Nova Economia

Política industrial da saúde nos anos 2000 salvou mais de 200 mil pessoas na pandemia

O programa Nova Economia da última quinta-feira (15) contou com a participação de Carlos Gadelha, doutor em Economia e secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde e com a economista Joana Biava, técnica do Dieese na Subseção do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP) para debater o segundo eixo da nova política industrial, referente ao complexo industrial da saúde. 

Quando lançado, em janeiro, o programa Nova Indústria Brasil recebeu diversas críticas na mídia, em que especialistas citaram que o incentivo à industrialização é uma política ultrapassada. Mas, ao longo de suas falas, Carlos Gadelha deixou claro a importância de contar com programas de incentivo ao desenvolvimento e inovação tecnológica na área da saúde, sem a qual teríamos, durante a pandemia, ultrapassado a marca de um milhão de vítimas da Covid-19. 

“A política industrial brasileira inaugurada para a saúde, concebida nos anos 2000, salvou 200 mil pessoas na pandemia”, garante o secretário. 

Desta forma, os investimentos no Complexo Industrial de Saúde, programa lançado em setembro e que prevê mais de R$ 60 bilhões para o desenvolvimento da saúde pública no País, não é uma volta ao passado, mas sim um conjunto da nova visão contemporânea adotada, inclusive, em diversos países desenvolvidos.

“Há uma grande superação em que a sociedade e a vida, seja a vida das pessoas ou do planeta, surge como os grandes parâmetros das políticas públicas. São os grandes problemas que afetam a sociedade e requerem uma indústria forte, uma vasta inovação forte”, continua o entrevistado. 

Pandemia

Gadelha acrescenta ainda que a Covid-19, entre 2020 e 2022, mostrou não ser possível superar pandemias sem bases econômicas que viabilizem a produção de vacinas e equipamentos necessários para o combate às doenças. 

“Não fosse essa política estabelecida no passado, onde se estabeleceu parcerias entre o setor público e setor privado, dando nome claramente à Fundação Oswaldo Cruz, Butantan e empresas privadas, inclusive de diversas nacionalidades, esta política permitiu que fossem produzidas vacinas no Brasil quando a situação mundial eram países que tinham capacidade tecnológica e econômica compraram quatro vezes mais doses de vacinas do que necessitavam, e o Haiti não tinha vacinado ninguém”, pondera

Mais que garantir o direito à vida e à dignidade, a política industrial na área da saúde tem ainda um importante impacto na geração de emprego e renda. O secretário do MInistério da Saúde aponta que o setor gera 20 milhões de empregos, dos quais 8,6 milhões são diretos, de qualidade e com salários altos. 

Joana Biava confirma os dados de Gadelha. “A indústria da saúde tem um potencial muito grande de transbordamento, de emprego de alto nível. Quando investimos em empregos de alto nível, conseguimos um efeito de transbordamento para o resto da economia”, garante a técnica do Dieese. 

Reconstrução

A expectativa dos entrevistados é que os investimentos na área industrial da saúde, inicialmente previstos para R$ 42 bilhões, supere os R$ 60 bilhões nos próximos anos, dos quais metade dos recursos virá dos cofres públicos e o restante, do setor privado. 

Mas além de investir em tecnologia, a verba terá de ser usada também para reparar desmontes produzidos não só na gestão federal anterior, mas em nível também. Joana conta que o governo de João Dória, a frente do Estado de São Paulo, defendia a privatização de órgãos, inclusive do Instituto Butantan. 

“O governo Dória conseguiu extinguir uma superintendência que faz controle de endemias, faz pesquisa de vetores de transmissão, por exemplo da dengue. Agora temos uma super epidemia e, até agora, o estado não conseguiu recompor este atendimento. Os municípios estão sem nenhum apoio para o controle da dengue”, observa a economista.

De forma prática, o Nova Indústria Brasil deve resultar ainda em debates e políticas que decidam quais insumos farmacêuticos devem ser produzidos localmente e quais são mais vantajosos se exportados, segundo Joana Biava. 

Assista a entrevista na íntegra:

CONFIRA TAMBÉM:

Camila Bezerra

Jornalista

Camila Bezerra

Jornalista

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

10 horas ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

11 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

11 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

12 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

13 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

15 horas ago