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A condenação das sanções contra o Irã

Por enquanto discretamente – até ontem, em toda a imprensa em inglês, havia apenas uma nota da Reuters e outra de uma agência iraniana repercutindo a Reuters -, está em curso na Assembleia Geral da ONU uma iniciativa patrocinada pelo Brasil, a Rússia, a Índia e a China para obter uma resolução da Assembleia Geral condenando as sanções unilaterais contra o programa nuclear iraniano.

Alguns países, entre els a Austrália e o Canadá, além dos Estados Unidos e da União Europeia, impuseram o seu próprio pacote de sanções contra o programa nuclear iraniano, à margem da ONU. Já em junho, antes mesmo da votação da resolução do Conselho de Segurança impondo sanções multilaterais contra o Irã, o chanceler russo, Sergei Lavrov, declarou que a Rússia se oporia a qualquer iniciativa de sanções unilaterais, chamando-as de “ilegais”. A China também já tinha soltado alguns resmungos contra as sanções unilaterais – a grande novidade, além da proposta de resolução da Assembleia Geral, é a adesão da Índia ao movimento contra as sanções. Devido à sua “relação especial” com os EUA na cooperação nuclear, a Índia vinha procurando manter-se “neutra” nesta questão, mas vem se irritando cada vez mais com o “aliado” nuclear que procura impor, via Grupo de Fornecedores Nucleares, limites à transferência de tecnologia nuclear que ferem os interesses indianos (e brasileiros, diga-se de passagem).

Na entrevista à Reuters, o chanceler brasileiro Celso Amorim disse na terça-feira que a proposta de resolução foi discutida durante um encontro de ministros de relações exteriores dos quatro países na última terça-feira, em Nova York. Amorim afirmou que “em alguns casos somos contra até sanções multilaterais, de modo que com certeza as sanções unilaterais não são bem-vindas, porque estão fora do sistema da ONU”. O chanceler acrescentou que o Brasil e os EUA têm um objetivo comum, que é impedir o acesso do Irã a armas nucleares, e que as divergências são apenas quanto aos métodos.

Sob o patrocínio de dois países do Conselho de Segurança, a China e a Rússia, do Brasil e da Índia, essa proposta de resolução, se concretizada, terá com certeza apoio da grande maioria da Assembleia Geral. As resoluções da AG não são legalmente vinculantes, mas têm um peso político importantíssimo. Os EUA, em uma manobra que já se tornou uma marca registrada nas suas relações com o Irã, estão boicotando o reinício das negociações sobre o programa nuclear iraniano enquanto esperam que mais países adotem sanções unilaterais, para depois acusar os iranianos de não quererem conversar. Uma resolução da Assembleia Geral contra medidas unilaterais que minam a autoridade das Nações Unidas seria uma medida decisiva contra a tentativa de deixar que a situação iraniana se deteriore a ponto de tornar qualquer negociação impossível. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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