Opinião

A Grita Antidemocrática Pós- Eleição, por Jorge Alberto Benitz

A Grita Antidemocrática Pós- Eleição

por Jorge Alberto Benitz

    Eu não sei como deve se agir para desbolsonarizar o país. Mas porém no entanto entretanto todavia contudo acredito que começar, pelo menos aqui nas redes sociais, a questionar a ditadura do algoritmo que ao oferecer serviços à la carte de acordo com os gostos e preconceitos do freguês, criou bolhas capazes de blindar as pessoas da realidade e mesmo nos leva a pensar se ainda são seres humanos possuidores de capacidade racional alguém que reza para um pneu ou que, como se viu no caso dos bolsonaristas portoalegrenses, vibrou com a prisão de Alexandre de Moraes. Com certeza, estes manifestantes enlouquecidos leram este tipo de desinformação, tida como noticia verdadeira, na sua bolha.

    Parece que isso resulta do envolvimento em política de pessoas que até então só viam novela e futebol e trouxeram para a política o olhar maniqueísta e passional que pinta o mundo de modo infantil dividindo- o em mocinhos e bandidos ou torcendo para um time e demonizando o time adversário.  Isso é comportamento de telespectador de novela que torce para o mocinho e a mocinha se dar bem e o vilão se ferrar e de torcedor de futebol, não de cidadão. Cidadão não é ou não deve ser nunca algo fundamentado em bases puramente emocionais como parece ser a base da extrema direita bolsonarista. 

    Conhecidos e amigos que a gente sabe ser razoável, ou eram até então, de repente, se tornam um poço de intolerância e agressividade contra quem pensa ou é diferente. Vozes se erguerão dizendo que sempre foi assim. Nananinanão! Nunca foi assim antes do advento da internet. Os ignorantes e toscos ideologicamente nunca se manifestaram como agora. Tanto que eram chamados de maioria silenciosa que só se manifestavam no escurinho da urna eleitoral ou em petit comitê com amigos e conhecidos que pensavam e tinham preconceitos religiosos, de classe social, raça e gênero iguais. Nos tempos pré internet, pelo menos, os valores republicanos eram respeitados. Respeito que até podia conter o espírito ladino da máxima de Rouchefoucald quando diz “A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude”. Enfim, havia um limite.

    Nunca antes se sentiram tão à vontade e sem vergonha para se expor de modo que a quem tem um mínimo de esclarecimento soa ridículo e truculento. Sem o abrigo do algoritmo que os coloca na internet como no espelho, isto é, somente diante de iguais, acredito que eles não resistiriam aos comentários críticos e as gozações sobre o modo tosco e ridículo que usam para se expressar e agir. O modus operandi das redes sociais favoreceu mais a barbárie que a civilização, pelo menos nestes primeiros momentos, porque seu espaço democrático organizou e empoderou o discurso antidemocrático que até o advento da internet somente se manif estava pelos canais tradicionais republicanos, pois, se exigia do cidadão um mínimo de decoro e capacidade argumentativa para aparecer na cena pública. Vou reiterar, sem ter medo de soar repetitivo, pela milésima vez o dito de Umberto Eco `”Os imbecis ganharam voz com a internet”, complementado pelo do escritor espanhol Javier Marías “A internet fez mais: Os organizou”.

    Outra variável importante é a identidade conseguida pelos que até então estavam a margem da discussão política posto que alienados e ignorantes totais a respeito do assunto e silentes adestrados que foram para tal durante a ditadura. De repente, não mais que de repente, a internet os oferece a oportunidade de participar sem precisar mudar seu jeito de ser. Não precisa ler, estudar e se preparar para atuar politicamente nas redes sociais. Aliás, quanto mais tosco, agressivo e desqualificado mais sucesso tem nas redes sociais. Assim como na era neoliberal o egoísmo virou o valor maior, agora este paradigma cedeu seu lugar a ignorância. Não por acaso, estes valores geralmente são conjuntamente cultivados pelo novo pensamento – se é que se pode chamar isso de pensamento – de vertente nitidamente de extrema direita. O neoliberalismo a despeito do discurso antidemocrático tinha compromisso com a democracia representativa, ainda que nos termos da máxima rouchefoucaldiana, ao passo que o trumpismo e seu clone o bolsonarismo não tem nenhum vínculo com os valores civilizatórios e democráticos, ao contrário, os combate como se vê muitos deles ajoelhados diante de quarteis, pedindo um golpe militar.

    Como se (de) formaram durante a hegemonia do pensamento único  (termo criado por Ignácio Ramonet, ex- diretor do Le Monde Diplomatique para caracterizar o pensamento neoliberal, que defende serem os valores do mercado superiores aos valores democráticos),  que dizia que política e políticos não prestam, que o Estado deve ser mínimo, que o empresário empreendedor “É o Cara”. Pensamento que corroborou a ideia de que qualquer ideia defendendo colaboração coletiva é negativa e, consequentemente, elevou o egoísmo a valor maior. Tanto que o indivíduo, para atuar politicamente, pode continuar a ser o mesmo sujeito ou sujeita sem noção, repetindo como papagaio o que ouviu de orelhada, cultivando os mesmos preconceitos, Basta defender o Kit de ideias acima mencionadas do neoliberalismo que já está  devidamente preparado e apto a atuar politicamente.  E assim este maravilhoso mundo novo virtual virá o habitat perfeito do sujeito medíocre que cultiva os valores conservadores e ou reacionários do senso comum. Se te sentires incomodado com um dos meios de comunicação, como por exemplo, a Globo, que agora assumiu uma atitude pro- democracia, basta mudares para a Record que se sentiras mais “bem informado”, no sentido de que nos veículos desta emissora vigora uma “pregação” mais condizente com os teus valores calcados na pátria, Deus e família, isto é, com os valores da sua bolha. Valores que soam e são iguais, o lema é o mesmo,  aos defendidos pelo fascismo de Plinio Salgado. Com o agravante da defesa de uso de armas.

    Não por acaso estão possessos com a derrota de seu candidato. Só não ousam dizer o que pensam acerca da democracia onde uma pessoa vale um voto. Até dizem, com outras atitudes e  palavras, quando, por exemplo, pedem intervenção militar, a volta da ditadura, mas não diretamente. Refiro-me ao fato de que acham que ganharam a eleição por que, de acordo com a sua mentalidade escravista, seus votos valem mais do que o voto dos nordestinos, dos negros, dos pobres e mesmo das mulheres.

    Com Trump já tinha rolado este ressentimento racista e fascista após sua derrota. Ressentimento que estes grupos de extrema direita não ousam externar porque seria fatal para seus propósitos futuros.  Esta é a razão, consciente ou inconsciente, da grita contra os resultados das eleições pelos bolsonaristas radicais golpistas de extrema direita. Sem falar que, também, estão furiosos porque mal tiveram tempo de saborear as delicias de ter um dos seus iguais como Presidente e foram derrotados. Contavam com um Reich de mil anos, quero dizer, com um império de mil anos ou, mais modestamente, o poder até 2035, proposto no “Projeto de Nação” feito por militares pró-Bolsonaro. Terminaram com um projeto de 4 anos.

Redação

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