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Sopa de letrinhas

A ausência de verticalização nas coligações partidárias revela-se muito evidente nestas eleições municipais. Enquanto o “eleitor médio” esperaria alguma coerência “governo x oposição” ser reproduzida nas chapas, com os partidos de base se organizando em torno de um candidato favorito vis-a-vis o mesmo pelo lado da oposição (que por sua vez é governo em muitos estados), não é o que ocorre na maioria dos casos.

Em outras grandes democracias representativas soem ser competitivos de 2 a 5 partidos. O que em outros países seriam “tendências” ou “alas”, no Brasil aparecem como partidos independentes. (É por tal minimização no número de partidos, por exemplo, que a legislação argentina permite que 2 ou 3 candidatos de um mesmo partido concorram a eleições presidenciais, desde que em prévias demonstrem o apoio de 1,5% do eleitorado.) Além disso, as linhas ideológicas que separam “blocos” (para efeitos de coligações) aparentam ser mais nítidas em outros países que no Brasil. Em alguns há cláusula de barreira, como de 5% para ser representado em Congresso; em outros há voto distrital, o que força a um bi(tri)partidarismo de fato.

Mas, enfim, temos 9 partidos maiores, cada um com pelo menos 5% dos deputados federais (isto é, a partir de 26.) Além destes, há mais 7 siglas facilmente reconhecíveis, ora por terem de 3 a 20 deputados, ora por elegerem senadores, ora por lançarem candidatos próprios “visíveis” em grandes capitais. São esses os 16 partidos apresentados no quadro para as 11 maiores capitais (tirando Brasília, onde não há eleições municipais, trata-se das cidades com mais de 1,3 milhão de habitantes). Há ainda mais 16 partidos, 8 dos quais com 1 ou 2 deputados federais, mas nenhum senador. Destes o PSL é o que mais lança candidatos próprios, e o PCB frequentemente apoia o PSoL.

O que se observa este ano:

– a grande exceção de 2008, PT e PSDB comporem uma mesma chapa (como em BH, com PSB) não acontecerá este ano. Também não se repete o apoio de PMDB ao DEM, como em SP nesse mesmo ano;

– em várias grandes cidades há uma multiplicação de candidatos competitivos, pelo menos 3, em linha com o governo federal (Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza.) Talvez apenas em SP haja candidato “oficialmente oposicionista” como grande favorito (não conheço, no entanto, os detalhes e pesquisas de muitas das cidades);

– têm candidaturas próprias, desses 16 partidos e nessas 11 cidades: PT (8), PSDB (7), PSB, PMDB, PDT, DEM (5 cada), PCdB (4), PPS (3) PRB, PR, PSC, PTB (2 cada), PV e PP (1 cada.) O PSoL, que pouco faz coligações, estará presente em 9, mas apenas no RJ com chance de obter votação mais significativa;

– um dos 5 maiores partidos, o PSD, simplesmente não tem candidato próprio em nenhuma das grandes capitais. Por outro lado, é aliado a um dos dois principais favoritos em quase todas (quer sejam de “direita, de centro ou de esquerda”.) Como o PV, chega a apoiar 7 partidos diferentes, do DEM ao PCdB;

– em apenas 4 dessas 11 maiores cidades PT e PSB, ou PT e PDT, compõem a mesma chapa para 1º turno. Essa condição em relação ao PSB não era esperada até poucas semanas atrás;

– PSB e PSDB aparecem juntos em 3 chapas (Curitiba, BH, Belém);

– causou espécie ao eleitor paulistano mais politizado a aliança PT-PP. Não obstante, esta se repete em 5 das 11 cidades citadas e em apenas 3 (Curitiba, BH, Goiânia) PP está junto com PSDB (do mesmo modo que o PSB);

– em relação a apoios recebidos, o que dá uma certa medida da “força política” dos grandes partidos, vemos o PT receber 25, o PSB 31, o PMDB 13, o PDT 9, o PSDB 8, o PCdB também 8. Os demais não passam de 5. É claro que a amostra é pequena e que há imensa variância entre os tamanhos relativos que cada partido assume nos vários estados/capitais. E o PSDB por si não precisa de apoiadores em muitos casos. Mas passa uma ideia de quais são os grandes jogadores e como o governismo é potencialmente fracionável;

– para o conjunto apresentado é ate mesmo difícil definir “o que é governismo”, ou mesmo seu nível. É que há muitos partidos na base do governo, com ministério. Partidos como PTB, PSD e PSC apoiam, cada um, candidaturas de PT, PMDB, PCdB, PDT ou PSB em pelo menos 8 das 11 maiores cidades. Com exceção do PT e PMDB, todos os partidos apoiam pelo menos alguma candidatura de oposição (quando são “governo”) ou de partido representado no ministério (quando são “oposição”). O PCdB, por exemplo, apoia o PSoL em Belém e o PSC em Curitiba; o PSoL apoia o PSB em Manaus; o PPS partidos da base aliada em 5 grandes cidades;  o DEM ao PDT em Porto Alegre; o PV ao PT em Fortaleza e Porto Alegre; o PSD ao PCdB em Porto Alegre e Manaus; o PSC ao PMDB em vários lugares.

Apoio não se recusa! E, além de S.P. e em Salvador, onde haverá relevante polarização ideológica?

(Para compreender o quadro: uma cor é atribuída a cada partido [coluna da esquerda] e quando este tem candidato a prefeito essa cor é apresentada, ficando a sigla em letras maiores e circundada por borda; demais partidos coligados assumem a “cor” do partido que apoiam em cada cidade. As cores utilizadas não são as oficiais dos partidos. Levantamento feito a partir de notícias recentes e do site do TSE http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012/ResumoCandidaturas.action, pode estar parcialmente desatualizado. Para maior facilidade selecionados apenas os 16 maiores partidos em representação no Congresso, detentores de 98% das cadeiras. Outros pequenos partidos são: PMN,PTdB,PRTB,PRP,PHS,PTC,PSL,PSDC,PSTU,PPL,PCO,PCB,PTN.)

 

Redação

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