O slogan crente-fascista e o grupo de eleitos, por Ricardo Mezavila

O slogan crente-fascista e o grupo de eleitos
Por Ricardo Mezavila

Compartilhamos dias abstratos e sem precedentes na história da civilização moderna. O povo brasileiro tinha a opção de votar em um professor, um economista, um advogado, um médico, um engenheiro e uma ambientalista, mas elegeu um miliciano.

O professor, o economista, o advogado, o médico, o engenheiro e a ambientalista, segundo esse povo, praticavam a ‘velha política’, faziam parte de uma bolha ideológica insuportável. Era a hora da mudança, do slogan crente-fascista: “Brasil acima de tudo, deus acima de todos”.

Confundiram eleitor, o que elege, com eleito, o escolhido. Praticamente fundaram um novo grupo étnico – capítulo obrigatório nos futuros livros de antropologia -, que explicará o fenômeno desse grupo social complexo, sem senso crítico, ético, moral, que sofre convulsão diante da cultura e ignora princípios básicos de convivência pelo prazer do escárnio ostensivo e menosprezo pela diversidade.

Acreditaram irmanados que o ‘novo’ viria num amontoado de ódio e preconceito, com discurso ‘hitlerista’ sobre segurança pública, pena de morte, aborto, maioridade penal, religião, família, levantaram a bandeira dos hipócritas e conservadores, demonizando a esquerda ‘comunista’ com a tese de que, caso eleita, implantaria o kit gay e a mamadeira de piroca nas escolas e, de quebra, entregaria o país aos interesses dos russos e dos chineses.

Se esse povo se interessasse por política, não seria enganado e jamais votaria em um candidato que passou vinte e sete anos vivendo de bravatas e corrupção na Câmara dos Deputados sem apresentar projeto relevante, que ensinou seus filhos a transformarem gabinetes parlamentares em escritórios do crime, que ameaça e ofende mulheres, pretos, índios, homossexuais, que não tem estatura para ocupar o cargo, que ameaça e não responde jornalistas quando questionado sobre o porquê de Fabrício Queiroz ter depositado R$89 mil na conta de sua esposa.

Nesses dias de experimentos subjetivos e estranhos, onde um veterinário assume o programa nacional de vacinas contra o coronavírus, onde o negacionismo abstrai contaminados e mortos, nesses dias de cloroquina na farmácia popular e de força nacional contra camponeses, a democracia está em recesso.

 

Ricardo Mezavila, escritor, pós graduado em Ciência Política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro

Redação

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