O day after, por Izaías Almada

O day after

por Izaías Almada

Acabo de receber de um amigo, Paulo Pedrini, um religioso que trabalhou ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns, um Whatsapp que informa ter sido a missa matinal da Igreja de Santa Cruz de Itaberaba na cidade de São Paulo invadida esta manhã por um evangélico com a Bíblia na mão, anunciando que os infiéis seriam punidos e que a verdadeira religião era aquela abraçada e anunciada por Bolsonaro.

Não tenho por que duvidar da notícia, divulgada pelo padre Edmilson daquela paróquia, até porque tive uma discussão recente dentro de um ônibus urbano com um desses fanáticos religiosos que pregava “a palavra de Jesus” em voz alta.

Disse a ele, com calma, que deveria respeitar as pessoas que estavam no ônibus, pois ele não estava dentro de uma igreja e sim num transporte público. Possivelmente com pessoas de outras religiões e até mesmo ateus. Reagiu com arrogância e voz alta.

Sinal do que vem por aí? Com certeza. E não é fake news, como parece indicar a moda da comunicação atual. O padre Edmilson existe, o Paulo Pedrini existe e eu, até prova em contrário, existo. Parodiando o filósofo Descartes: existo, logo penso.

Talvez, mas a união do diabo com seus principais críticos é uma mistura inimaginável e real. Entretanto, a desinformação e a ignorância que parece se abater sobre o Brasil nos dias que correm pode criar as situações mais esdrúxulas e, fiquemos atentos, perigosas.

Mais do que a expressiva votação dada ao candidato da extrema direita é saber que o partido que abriga tais militantes tenha enviado para o Congresso Nacional uma grande bancada e, nela, duas figuras emblemáticas.

Duas pessoas que, pelos atos e pelas palavras a que se expuseram à opinião pública nos últimos anos, deveriam procurar ajuda na psicanálise: Janaína Paschoal e Alexandre Frota.

Que tenham se candidatado é um direito que lhes garante a Constituição. Que tenham sido eleitos, parabéns! Mas agora, vão precisar entender que se transformaram de pedra em vidraça.

Os próximos dias, com certeza, nos trarão mais surpresas. Na campanha para o segundo turno tudo e mais alguma coisa poderá acontecer. A história política do país nos deixa à vontade para fazer tal afirmação.

Quem, como eu, já viveu e presenciou o clima político na morte de Getúlio Vargas, a tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubstcheck em 1955, a deposição de João Goulart com o golpe de 1964, o AI-5 e a suspensão das garantias democráticas em 1968 com a repressão e o desaparecimento de cidadãos brasileiros e o golpe jurídico/mediático de 2016, sabe que não se faz omeletes sem quebrar os ovos.

Está aí um bom momento para ressurgirem os verdadeiros democratas; mulheres e homens de bem do país, estejam onde estiverem, na indústria, no comércio, nas universidades, nas Forças Armadas, nas plantações de soja, de café e açúcar, entre os petroleiros, nos sindicatos, entre os estudantes, mulheres e homens que queiram um Brasil dentro de um convívio pacífico entre cidadãos, reorganização e respeito às instituições.

Um país que não se transforme em laboratório para a sua própria destruição. A Alemanha já mostrou ao mundo o que pode causar mal a um país quando as pessoas não se importam minimamente com a ascensão da violência político/ideológica.

 

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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    • Grato Bruno, mas o equívoco,

      Grato Bruno, mas o equívoco, involuntário, não altera o contéudo das minhas reflexões.

      Espero, sinceramente, que no próximo dia 28, o Brasil acorde desse pesadelo anunciado no último final de seman. Saudações.

  • Pois eu acho que o "coiso"

    Pois eu acho que o "coiso" tem que ganhar e digo porque:

    1. Ganhe quem ganhe a crise vai continuar. Se for o PT aumenta o desgaste do partido. Se forem os fascistas vamos ver como eles governam só com palavras de ordem. A realidade vai devorá-los;

    2. Se o PT ganha, além de herdar a crise política/econômica, acho que vai ter novo golpe;

    3. Bolsonaro, mais do que ninguém, é a legítima encarnação do brasileiro médio. Estou louco pra ver o país encontrando o seu verdadeiro "eu";

    4. O país está precisando levar um "banho de realidade fascista" pra ver se acorda: ou seja, deve experimentar as delícias de um mundo excludente, intolerante, violento e autoritário pra ver o que é bom pra tosse.

    Lógico que o cenário é de pesadelo, mas o Brasil vai ter que passar por essa. Vou expurgar também, mas serão anos inesquecíveis, de muito sofrimento e aprendizado.

    Nessas circunstâncias meu único consolo é que, depois de assumir o poder, muito bolsonarista convicto vai levar um choque em descobrir a m**** que fez. ou seja, apoiar alguém que ia "destruir a política", mas teve que apelar para os mesmo de sempre para governar...Também quero ver ele solucionar a crise econômica aplicando um receituário neoliberal violento....... A ilusão vai ter vida curta. Outra coisa que quero ver é se ele vai peitar a Globo como prometeu, ou se vai enfiar o rabo no meio das pernas e trair abertamente o Edir Macedo. Finalmente, quando a primeira grande crise estourar não vai demorar muito para o "mito" se voltar contra os próprios fiéis insatisfeitos, devorando-os. 

    Quero ver a cara de otária dessa gente. São todos imbecis convictos, não há o que os faça voltar a razão, por isso tem que levar um choque.

    • Estou tendendo a concordar

      Estou tendendo a concordar com você. O problema é que no fim desses 4 anos, não haverá mais pré-sal, nem Embraer, nem Eletrobras, nem Petrobras, nem Banco do Brasil, nem SUS, nem programas sociais, nem direitos trabalhistas...

      E quem disse que os que estão por trás do coiso vão aceitar deixar o poder depois de 4 anos? A última dessas "brincadeiras" durou 21 anos.

      E quem disse que os brasileiros vão aprender a lição? Todos os progressistas avisaram que a história do "é só tirar a Dilma que tudo melhora" era mentira. A realidade está sendo esfregada na cara dos patos amarelos. Veja se eles admitem a besteira que fizeram. Em vez disso, estão prestes a fazer uma besteira ainda maior.

      • Quatro anos?

        O problema é que, se o Bolsonaro ganhar, daqui a quatro anos poderá não haver mais "daqui a quatro anos".

        Sim, o governo dele vai um desgoverno. E, sim, se houver novas eleições, ele será derrotado.

        Mas ele não é burro e sabe disso. Ele sabe que não pode haver novas eleições daqui a quatro anos - pelo menos, não novas eleições livres, com os partidos que existem agora. E, portanto, ele vai trabalhar de imediato para resolver esse problema. Ele tem capital político para isso - o ódio aos partidos é disseminado, a velha classe política está desmoralizada, ninguém vai verter lágrimas de sangue se o FHC, o Jucá, o Eunício, o Rodrigo Maia forem presos. Até por que haverá a cortina de fumaça da "corrupção" para encobrir o fato de que serão prisões políticas.

        Ele vai tentar fazer o Congresso se suicidar - e vai ter apoio popular pra isso.

      • Bem, Jorge... se depois de 4

        Bem, Jorge... se depois de 4 anos de pancada no lombo esse povo não aprender nada... então vou ser obrigado a concordar com nossa elite nojenta: esse povo não vale nada mesmo.

        Esperamos que o brasileiro seja melhor que isso.

      • Concordo com tudo que

        Concordo com tudo que escreveu. Vai ser um desmanche total da economia e da sociedade brasileira, disso não tenho dúvidas. Mas quero ver o circo pegar fogo mesmo.

        As políticas de inclusão, afirmação e fortalecimento da soberania nacional foram abertamente demonizadas pela mídia e o grosso da população comprou a ideia. Agora, o bolsonarismo promete fazer tudo ao contrário e isso vai produzir, sem dúvidas, uma situação social altamente explosiva. Então, se o povo assim o quer (ou a isso foi convencido, agora isso pouco importa), que se toque fogo no puteiro...

         

    • Como os demais colegas

      Como os demais colegas considero que o que voce diz faz sentido. A nazifascimso na Europa só não vinga novamente porque já passaram pelo trauma. Na hora H, apesar de todo o problema dos imigrantes, do terrorismo islâmico e etc, eles se lembram do que foi o pesadelo por qual passaram. Menos na Itália, parece né?

      Só que nós da classe média podemos assisitr a esse "aprendizado" relativamente seguros, desde que façamos oposição apenas no computador (e olhe lá). Agora para os pobres, inclusive os de direita, são outros quinhentos.

      O aumento da pobreza extrema sem qualquer amparo estatal vai produzir uma massa de seres desprovidos de tudo, principalmente de dignidade e senso de humanidade. Isso pode se traduzir em violência descontrolada e a falta de um mínimo de qualidade de vida aceitável para todo mundo. Nenos os ricos e bilionários em sua bolha, claro.

      Dainte disso a resposta "bolsonariana" é uma só: "acabar com a raça do vagabundo". O método de acabar com a pobreza é acabar com o pobre. Assim como o método de acabar com o PT é acabar com o petista. Seja pela metralhadora ou pela faca, como vimos na Bahia no caso do mestre de capoeira.

      Que país teremos depois disso? Haverá algo para se reconstruir? 

    • Antes um fim com terror do que um terror sem fim

      Faço minhas as palavras de Marx que constituem o título do meu comentário. Eu também já estou quase jogando a toalha. Acho que vou votar no Bolsonaro. Claro que corro riscos e tenha pena de muitos que serão suas vítimas tanto em termos de economia quanto em termos de violência. Apesar disso, sei que burros continuarão a encantar a maior parte da população, tal qual fez o Temer.

  • Cristãos Hipócritas crêem em Cri$to, em Deu$ e no E$pirito $anto

    Pode um Cristão de verdade adorar e idolatrar um sujeito que afirma que policial que mata deve ser condecorado, em vez de punido; que mulher feia não merecer ser estuprada, que mulher tem que ganhar menos do que o homem, mesmo que trabalhe tanto quanto este; que ensina criança a atirar; que elogia torturadores; que diz que os Militares, quanto deram o golpe, deviam ter matado mais pelo menos 30 mil pessoas, que vai metralhar o Acre, que usa o auxílio-moradia para comer gente, que negro pesa arrobas, que quem vota em Lula tem que comer capim?

    Os Mercadores da Fé e seus rebanhos que adoram tal besta não são cristãos, são hipócritas, pois Jesus Cristo vivia e pregava o amor e o perdão.

    Que cristianismo é este?

    "Eu vim para que todos tenham vida", disse Jesus Cristo. Em sendo assim, só Cristãos de meia tigela para idolatrar um cafajeste como esse Bolsonaro.

  • Em meus percursos pela

    Em meus percursos pela periferia, vejo muita gente com bíblia na mão. Vejo gente lendo bíblia no ônibus. A coisa mais comum é uma pessoa se dirigir a mim me chamando de "irmão" e, em seguida, usando alguma frase que tem Deus no meio. Batem em minha porta querendo falar de religião. Conheço pessoas adeptas de alguma religião evangélica que não misturam as coisas, votaram e votam no PT, mas estou começando a acreditar que são raras e honrosas exceções. Setores progressistas da Igreja foram desprestigiados pelo Papa dos anos 80 e 90. Estas igrejas e seitas evangélicas teriam tido todo este crescimento se isto não tivesse ocorrido?

  • A parte que me cabe nesse latifundio

    O que fazer com essas semana antes do segundo turno? Vamos a luta. Tenho feito um trabalho de formiguinha, tentando esclarecer as pessoas que o Brasil não vai se tornar um lugar seguro porque todos portam armas e onde todos poderão matar a todos. Tenho falado do carater do deputado bolsonaro e de sua pouca transparência de homem publico. Não falo em homofobia, religião ou machismo-sexismo porque esses temas não interessam a turba que vota nesse tipo de candidato. Vamos tocar nas questões realmente essenciais para a população atualmente que são violência, trabalho e corrupção. 

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