A crise irá derrubar PT e PSDB, por Luciano Alvarenga

Por Luciano Alvarenga

Os Movimentos de Junho de 2013 ainda aguardam uma leitura acurada e profunda de suas causas, sentidos e direção. Historiadores e sociólogos, se houverem, darão conta de lhes jogar luz. Mas alguns elementos de 2013 pela força e contundência emergiram a flor do entendimento.

O abismo entre a cidade digital e sua cultura virtual e moderna, e a cidade analógica e, sua cultura anacrônica e desigual é um ponto fulcral a explicar os manifestos nos grandes centros de São Paulo e Rio. A distância crescente entre poder e povo, ou, o povo entendido apenas como vítima, aquele que é merecedor apenas de assistência e bolsas remediadoras, assistindo uma classe política divorciada de seus compromissos republicanos. A falta de lugar e sentido pra um entendimento mais espiritual da vida, onde o cotidiano não se resuma apenas a comer e consumir. O enfezamento com a ideologização da vida e a transformação de tudo e qualquer coisa num vetor político. A campanha maciça em torno da ideia de que a vida nada mais é que o agora, sem futuro nem sentido, motorizando a realização dos desejos como imperativo sobre tudo e qualquer coisa é o pano de fundo a determinar o curso do que irá acontecer a partir de agora.

A contundência do movimento, sua força e grandeza indicam, certamente, que algo mais que descontentamento com ônibus e corrupção está na raiz dos protestos. Há um enfado com a vida na cidade.

Os problemas das metrópoles brasileiras são mais que seus problemas reais e concretos, há um esgotamento desse sentido moderno e urbano de viver. A crise é cultural e espiritual.

É dentro desse caldo amargo de coisas que vem se juntar agora a imensa crise de corrupção na Petrobrás, o endurecimento cotidiano com aumentos escorchantes de impostos, tributos, multas e cobranças, associado ao esfriamento da economia, falta daqui pra frente de emprego, déficits públicos de todo tipo e natureza, e uma presidência assentada no maior estelionato eleitoral de que se tem notícia em nossa época democrática.

Ao mesmo tempo, a crise de governança estadual no sudeste brasileiro, em que o mais importante partido de oposição, PSDB, está afundado num baita colapso de falta de água, fruto, evidentemente, da falta de qualquer política de médio e longo prazo na gestão dos recursos hídricos.

O enlace dessas duas crises, em plano federal (PT), e estadual, dado que Minas Gerais e São Paulo são governados pelo PSDB à vinte anos, expõe o fracasso desses dois partidos na condução do país e a falência da cultura política de esquerda no plano cultural, social e econômico. De repente estamos de volta ao período Collor.

No dia em que as torneiras amanhecerem secas no Sudeste, e elas estão assim cada vez mais, a revolta vai campear pelas cidades.

Redação

Redação

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  • "A distância crescente entre

    "A distância crescente entre poder e povo, ou, o povo entendido apenas como vítima, aquele que é merecedor apenas de assistência e bolsas remediadoras, assistindo uma classe política divorciada de seus compromissos republicanos":

    !!!!!!!!!!!!!!!!!

    Nao da pra confundir "o povo" com "os pobres" agora, ne?  Especialmente porque essa eh a definicao de "povo" da direita, nao da esquerda!

    O POVO quer um ministro da justica, entre varias outras coisas.

  • maisi um articulista a

    maisi um articulista a navegar nas água turvas da 'revolução' urbana...

    até pode ocororrer, mas prever assim por enfado, já é demais....

    se houver, não há ilusão, é decorrencia do conluio entre grande mídia golpista

    e os interesses que querem desconstruir-desestruturar a

    economia brasileira para retomar  o poder neonliberal para financeirizar tudo.

    só faltará um banqueiro no poder....

    a miopia política pode cegar...

    a dita apolitização resultará num massacre aos interesses populares, da maioria.

    os tais manifestantes de 2013 agora trocarão a liberdade e a democracia por

    uma espécie de ditadura egípcia, cujo golpe no brasil

    será dado pelo juriputricário mancomunado com esses interesses retrógrados.

    o equívoco desses manifestantes urbanos de agora é não pereber que são e serão

    manipulados por esses interesses.

    especialmente porque não têm visão política sobre isso.

    já li que o cabo anselmo - aquele traidor dos movimentos sociais na era goulart -

    está agora ligadaçao na operação lava-jato.

    talvez supervisionando mais um golpe, como o tramado contra jango.

    duvidei desta informação.

    mas lembrei do cabo anselmo porque pode aparecer esse tipo

    de traíra para justificar qualquer coisa neste tipo de manifestação.

    se ocorreu na época politizada pré-64, imagine numa era de

    apolitização, onde o cara não enxerga dois palmos à frente do nariz.

     

     

  • Reconheço o esforço do

    Reconheço o esforço do articulista em tentar traduzir "o espírito da época" e a partir dele fazer projeções políticas porque é na Política onde busca fenômenos pinçados a dedo para dar algum sentido no que escreve.

    Na realidade, essa minha introdução "cheia de dedos" é para amenizar um pouco o que sinceramente acho do texto: fraco. aliás, fraquinho. Difícil se achar, mesmo com toda a boa vontade, conteúdo num arrazoado que apela para frases de efeito, análises rasas e subjetivas dos fatos. 

    Uma alegada contradição, ou um diapasão,  entre a "cidade digital" e sua cultura moderna(?) e a "cidade analógica", essa anacrônica, portanto à margem do tempo da primeira, é uma forçada intelectualização da manjadíssima iniquidade social que persiste ainda merce dos avanços materiais. 

    Claro que o apelo recorrente, demagógico e de cunho subjetivo, à materialidade da vida, não poderia faltar. Ora, o que faz pessoas irem às ruas protestarem é exatamente a carência ou insuficiência de bens materiais. Ou seja, são bem menos prosaicas e "profundas" as razões para esses descontentamentos. 

    E o que se espera logo ao se inciar a leitura, aconteceu: a inclusão desse "caso Petrobrás" como mais um ingrediente para atiçar a massa desespiritualizada. Idem para a reeleição da presidente Dilma Roussef, "assentada"(sic) num estelionato eleitoral. 

    Mistura do óbvio com desejos pessoais travestida de análise honesta e imparcial é o que se filtra após a leitura desse post. 

  • Caro Nassif e

    Caro Nassif e demais

    Realmente há dua crises, uma da direita, que é real, e outra, que tomando por base essa realidade, eles criaram uma crise da esquerda, para voltarem ao poder.

    A chamada crise da esquerda, é na realidade, o projeto da direita, de voltar ao poder.

    A direita, tem na mentira, sua grande e verdadeira aliada, a esquerda, via Dilma, infelizmente, está se deixando desmoronar, os militantes, por sua vez estão, a um milhão por segundo.

    Saudações

     

  • Ainda tem gente que louva "junho de 2013"?

    Junho de 2013 é como se nunca tivesse existido.

    Tirando o pobre cinegrafista Santiago Andrade, que morreu por causa da irresponsabilidade plantada naqueles dias, e a tristeza de sua família, junho de 2013 não serviu pra nada. Aliás, serviu pra tumultuar a vida de trabalhadores tentando voltar pra suas casas depois de um dia de trabalho. Serviu pra um monte de garotos usando tênis importados, com máscaras no rosto, se dizendo "anarquistas" e "black blocs", quebrarem tudo que viam pela frente (inclusive o Itamaraty), espalhando o terror entre inocentes.

    Serviu pra Sininho mostrar sua intolerância, jogando bomba de prego e molotov em quem discordasse dela, e depois ser presa e depois fazer ensaio em revista burguesa.

    De resto, o "estamos mudando o país", "o gigante acordou", não passaram de frases de facebook, que não sairam das faixas. Os protestos não passaram de uma modinha de inverno da garotada do face.

    Começaram com o Movimento Passe Livre tentando incendiar São Paulo, depois de dez anos de existência inativa, rebelando-se seletivamente só num governo petista. Depois a direita acéfala do facebook, "sem partido" e sem líderes e ideias, tomou conta de tudo, junto com os oportunistas da Oposição, cuja única proposta política sempre foi o golpe. Aí a esquerda inconsequente foi a reboque, sonhando com uma revolução socialista no país.

    E quando tudo fedeu a garotada voltou pro facebook, a Oposição voltou ao seu deserto de ideias e sobrou pra esquerda inconsequente a cadeia.

    O mote da garotada do face era "mudar o país". Da direita acéfala era a volta da ditadura militar. Da Oposição era derrubar a Dilma e o PT. E da esquerda inconsequente implantar o socialismo.

    Ninguém conseguiu seu objetivo, Dilma foi reeleita, o Congresso continua a mesma esbórnia e o Judiciário e MP encabeçaram a guinada para a irresponsabilidade, estabelecendo seus auxílios-moradia inconstitucionais e ilegais, numa espécie de "dá cá o meu" disfarçado.

    Em suma: junho de 2013 não foi nada. E querer atribuir a nada a qualidade de fato histórico relevante, de momento de inflexão e mudança de rumo na vida nacional, só pode partir de quem está fora da realidade.

    • Alan

      Parabéns pelo comentário. Penso o mesmo desde o 1º instante. Essa gurizada, como diriam os Gauchos, não tem estofo nenhum. Não tiveram uma formação política e não aprenderam a discernir nada, simplesmente seguem a moda de outros países em suas "primaveras",  criadas pelos interesseiros de sempre. Não passaram de "massa de manobra", os inocentes. Se conseguiram, após aquele período, se interessar mais a fundo pela política e pelo país real, sem se guiarem pela  repetição de frases colocadas nas redes sociais da vida, pode ter valido. No mais, nada valeu, ou até piorou as coisas.

    • Sintomatologia patológica

      Muito sintomático isso de dizer que junho de 2013 jamais existiu!


      Procuro analisar a razão dessa negação no meu comentário acima ("Sonhatismo crônico"), que curiosamente começa com a observação:


      "À diferença da obtusidade ideológica de certa 'esquerda' governista (ou talvez melhor dizendo, do governismo puro e simples), as ciências sociais partem da constatação meio que óbvia de que junho de 2013 realmente aconteceu".

      • Nunca disse que não existiu

        Existiu, mas não foi nada. Irrelevante, assim como MPL nos anos anteriores a Haddad. Assim como as suas Ciências Sociais, que não te ensinaram nem a trolar direito...

  • Luciano Alvarenga, você diz

    Luciano Alvarenga, você diz que a crise vai derrubar o PT e o PSDB.

    O PSDB até concordo, se não tivesse o apoio da mídia já teria sumido do mapa há muito.

    Em relação ao PT, qual o novo partido que você acha que deve substitui-lo ?

    Um novo partido com velhas raposas ? Como o tal do PL, um monstrengo sendo criado em "laboratório" pelo Kassab?

    Porque novo partido com novos politicos não terão vez no Brasil até que as velhas raposas morram, até porque, eles não largam o osso.

    Digo e repito, se o PT conseguir estancar 30% dos efeito deletério do PIG à sua imagem, o partido nada de braçada nas próximas 3 eleições.

    Depois até acredito que surjam novas lideranças.

    Por enquanto o que temos é isso.

    Novos partidos com velhas raposas.

    E velhos partidos com velhas raposas.

    • O Kassab vai criar o PL

      E depois uni-lo ao PSD. Daí será a 2ª bancada no Congresso. Em 2018 tem tudo pra ensaiar uma de Eduardo Campos, ou ser vice do Lula, ou de quem for candidato do PT.

      Isso é um fato real e relevante na política. E a esse dado o autor do texto não se atentou.

  • A crise , qual crise ? a

    A crise , qual crise ? a falta de agua ? corrupção na petrobras ? polícia federal que só investiga membros do governo federal ? e a mídia brasileira que se auto proclama independente , mas depente de suas verbas de publicidade para sobreviver? Na minha opinião não existe mais jornalismo informativo ou investigativo e sim jornalismo de interesse político ou financeiro. A midia e os partidos brasileiros em geral são comandados por pessoas que tem interesses específicos de poder , financeiro e tambem de querer  comandar tudo , ditar regras , direcionar o que a nação deve e não deve fazer , acham que detem o monopólio do saber .

  • Não é possivel aliás é

    Não é possivel aliás é possível!

    Na semana me sentei com um grande amigo muito

    bem formato ,jovem ,progressista e ligado a movimentos

    socias.Foi entusiasta ferrenho do junho de 2013..nem

    dormia direito.Bem, quiça eu tivesse gravado ou grafado

    o"papo"..que faria nossa amigo articulista acima acordar

    e sair da "terra do nunca".Já cansou gente!Deu errado!

    Deu errado para aqueles que tinham uma razão e um objetivo

    progressista.Tem que formatar ..não há um ser  humano bem 

    intencionado que não olhe para tais movimentações com desconfiança..

    e  de qualquer classe social.Hora de voltar a prancheta

    recolher os cacos ..jogar o lixo e renascer com parcimônia

    e porque não humildade.Junho de 2013 pode ser um bom tema 

    para "vender livros"..jamais será unanime entre seus atores reais

    que perceberam cedo as distorções.

     

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