A Consciência de um Liberal, de Krugman

Nassif,

Uma correção.

“A Consciência de um Conservador”, era o nome do livro do Goldwater. O livro “A Consciência de um Liberal”, como você citou, é um livro do Paul Krugman, uma espécie de resposta (tardia) ao livro do Goldwater. (excelente o livro, por sinal. Lá você encontra toda a história do movimento conservador dos EUA no século XX. O termo liberal nos EUA tem conotação completamente diferente do termo por aqui.

Recomendo, sinceramente, que você leia este livro do Krugman. É muito esclarecedor sobre a retomada da agenda conservadora nos EUA, a partir de Reagan, depois de praticamente 40 anos de domínio da agenda rooseveltiana/keynesiana.

Na verdade, desde a chegada de Roosevelt à presidência norte-americana e as reformas do New Deal, até o final da década de 70, preponderou a agenda keynesiana nos EUA, mesmo quando os republicanos estavam no poder, com Nixon, por exemplo. Nunca conseguiam retroceder as reformas feitas por Roosevelt.

AverA verdade é que os conservadores republicanos foram afastados do poder com Roosevelt e só conseguiram fazer a presidência após isto quando pregavam um discurso conciliador com a agenda dos democratas, do estado do bem-estar social. Foi assim com Nixon.

Reagan foi quem conseguiu romper de vez com a agenda dos democratas e retomar a agenda conservadora nos EUA (lá é chamada de conservadora, aqui é chamada de neoliberal). Mas foi muito astuto. Foi ator, tinha facilidade com a mídia. E conseguiu dividir o país com um discursoi mplicitamente racista, como mostra Krugman, conquistando a vitória nas eleições em praticamento todos os estados do sul, retornando à configuração original política da “”Era dourada” da história americana, do final do século XIX/início do sécul XX, quando também os estados do sul eram todos de predomínio republicano.

Esta volta do predomínio da agenda conservadora também tem motivos econômicos. Jimmy Carter, que foi presidente logo antes de Reagan, enfrentou um período da chamada estagflação nos EUA, ou seja, economia em recessão e inflação alta, o que na época os democratas não conseguiram combater com sucesso. Teve papel preponderante, também nesta retomada, os economistas neoclássicos, anti-keynesianos, mercadistas, ou freshwater economists, aqui vulgarmente conhecidos com neoliberais, liderados por Milton Friedman e a Universidade de Chicago.

Este movimento conservador foi preponderante desde Reagan até o final do segundo governo de George W. Bush, mesmo quando o presidente foi democrata (Clinton). Clinton ainda tentou implantar o mesmo sistema de saúde que Obama conseguiu agora, mas voltou atrás, visto que os republicanos reagiram fortemente no congresso, retomando a maioria, como acontece agora com Obama.