Toda ação tem uma reação, e “Bacurau” nos mostra que está na hora de revidar, por Rafael Argemon

Por Rafael Argemon

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Em pré-estreias, coletivas e debates para promover seu novo filme, os pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles insistem que não há uma “mensagem” em Bacurau. Que a produção, vencedora do prestigiado Prêmio do Júri da mostra competitiva do Festival de Cannes, é simplesmente um filme de gênero com “observações”.

Pois é, o diabo mora nos detalhes.

Mesmo que por linhas tortas, o gênero sempre esteve presente no cinema de Mendonça Filho. Assim como o tema da luta entre invasores e invadidos, de um lado que impõe sua vontade goela abaixo de quem considera inferior. A diferença de Bacurau para O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016) é que, desta vez, o cinema de gênero é assumido de forma mais direta, sem subterfúgios.

Uma jogada muito bem pensada pelo diretores, pois os tempos não estão propícios para sutilezas. Como Newton ensina desde o século 17: para toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. E Bacurau é o revide de “igual intensidade” que estamos precisando.

 

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“Filmes de gênero são muito mais fortes e interessantes quando o mundo de alguma forma está alimentando ideias e realidades absurdas. As motivações dessa construção vêm desse mundo todo troncho e errado que a gente está cansado de viver. Ao mesmo tempo a gente gosta de cinema, quer se divertir fazendo cinema, quer ser feliz fazendo cinema. Então, às vezes a gente precisa ser um pouco cínico para lidar com certas coisas que estão nos agredindo, nos machucando, e jogar na tela uma resposta a isso”, explicou Dornelles em coletiva em São Paulo.

Porém, mais do que um filme de gênero, Bacurau é um filme de gêneros. Ele é um western spaghetti/filme de cangaceiro com toques modernos, mas que não esquece as tradições seculares; é um Mad Max com repente, um Predador que cai na caatinga e se transforma na caça, um Assalto à 13ª DP de bacamartes contra fuzis AR-15…

Um tipo de cinema que fascina e une Mendonça Filho e Dornelles, em que a ação é uma reação ao mundo que os cerca. E não há nada mais revolucionário que isso.

É bom não saber muitos detalhes sobre a trama de Bacurau. O fator surpresa é essencial para o máximo impacto da trama. Dito isso, o filme começa com a morte de Carmelita, uma ilustre moradora do pequeno vilarejo de Bacurau, no sertão nordestino. Pouco depois de os locais enterrarem sua matriarca, começam a perceber coisas estranhas. Bacurau não consta em mais nenhum mapa, os celulares não funcionam mais e até um disco voador é visto nas imediações. Até que uma dupla de motoqueiros chega como o prenúncio de algo terrível.

Bacurau, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29), é o filme certo na hora certa. Sua violência com muito gore e poucas concessões pode chocar uma parte do público, mas, acredite, nada é mais impactante que as pequenas “observações” de Mendonça Filho e Dorneles. Dói ver a carapuça nos servindo. Mas é o banho de descarrego que o Brasil necessita.

Redação

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