As investigações da Polícia Civil sobre os black blocs nas manifestações

Da Agência Brasil

Polícia já ouviu 150 pessoas em inquérito que investiga ações violentas em manifestações

Bruno Bocchini

São Paulo – A Polícia Civil de São Paulo já ouviu 150 pessoas no inquérito que investiga a ação dos blacks blocs nas manifestações de rua. Nenhum deles, no entanto, foi indiciado. De acordo com o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Wagner Giudice, a polícia espera ouvir cerca de 300 pessoas até o fim do ano. Hoje (12), 49 foram ouvidos.

Os convocados para depôr no inquérito são pessoas que foram detidas em alguma das manifestações. Segundo Giudice, a polícia busca elucidar se houve associação criminosa –  nova denominação para formação de quadrilha – nos delitos durante os atos de protesto, como danos ao patrimônio público ou privado. 

“A nossa estratégia é separar quem foi surpreendido porque estava em um movimento legítimo e quem foi lá para fazer bagunça. Esta é nossa missão. Desses 300, nós vamos chegar naqueles caras que, recalcitrantemente, estão participando e não têm nenhum tipo de fundamentação [legítima]”, disse o diretor do Deic.

A polícia pretende, a partir do inquérito, mapear antecipadamente os manifestantes que comenteram ilícitos durante os protestos. “É como se eu pudesse acompanhar uma quadrilha de ladrão de banco desde o momento do planejamento até a execução final. A gente já começa a mapear esse pessoal antes e, se eventualmente acontecer um quebra-quebra, o responsável já está identificado anteriormente”, acrescentou Giudice. Segundo ele, uma das ações propostas será o de obrigar as pessoas envolvidas a se apresentarem à polícia horas antes das manifestações marcadas.

Segundo o representante da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo, o advogado, Ramon Koelle, que defende um dos convocados, o inquérito é inconstitucional e tem como objetivo criminalizar as manifestações. 

“É um inquérito absolutamente vago que coloca perguntas que violam absurdamente, como na ditadura, o livre organizar das pessoas. Pergunta-se se as pessoas são filiadas a partidos políticos, se tem e-mail, Facebook, onde os jovens se encontram. É um inquérito que, intimidando as pessoas, visa apenas a investigar como a juventude se organiza, sem objetivos claros, sem objetivo específico. O inquérito viola as garantias constitucionais”, disse.

O advogado questionou ainda a falta de investigação das ações da própria polícia durante as manifestações. “Deveria haver, sim, uma força-tarefa para investigar a ação da Polícia Militar. Para investigar os manifestantes, a Delegacia de Crimes Econômicos e Financeiros [onde parte dos convocados estão sendo ouvidos] parou para fazer isso. Mas não há força-tarefa para investigar os abusos da Polícia Militar, que foram evidentes”, declarou.

Redação

Redação

View Comments

  • abuso policial e inquerito

    O que esperar da policia formada pelos manuais da ditadura, defensora inequivoca do patrimonio particular (Bancos e criminosos afins)?

    Tortura, inqueritos viciados, investigações (dos apaniguados) risíveis com a intenção de desqualificar o inquerito e inviabilizar o julgamento (basta ver as investigações sobre o jogo do bicho).

    Corruprtos, traficantes, lenocidas e tal, este são nossos policiais.  Basta ver o Tuminha e suas associações.

Recent Posts

“Para mim é um alívio essa correição”, diz Gabriela Hardt

Substituta de Sergio Moro, juíza admite erros no caso Tacla Duran, mas garante que não…

4 horas ago

O que está por trás da nova corrida pelo ouro

Incertezas políticas e internacionais estão por trás da disparada de preços do minério, diz professor…

4 horas ago

Como capturar o comum cotidiano ou a própria vida, por Maíra Vasconcelos

A cada dia, ficamos esquecidos no dia anterior sem ter conseguido entender e ver o…

5 horas ago

Lula e ministros visitam RS para garantir recursos às vítimas das chuvas

Exército aumentou o número de militares e opera hospital de campanha; Transportes se comprometeu a…

5 horas ago

Entrevista: Ilan Fonseca, procurador que trabalhou como motorista de Uber, revela a dura realidade dos aplicativos

Escritor e membro do MPT, Ilan Fonseca propõe alternativas ao oligopólio que controla trabalhadores sem…

6 horas ago

Temporais no Rio Grande do Sul rompem barragem e autoridades alertam para população deixar área

Barragem 14 de Julho, no interior do Rio Grande do Sul, rompe com as fortes…

6 horas ago