Álvaro de Campos
BARROW-ON-FURNESS
I
Sou vil, sou reles, como toda a gente,
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.
É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.
Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo e leio.
Justificar-me? Sou quem todos são…
Modificar-me? Para meu igual?…
— Acaba lá com isso, ó coração!
.
sem data
.
Barrow, uma cidade, à beira do Rio Furness
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Fonte:
Barrow-on-Furness”. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). – 318.
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