Se você ficou satisfeito com o seu “home-office” tem alta chance de estar executando um “Bullshit-Job”, por Rogério Maestri

Se você ficou satisfeito com o seu “home-office” tem alta chance de estar executando um “Bullshit-Job”

por Rogério Maestri

Com a pandemia parte dos profissionais de nível médio e superior passaram a executar trabalhos em regime de “home-office”. Uma grande quantidade desses novos trabalhadores a distância ficou desesperado com os resultados obtidos com essa forma de trabalhar.

Os professores que ficaram insatisfeitos com seu trabalho a distância, devem ficar altamente satisfeitos, pois o seu sentimento indica que VOCÊ NÃO ESTÁ REALIZANDO UM BULLSHIT-JOB. Aqueles que não notaram diferença no rendimento, fiquem preocupados, pois em muito breve poderá estar sendo substituído por algum computador treinado, que realizará um trabalho muito melhor do que o seu.

Muitas pessoas achavam que um “Bullshit-Job” era um sinônimo do trabalho de um empregado numa empresa de saneamento ambiental, que é chamado quando entope um conduto de esgoto cloacal. Porém, como ele tem que ir até o local, verificar qual das situações dentro das centenas possíveis do entupimento do esgoto que está ocorrendo, com isso ele deve traçar uma estratégia de desentupimento, que pode variar desde pegar um pequeno arame e cutucar no cano até condenar a instalação e solicitar que essa seja parcialmente ou totalmente reconstruída. Essa necessidade presencial e insubstituível demonstra que seu trabalho está muito longe de ser um “Bullshit-Job”, mas sim um trabalho essencial (assim como os professores!!!).

A pandemia e o “home-office” está sendo um fator de definição do que é um “Bullshit-Job”, ou seja, um trabalho inútil que se consegue ser realizado a distância, longe de colaboradores ou equipes, adapta-se perfeitamente a filosofia do “home-office”.

Há uma piada que resume o que vem a ser um “Bullshit-Job”. Um leão entra dentro de um escritório e se esconde muito bem e num dia come um dos seus funcionários, ninguém nota, noutro dia come um segundo, mesma coisa ninguém repara a falta dos dois. O leão segue a sua rotina, porém um dia ele faz um erro fatal, ele come a responsável pela limpeza da sala, retirada do lixo e do cafezinho, no mesmo dia todos notam e acham o leão.

A geração de empregos inúteis são muitas vezes função das próprias chefias, se um chefe tem dois funcionários que fazem todo o serviço, ele é um chefete, porém se ele consegue que o seu setor para realizar praticamente o mesmo trabalho tenha vinte funcionários, como o chefe tem mais funcionários ele terá maior poder e melhor salário, mesmo que em última instância gere um monte de formulários inúteis que deverão ser preenchidos por outros que trabalham na produção real.

Em várias cidades do mundo durante a pandemia, diversas pessoas tomavam alguns minutos para aplaudir os profissionais da saúde, entretanto ninguém aplaudia os empregados de fabricas de beneficiamento de carnes ou mesmo os vegetarianos, não houve homenagens aos agricultores que cultivam as verduras que eles comem. Poderia ir mais adiante, quem utiliza a Internet, não bateu palmas para os empregados das geradoras de energia que se mantiveram todo esse tempo trabalhando para que não faltasse energia nos computadores ou refrigeradores. Talvez no futuro, drones especializados vão inspecionar redes elétricas quando essas falharem, porém para consertarem elas ainda serão necessários trabalhadores.

O judiciário em todo o mundo se adaptou muito bem ao trabalho a distância, excetuando cenas escatológicas que foram gravadas, ninguém deu muita importância que as ações no lugar de demorarem cinco anos para serem resolvidas vão levar seis anos. Já advogados comerciais, se simplesmente não existissem as pendengas seriam resolvidas a tapas ou a tiros ou simplesmente com conversas entre os prejudicados com aqueles não dispostos a violência, ou seja, um legítimo “Bullshit-Job”.

Aos trabalhadores que não tiveram como fazer seus trabalhos em “home-office”, desde o desentupidor de esgoto pluvial, aos eletricistas até os dentistas, podem ficar tranquilos, os seus trabalhos poderão ser melhorados com equipamentos mais modernos, como robôs que entram nos canos para descobrir a onde está o entupimento, ou mesmo produtos dentários que diminuem o sofrimento dos que vão ao dentista, podem ficar certos seus empregos estarão garantidos por muitos anos e durmam tranquilos.

Quanto aos professores, principalmente os de creches e do primeiro grau, não existirá robôs que os substituam.

Redação

Redação

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  • Rogério Maestri

    Parabéns por estes dois parágrafos excepcionais que descrevem a realidade do mundo corporativo.

    "Um leão entra dentro de um escritório e se esconde muito bem e num dia come um dos seus funcionários, ninguém nota, noutro dia come um segundo, mesma coisa ninguém repara a falta dos dois. O leão segue a sua rotina, porém um dia ele faz um erro fatal, ele come a responsável pela limpeza da sala, retirada do lixo e do cafezinho, no mesmo dia todos notam e acham o leão."

    "A geração de empregos inúteis são muitas vezes função das próprias chefias, se um chefe tem dois funcionários que fazem todo o serviço, ele é um chefete, porém se ele consegue que o seu setor para realizar praticamente o mesmo trabalho tenha vinte funcionários, como o chefe tem mais funcionários ele terá maior poder e melhor salário, mesmo que em última instância gere um monte de formulários inúteis que deverão ser preenchidos por outros que trabalham na produção real."

    • Caro Fernando.
      Número 1: Quando coloco uma expressão em língua estrangeira coloco entre aspas, exatamente para chamar a atenção que não é português.
      Número 2: “Bullshit-Job” é uma expressão consagrada que traduzida perde o sentido, logo traduzi-la é um erro. Traduzir por exemplo para "trabalho de mer.." pode dar sentido de um trabalho ruim ou mal remunerado, a expressão tem um sentido bem mais complexo do que isso.
      Numero 3: O teu comentário que é em português mesmo um comentário simplesmente fora de sentido, só para ficar engraçadinho, vou dormir no tanque hoje de noite fumando boa-noite de tanta preocupação.

  • Bem...
    Meu trabalho é para o público interno da minha fonte pagadora. Os colegas se beneficiam quando, por exemplo, contrato um curso de aperfeiçoamento pra eles. É possível q minha mão de obra possa ser substituida por um aplicativo. Porém, se um software pode ocupar meu lugar, nem meu chefe seria necessário, pois o chefe dele tb pode apertar o enter. No fim das contas, nem meus colegas precisariam de treinamento. Um outro programa tb poderia fazer o trabalho deles. E melhor! Portanto, constata-se q todos nós somos descartáveis. Até mesmo os doutores da lei, visto q o melhor julgamento poderia ser aplicado por um computador. Nesse caso, em poucos minutos, ou segundos, a máquina analisaria milhões de setenças e indicaria a alternativa mais adequada para solução do problema. Enfim, se assim é, q assim seja. Vou pesquisar no google se já existem textos escritos por autores virtuais. Assim, diariamente, um único operador poderia determinar a produção de dezenas de histórias. Bastaria marcar alguns quadrinhos no formulário q aparece no monitor para q a inteligência artificial desenvolvesse os mais belos contos. Mas um dia esse operador tb será enquadrado como obsoleto...

    • Santos, meu caro.
      O problema não são as pessoas, pois elas essas são totalmente subutilizadas na sua criatividade, coisa que nenhuma "inteligência artificial" poderá substituir, inclusive os grandes especialistas no assunto, dizem que o que temos não é "inteligência" coisa nenhuma, o que existe, é como citaste um treinamento de máquina onde com milhões de informações se procura ajustar a uma realidade nova, mas sempre esse ajustamento é uma cópia.
      O futuro da humanidade em termos ideais, era a pessoa trabalhar cada vez menos e questão de tempo suficiente para produzir algo útil e o resto do tempo utilizar para seu aperfeiçoamento e atividades criativas.
      O que vemos nos dias atuais é o mais do mesmo, tanto nas chamadas big-techs como na indústria em geral.
      Quem disse que eu quero controlar por telefone meu refrigerador, pode parecer estúpida essa última observação, mas parece que é isso que nos estão propondo com a famosa tecnologia 5G, ou seja, controle inúteis de coisas comuns e uma transmissão de velocidade incrível de uma quantidade de dados, 99,99% inúteis, para quando procurarmos os 0,01% que serviria para alguma coisa útil tenhamos a visão encoberta por todas as bobagens.
      O teu exemplo final só faltou algo, jamais a máquina criará belos contos, poderá criar remakes de contos anteriores com mudanças cosméticas na aparência, ou seja, a capacidade de uma máquina ser INTELIGENTE só será possível quando soubermos matematicamente o que é inteligência e isto nem começamos a pensar.

  • Esse é um legítimo Bullshit-Article. Achei tendencioso e mal escrito... O que ele diz bullshit-job é na verdade um "trabalho" que pode ser feito remoto (inclusive o trabalho dos professores, ou EaD é mito?). O que se refere a bullshit-job na verdade tem a ver com a pessoa que vai pro trabalho e não faz nada (exemplo do Leão). Mas esse cara vai fazer "nada" em casa também... O problema não é o Bullshit-job, e sim as Bullshit-people

    • Henrique, meu caro.
      Sinto muito dizer, mas Bullshit-Job foi definido pelo antropólogo David Graeber que na origem significam trabalhos sem sentido, a sua definição é ampla, mas infelizmente para o teu argumento, não significa alguém que não faz nada. Significa um trabalho que socialmente não agrega nada a produção. Os autores norte-americanos dão voltas para não dizer "trabalho socialmente necessário" porque essa é uma definição de Marx, e no momento que qualificar algo como um trabalho socialmente necessário, cai na teoria do valor de Marx e não em outras teorias esdrúxulas sobre o valor. Agora se ainda duvidas da minha conceituação sugiro que leias no VOX (https://www.vox.com/2018/5/8/17308744/bullshit-jobs-book-david-graeber-occupy-wall-street-karl-marx) a entrevista do próprio David Graeber, que inventou a definição e escreveu um livro que vulgarizou a expressão. Agora se queres outra definição escrevas o teu livro.
      Essa concepção de que somente os trabalhos que se encaixam na definição de "Bullshit-Job" o trabalho de alguém que faz que trabalha é um erro grave, pois há milhões de pessoas que tem um "Bullshit-Job" e trabalham durante todo o tempo preenchendo formulários, fazendo relatórios e inventando planilhas para outros preencherem e que ninguém as lerá.
      Poderia citar exemplos de funções em determinadas profissões que são ao contrario de um "Bullshit-Job", por exemplo, um médico que trabalha como tal e não por exemplo um executivo de um plano de saúde que é médico, produz um trabalho socialmente necessário, o mesmo são outros profissionais de nível superior como o dentista que citei no artigo. Mas o mais claro de se verificar nos trabalhos socialmente necessários são nos quadros de nível inferior, desde o servente de obra, o pedreiro, o carpinteiro, o mestre de obras e daí por diante.

  • Leiam Miguel Nicolelis, "O verdadeiro criador de tudo". A inteligência artificial dos computadores só pode usar comunicação e processamento binários. O cérebro humano só usa binário para comunicação externa. Internamente e nas "brainets" a linguagem é analógica, com uso de recursos que nem sequer foram totalmente identificados ainda.

    Nos anos 70, Millor Fernandes fez uma tira na Veja, em um dizia:
    - A máquina ainda vai substituir o homem
    E outro respondida:
    - Se ela conseguir, vai ser bem feito!

  • Wilson, tocaste num ponto central, a linguagem binária versus soluções contínuas.
    Poderíamos tentar algo semelhante ao pensamento humano se utilizássemos uma lógica Fuzzy (ou lógica nebulosa ou difusa), porém as definições nesse tipo de lógica para obter um resultado operacional são relativas e diferentemente não dão uma solução completamente absoluta, ou seja, o verdadeiro obstáculo da chamada IA é exatamente a ausência de soluções sim e não.

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