caças franceses contra o parecer da FAB, e as pressões de Nelson Jobim para conclusão desse negócio de US$ 6 bilhões.

Mereceria o mesmo tratamento o negócio feito com franceses para submarinos nucleares (cinco, ao final) e mais de 20 convencionais, além de um estaleiro e uma grande base no Estado do Rio. Sem concorrência nem sequer para a obra, que já veio entregue no pacote, com a malandragem de praxe pelos governos francês e brasileiro, à empreiteira Odebrecht. Mas esse negócio pôde andar mais depressa, se bem que haja margem para voltar a ele e seus primórdios na região de Sepetiba.

BONDOSOS
Se o Ministério da Defesa acha que há cinco guerrilheiros do Araguaia vivos e com identidade falsas, não precisaria pedir à Justiça que faça a Polícia Federal procurá-los. Diz que um deles trabalhou por 20 anos em uma multinacional, logo, sabe que nome atual tem e seu provável paradeiro.

Além disso, os cinco saíram vivos do Araguaia porque “foram agraciados” por oficiais do Exército, um deles, uma mulher, até levada de avião militar à cidade desejada. Não é crível que esses militares os deixassem soltos para serem apanhados pouco depois. O presente seria completo, com as novas identidades protetoras.

O problema é que também não é crível a história do Ministério da Defesa, ao menos nos termos em que está. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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