Opinião

O belo gesto dos bancos e o massacre dos idosos, por Luis Nassif

Primeiro, vamos ao belo gesto. Em das irresponsabilidades típicas de Paulo Guedes, autorizou beneficiários do Auxílio Brasil a tomarem credito consignado nos bancos.

Os grandes bancos, reunidos em torno da Febraban – e puxados pelo Bradesco – recusaram-se, alegando tratar-se de populações vulneráveis que não poderiam ser expostas à operação.

O golpe de Guedes é simples de calcular.

Imagine uma família que receba R$ 600,00 por mês. Em 6 meses, receberá R$ 3.600.

Se decidir ir ao consignado, poderá obter R$ 1.800 (3 vezes o valor do crédito). Se for quitar o financiamento em 6 meses, imaginando que tenha levantado no Banco Master, com taxas de 4% ao mês. a prestação ficará em R$ 343,37. Descontando esse valor do que a família recebe, restarão R$ 256,63 por mês.

Ao final do período, a família terá recebido R$ 3.379,37 (os R$ 1.800,00 mais 6 de R$ 256,63), contra R$ 3.600,00, caso não tivesse recorrido ao consignado.

De qualquer modo, uma perda menor do que a parceria planos de saúde-laboratórios farmacêuticos infligem aos idosos.

Hoje em dia, idoso consegue apenas plano individual. Tem como contrapartida descontos graúdos nas grandes redes de farmácia – descontos que podem chegar a 50%. Significa que o custo efetivo do medicamento (com os 30% de margem da farmácia) é de 50% do valor cobrado de quem não tem plano.

O que ocorre com os idosos é cruel. Primeiro, são gradativamente expulsos dos planos por reajustes cada vez maiores nas mensalidades. Sem plano, o custo dos medicamentos dobra.

Criou-se um mundo em que há dois tipos de cidadãos: o que tem planos de saúde, pagando mensalidades cada vez maiores, mas obtendo descontos na compra de remédios; e os sem-planos de saúde, pagando o dobro pelos remédios de uso intensivo ou recorrendo a um SUS cada vez mais combalido.

É uma lógica de eugenia. Expulsa-se o usuário de planos de saúde por falta de condições financeiras; e, ao mesmo tempo, dobra-se o custo mensal para aquisição de medicamentos.

Supondo que a farmácia fique com 30% do custo final do remédio, significa que o custo efetivo da indústria é de 70% dos R$ 50,00, ou R$ 35,00 dos R$ 100,00 cobrados na ponta.

Há algo de profundamente errado e injusto nesse modelo.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Belo gesto, Nassif?
    Acho que o Fernando Brito, do Tijolaço, tem uma visão bem mais realista da situação:
    https://tijolaco.net/bancos-nao-fogem-do-roubo-fogem-da-roubada/
    Agora, me permita: não há nada profundamente errado nem injusto nesse modelo. Ele é o Capitalismo em sua versão mais pura, ou seja, produzir e vender para quem pode comprar.
    Quem não pode, não é da alçada deles, é do Estado, aquele mesmo que eles querem ver mínimo, e, se possível, extinto, menos naqueles setores que servem para sua proteção.
    Onde tem algo profundamente errado e injusto é nesse sistema em si, que transforma saúde e educação em mercadorias.

  • Espremendo até sair a última gota de sangue.
    Estou nesse estado. A qualquer momento esvair-se-á a última gota.
    O nome que tenho pra esse tipo de gente é LADRÃO.

  • Para os grandes bancos esses valores são irrisórios, além de não perdurarem por prazos maiores. Certos tipos de créditos feitos para tapar buracos, que não representam a satisfação de desejos somente alcançáveis no longo prazo, são tão de pouca efetividade quanto colocar em Bolsa empresas que não tem planos para aplicação dos recursos. Somente afrouxando os nós das gravatas. Quem recebe o "auxílio Brasil" possui rendas muito baixas, necessitando esses valores para resolver questões imediatas relativas à subsistência. Não têm a mínima ideia do que representa pegar esse empréstimo. O Brasil está se tornando um País precário, o improviso transforma-se em perene. Esse fosso social destrói qualquer possibilidade de futuro, reduz-se cada vez mais as condições competitivas de uma economia que vira um organismo sem força e vitalidade. Não é um problema de um, seja governo, administradores de empresas e sim de todos os setores da sociedade brasileira.

  • Nunca vi "descontos que podem chegar a 50%" em medicamentos, salvo os do Programa Farmácia Popular, mas este não tem nada a ver com planos de saúde. Há descontos expressivos em alguns medicamentos, oferecidos por alguns laboratórios, bastando simples cadastro do interessado. Descontos para detentores de plano de saúde são em média de 10% a 15% e, na maioria das vezes, é concedido para qualquer pessoa que pedir. Não vi fundamento na matéria.

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