A seleção perdeu, e daí?

 

Os comentaristas esportivos falam em Mineiraço. A expressão não significa muito para mim. Nasci em 1964, portanto, só tenho conhecimento do Maracanaço como fenômeno histórico. Não vivi aquela derrota, não chorei aos pés de Ghiggia.

 

Quando tinha 6 anos o Brasil ganhou a Copa do Mundo, mas naquela época eu não gostava de futebol. Na verdade, pouco ou nada lembro daquele grande feito nacional. Em 1970 eu só conseguia sentir saudades e ódio do meu pai. Acreditava que ele era culpado por ser eu um filho de mãe separada em Eldorado-SP. Não sabia que o Brasil  vivia sob u ditadura e que ele, sendo comunista e fichado no DOPS desde a década de 1950, vivia se deslocando de uma pensão para um hotel e de um hotel para outro com medo de ser preso e torturado pelos homens de Fleury e do Ustra.

 

A Copa do Mundo de 1974 foi um fiasco para o Brasil, a de 1978 um desastre em favor da Argentina. Mas em 1977 o Corinthians foi campeão e pude saborear meu primeiro grande título. Comemoramos nas ruas do Jardim das Flores e, depois, no Largo de Osasco. Quando várias lojas começaram a ser saqueadas e a PM chegou a festa acabou em pancadaria e corre corre. Corri.

 

Gostei muito da Copa do Mundo de 1982. Inesquecíveis exibições, vitórias suadas e belíssimos gols antes da derrota dramática para a Itália. Ganhamos o tetra e o penta, mas não as seleções de Romário e Ronaldo nunca conseguirão ocupar meu coração como a de Sócrates e Falcão. Hoje a Alemanha goleou Felipão. Não fiquei nem surpreso nem deprimido.

 

Perder ou ganhar fazem parte do jogo. Perder jogando bem é sem dúvida alguma melhor que ganhar jogando mal. E a verdade é que nossa seleção vinha jogando mal. Hoje a Alemanha ganhou porque colocou a melhor seleção em campo. Se os alemães fossem desclassificados o esporte teria sido derrotado.

 

A derrota foi da seleção, não do Brasil. Nosso país provou que é capaz de dar uma goelada no pessimismo daqueles que insistiam que não haveria Copa, que haveria caos aéreo, que os estádios não ficariam prontos, que os turistas seriam maltratados, que o retorno do evento seria nulo. A seleção fez feito, mas o Brasil fez a Copa das Copas e colherá os frutos nos próximos anos com um substancial aumento do turismo.

 

As arenas levantadas para a Copa do Mundo são modernas e belíssimas. O povo brasileiro desfrutará as mesmas por décadas. Neste momento estou bem menos inclinado a chorar a derrota da seleção brasileira do que feliz e esperançoso. Um dia verei o Corinthians ser campeão lá no Fielzão. Mas antes disto quero ver Dilma Rousseff reeleita e no primeiro turno.

 

Vi muita gente comemorando a derrota da seleção na internet porque isto levaria a uma inevitável vitória de Aécio Neves. A euforia da oposição só me faz rir. Em seu livro “O sorriso de Nicolau”, Maurizio Viroli conta que quando Savanarola estava no auge de seu poder o jovem Maquiavel não foi um piagnoni, um ‘choramingas’ seguidor do dominicano incendiário. De fato, a carreira pública de Maquiavel começou em 28 de maio de 1498, cindo dias após a execução de Savanarola. O biografo de Maquiavel assegura que o ilustre florentino:

 

“Anos depois, irá descrever Savanarola como um ‘profeta desarmado’. Disse também que, assim como todos os outros profetas desarmados, ele também fora derrotado por contar apenas com a força de suas palavras para mater a união de seus seguidores, tendo que se esforçar constantemente para não ser abandonado por eles quando mais precisava de seu auxílio.” (O sorriso de Nicolau, Maurizio Viroli, editora Estação Liberdade, p. 45)

 

A eleição de Dilma Rousseff não estava atrelada à Copa do Mundo. A derrota da seleção brasileiro não afetará sua candidatura, pois ela pertence a um grande partido bem estruturado que conta com centenas de milhares de membros e milhões de simpatizantes ativos. Aécio Neves só pode contar com seus amigos na imprensa e uma horda de cabos eleitorais remunerados. O governo de Dilma Rousseff tem feito bem ao Brasil e ao povo brasileiro. O de Aécio Neves destruiu as finanças de Minas Gerais.

 

Há alguns dias o candidato tucano disse que se for eleito isto fará muito bem a ele. O Brasil não merece a eleição de Aécio Neves. Mas supondo que, amargurada com a derrota da seleção para a Alemanha, a maioria dos brasileiros o coloque no Palácio do Planalto duvido muito que o tucano termine seu mandato. O PSDB não é um partido, apenas uma legenda. Na primeira grande crise (que pode muito bem ser desencadeada pelo próprio Aécio Neves ao reduzir o salário mínimo e provocar desemprego) o presidente tucano ficaria sem sustentação popular. Não tendo uma sustentação partidária (como Lula e Dilma tiveram, fato que lhes permitiu seguir governando apesar das crises reais e fabricadas pela imprensa), Aécio Neves acabará exatamente como Savanarola: abandonado por seus infiéis seguidores no momento em que mais precisar de auxílio.

 

Fernando Collor também acreditou que conseguiria governar o Brasil se apoiando numa legenda, sem um partido político sólido e apesar da falta de apoio popular. Se fosse só um pouco inteligente, Aécio Neves teria aprendido algumas lições com seu colega senador. Tragicamente, porém, nos últimos 4 anos a frequencia do candidato a presidente do PSDB no Senado foi bem menor que a de Collor. Duvido muito que Aécio Neves tenha tido humildade e tempo de aprender algo com o ex-presidente.

 

O povo brasileiro foi capaz de eleger Dilma Rousseff apesar do espetáculo do Mensalão. Tem maturidade suficiente para reeleger a candidata do PT apesar da derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo? Creio que sim, mas se  estiver enganado Aécio Neves receberá a presidência não como um prêmio e sim como uma maldição.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  •   Bobagem, amigo. Não se

      Bobagem, amigo. Não se preocupe.

      Pode até rolar uma pesquisa eleitoral feita na saída do Mineirão, mas depois de uma semana mesmo o brasileiro mais alienado já sacudiu a poeira e vai saber diferenciar eleição de Copa.

      Quem mistura esses assuntos é porque já odeia o governo, e procura um pretexto qualquer para malhar.

  • Jamais houve qualquer relação

    Jamais houve qualquer relação entre resultado de Copa e eleições.

    O povo brasileiro não é idiota. O mesmo não se pode dizer de certos jornalistas e "comentadores" de nossa mídia varonil....

    "Vergonha passageira" não deve afetar sucesso fora dos campos, diz americano

    Alessandra Corrêa

    De Nova York para a BBC Brasil

     

    Brasilianista acredita que trauma irá passar rápido

    A dramática derrota por 7 x 1 sofrida pela seleção brasileira nesta terça-feira, no jogo contra a Alemanha, será uma "vergonha passageira" e não deve afetar a imagem do país, segundo o brasilianista Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, com sede em Washington.

    "Vai passar muito rápido. Não acho que vá ter muito impacto na imagem do Brasil, em sua influência no mundo", diz Hakim.

    Para ele, o sucesso da Copa do Mundo até agora – apesar da derrota da seleção brasileira – está apagando a imagem negativa que se formou sobre o Brasil durante os preparativos.

    "Antes do início da Copa, houve muitas reportagens negativas sobre os preparativos do Brasil, na imprensa nacional e brasileira. Falavam sobre os fracassos do Brasil em se preparar para a competição de forma eficiente", disse Hakim à BBC Brasil.

    O analista observa que as críticas eram de que os trabalhos estavam lentos, que o Brasil não conseguiria deixar tudo pronto a tempo e que a organização estava sendo feito de forma desleixada.

    Segundo Hakim, essa imagem mudou após o início da competição, quando tudo correu bem.

    "O fato é que os jogos em si correram extremamente bem, os estádios estão bonitos, multidões estão acompanhando, os protestos têm sido limitados. A Copa do Mundo está apagando a imagem do Brasil como de certa forma incompetente nos preparativos", afirma.

    O analista afirma que, caso as previsões fossem corretas, o Brasil corria o risco de ser visto como um país de terceira classe em termos de capacidade de organização de infraestrutura.

    "Mas isso já passou, a maioria está falando sobre como os jogos foram bem. O Brasil não será visto como bem-sucedido com sua seleção, mas será reconhecido como um país que cumpriu o que se esperava dele", acredita.

    Eleições

    Para o analista, o desempenho do Brasil no campeonato não deve ter impacto nas eleições.

    Hakim afirma que os brasileiros "são espertos o suficiente" para garantir que o resultado em uma partida de futebol não afete o resultado de uma eleição.

    "O futebol desperta paixões enormes (no Brasil), mas isso não significa que vá afetar a maneira como as pessoas votam."

     

  • No Planalto, Aécio só precisa

    No Planalto, Aécio só precisa ter o tempo necessário para passar uma lei impedindo presidentes de ficar além de duas vêzes, ou ex-presidentes de voltar a concorrer. Já seria uma benção.

  • Basofilias

    Como tetra safenado e tri stensilado vinha acompanhando os jogos meio como expectador distante e não diretamente envolvido. Perder é normal em qualquer jogo, mas levar de 7x1 no futebol não é NORMAL nem em pelada de várzea.


    Não quero enfartar, MAS TEMOS QUE ANALISAR de forma isenta o que aconteceu. Que tá tudo errado está evidente! É preciso colocar, ponto por ponto, onde estão os erros clamorosos desta desastrada atuação da nossa seleção.


    Não podemos confiar cegamente no voluntarismo tirânico de um treinador que não aceita sugestões, que seleciona mal, escala mal, treina mal! Se ao menos tivesse sorte, mas já afundou outros times. Portanto, fomos todos tolos em deixar o destino de nossa seleção nas mãos das bazófias do tal senhor.


    Haja coração! Cadê o meu cardiologista...

    • Concordo com vc! Alguma coisa

      Concordo com vc! Alguma coisa saiu errado. Devia ter terminado no 10 X 0. No melhor estilo 5 vira 10 acaba.

  • Seleção é o nosso Polvo Paul

    Na verdade, a história recente mostra que o efeito seria ao contrário:


    Quando a seleção ganha o mundial (1994 e 2002), o povo troca de governo.


    Quando a seleção perde o mundial (1998, 2006 e 2010), o povo mantém o governo.


    2014 não será diferente.


     

  • E daí...nada, está tudo bem

    Você está igual ao Daniel Alves que disse que isso não é trágico e que perder de 1 ou de 7 dá na mesma.

    Foi ridículo, Brasil tomou 4 gols de pelada e tinha caixa pra 10 ou 12.

    Não vai influenciar em nada na eleição, Dilma vai se reeleger do mesmo modo, quer gostem ou não.

    Agora é torcer para a Argentina ir para a final, pq imagina se enfrentamos eles e ainda por cima ficarmos em 4?

  • Se o Brasil tivesse perdido

    Se o Brasil tivesse perdido de pouco, o AECIM PÓ PARÁ poderia capitalizar... com uma derrota de 7 x 1,  quem decide o seu voto com base no resultado de campo vai de Pr. HEVERALDO, se tiver tendências à direita, ou LUCIANA GENRO, se pender para a sinistra... ou seja, o resultado foi "um ponto fora de curva", quem quizer capitalizar também vai ter que ser...

    hehehehe

     

  • O coral das carpideiras não

    O coral das carpideiras não para de se lamentar na Globo, amplificando a tragédia. Caras e bocas se juntam para representar um luto nacional que não creio que ocorrerá. Afora os black blocs alugados, as populações das periferias manipuladas por milicianos e traficantes e os trombonistas das mídias de sempre, a vida vai continuar. As pessoas precisam trabalhar e a imensa maioria delas não é tocadora de trombone, embora escute seu barulho.

    Pessoalmente, acho que foi melhor sairmos na semifinal do que na final. A derrota acachapante do time do Felipão para o time alemão, é consequência quase inevitável - digo quase, porque vez e outra jogos de futebol terminam em zêbras monumentais - do confronto entre um time escalado por um treinador cheio de crenças e convicções pessoais, que confundiu a Copa das Confederações com a Copa do Mundo, e outro time cujo elenco joga junto a seis anos, cujo treinador é capaz de mudar, jôgo a jôgo, a escalação do time a fim de melhor enfrentar o adversário seguinte. Como em toda vez que a Seleção Brasileira entra numa competição, demite-se o Presidente da República e transfere-se para os jogadores, a responsabilidade de levar o país nas costas. Como o treinador é um - no dizer dos comentaristas - motivador não diplomado, o que para mim é muito diferente de ser técnico, o elenco não suportou o fardo que a mídia e a nossa cultura colocaram em suas costas e sucumbiu, principalmente após a saída de Neymar. No início do retiro na Granja Comary, a CBF demitiu a psicóloga que cuidava da cabeça da garotada. Foi chamada de volta após a fratura sofrida por Neymar, que lhe custará entre um e dois meses de afastamento dos campos para preparar em quatro dias, as cabeças abaladas do time e da equipe técnica. Na entrevista coletiva que concedeu depois do jôgo, Felipão limitou-se a assumir a culpa pelo desastre e pedir desculpas aos torcedores. Nenhuma explicação, se é que existe. Dos jogadores, o que se viu foi o ápice do descontrole durante o jôgo e a perplexidade que caracteriza o desconhecimento que - em tudo na vida - devemos ter consciência de nós mesmos e das circunstância em que estamos inseridos.

    Malgrado o desapontamento pela goleada sofrida, aos olhos das outras Nações, o Brasil sai da Copa maior do que entrou. Para além da oportuna alavancagem que o Mundial propiciou às obras de infraestrutura nas cidades sede dos jogos e da saída de Manaus do isolamento a ela imposto pela desinformação,  foram os brasileiros comuns - sem empreiteiras, sem COL e sem mídia - que esculpiram a bela imagem que o Brasil amealhou na comunidade internacional.

    Ou nós acabamos com a CBF, ou ela acabará com o futebol brasileiro.

     

     

      • A questão não é essa, caia na real

        A questão é o que o povo vai entender, assimilar, da situação.

        A culpa do Governo do PT, não da Dilma, exatamente, que ela é apenas uma pessoa no meio de gente que fica palpitando e atrapalhando o governo dela, é que não soube agir para diminuir os conflitos que surgem todos os dias na sociedade brasileira. A Copa do Mundo é só um exemplo disso.

        E o clima que foi criado com a Copa do Mundo foi o pior possível. As coisas ficaram mais ou menos calmas apenas nas vésperas do evento. O clima de tensão vinha se arrastando durante muito tempo. Isso afetou a cabeça dos jogadores da seleção brasileira, essa contaminação política toda.

        PS: Apaguei o comentário anterior para corrigir alguns erros e acrescentar outros trechos. O comentário está imediatamente abaixo.

        • Verdade? Dilma treinou e
          Verdade? Dilma treinou e escalou a seleção, depois pediu para a mesma perder para a Alemanha porque ela é descendente de europeus. Ha, ha, ha... tucano desesperado caiu na área e cometeu um pênalti.

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