Política

Bolsonaro entregou setor energético aos britânicos, por Marcus Atalla

Nacionalismo para inglês ver – Documentos revelam; Bolsonaro pactuou à entrega do setor energético aos britânicos

Por Marcus Atalla*

Bolsonaro e o Partido Militar proclamam-se como nacionalistas e defensores da pátria contra o “globalismo”. Investigações publicadas pelo jornal independente britânico, Declassified UK, revelam reuniões secretas entre Bolsonaro, agentes de Estado e petrolíferas do Reino Unido.

Bolsonaro prometeu que se reeleito fosse, venderia mais estatais, priorizaria a liberalização do mercado de gás e a remoção de barreiras no mercado de energia brasileiro aos britânicos.

O General Villas Boas é visto como um herói, um mártir que mesmo debilitado devido a uma doença degenerativa, teria dado o pouco que resta de vida para proteger a nação ao retornar o controle do país para o “Partido Militar”, por meio da eleição de Bolsonaro.

Villas Boas tuitou, às vésperas do segundo turno (29), que uma vitória de Lula causaria a “desmontagem das estruturas produtivas que tão arduamente foram recuperadas” e “a submissão ao globalismo [capital financeiro estrangeiro]…”. (Todo o resto dito é um apito de cachorro, a doutrina conspiratória Alt-right – “Marxismo Cultural”).

A realidade é completamente outra: o Governo Bolsonaro privatizou ao capital estrangeiro o que pode e não deveria, incluindo áreas estratégicas do país. Desmanchou a estrutura petrolífera brasileira; vendeu a preço de banana as refinarias, distribuidoras, gasodutos e os Postos BR. Distribuiu, em um ano e meio, 237 bilhões em lucros de dividendos da Petrobras a acionistas internacionais, ao invés de investi-los no desenvolvimento do setor nacional.

Tudo isso com a participação ativa dos militares “nacionalistas” brasileiros. A Petrobras esteve sob o controle do General Joaquim Silva e Luna, cuja missão dada e cumprida não foi estancar a sangria, foi aumentar a hemorragia.

Enquanto o mundo caminha à quarta revolução industrial, o Partido Militar tem para o país um projeto positivista do século XIX. Uma colônia mineral-agroexportadora de commodities e ultraneoliberal-entreguista (Projeto de Nação Brasil 2035).

Bolsonaro antes de eleito, abril de 2018 a 2019, na presidência

Documentos obtidos pela Lei inglesa de Liberdade de Informação expuseram encontros secretos de Bolsonaro com agentes do Estado britânico e representantes das companhias petrolíferas, num acordo lesivo ao povo e à nação brasileira.

Em 10 de abril de 2018, após cinco dias da prisão política de Lula, o candidato Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e um assessor não identificado encontraram-se com o embaixador do Reino Unido, Vijay Rangarajan na embaixada britânica em Brasília.

Documentos registram que, no mesmo dia 10, a secretária-chefe do tesouro e recente ex-primeira-ministra Liz Truss esteve na embaixada britânica em Brasília. Ela chegou ao Brasil no dia 9, para “promover o livre comércio, mercados livres e oportunidades pós-Brexit”. Sua agenda foi de reuniões com autoridades brasileiras a fim de discutir privatizações.

Seus relatórios afirmam haver um novo interesse por um “mercado aberto” no Brasil, o qual tem enormes “reservas de petróleo e gás”. Uma das visitas de Truss foi ao Instituto Millenium, think tank neoliberal, que mantém intrínsecas relações com a Rede Globo e co-fundada por Paulo Guedes em 2005. Ela também se encontrou com seu antigo empregador, a Shell, a qual se orgulha de sua produção de petróleo e gás no Pré-sal.

Passados dois meses, o embaixador Rangarajan convidou o candidato Bolsonaro a sua residência em Brasília, onde lhe apresentaria “Parceiros Estratégicos”. Participaram mais de 20 pessoas, incluindo diretores de empresas britânicas de petróleo, mineração, farmacêutica e construção. Destacando a Anglo-American, BP, Shell, Unilever, JCB e AstraZeneca – fabricante da vacina a qual Bolsonaro, no ano seguinte, daria preferência no início da pandemia em detrimento da Sinovac/Butantan, imunizante difamado por Bolsonaro e filhos em declarações à imprensa.

Em 14 de novembro, o agora eleito Bolsonaro, o vice-presidente e General Hamilton Mourão, o General Augusto Heleno (GSI) e os dois filhos de Bolsonaro se encontraram novamente com Rangarajan. O Ministério das Relações Exterior britânico se recusou a divulgar o teor da discussão na reunião. De 2018 a 2019 foram mais de 20 reuniões entre a BP, a Shell e o embaixador Rangarajam.

Relatou documento britânico: “O Reino Unido está bem posicionado para responder às oportunidades ampliadas que provavelmente surgirão se as reformas nesses setores forem bem-sucedidas no Brasil”.

Bolsonaro na Presidência e Guedes no Ministério da Economia

O programa do Reino Unido é executado através do Prosperity Fund, o projeto de “ajuda” iniciou-se em 2018, com um aporte de £ 56 milhões e dividido em 4 partes. O objetivo “declarado” seria apoiar “a abertura econômica e a infraestrutura sustentável do Brasil”, criar um “mercado de energia mais competitivo e eficiente”, pressionar pela liberação do mercado de petróleo e gás”. O que os documentos eufemisticamente declaram como “abertura” e “criar”, é privatizar.

Agora, o programa é administrado pelo Ministério das Relações Exteriores britânico. Segundo os gerentes, o programa “passou por uma mudança considerável no contexto político, resultado da mudança de governo brasileiro”. Sob o Governo Bolsonaro, “as políticas do governo brasileiro mudaram ou ficaram mais claras”, “houve um impulso maior nas reformas econômicas liberais” e o presidente iniciou “um esforço para reformar o setor de energia”.

A equipe do programa afirmou que o Reino Unido foi “capaz de responder efetivamente a essa mudança como resultado de… fortes vínculos” com o governo Bolsonaro. Concluiu-se que as “áreas críticas da agenda de reformas no Brasil puderam ser ampliadas pelo apoio direcionado de parceiros, incluindo o Reino Unido.”

Em 2020, O CEO da Petro-Victory Energy, Richard Gonzalez escreveu, Bolsonaro está “encorajando o investimento estrangeiro com ênfase no setor de energia” e “criou um setor de petróleo e gás mais dinâmico, livre do monopólio da Petrobras que definiu o mercado por tanto tempo”.

Em setembro de 2021, após o início do programa, o ministro da economia Paulo Guedes disse que planejava privatizar a Petrobras dentro de uma década. A privatização da Petrobras “está no nosso radar”, disse Bolsonaro.

Os documentos observam: “A Prosperidade do Reino Unido é promovida pela abertura de mercados, impulsionando a reforma econômica e defendendo os negócios britânicos”. O Prosperity Fund beneficiou significativamente os negócios britânicos no Brasil. Um funcionário relatou ao secretário de Relações Exteriores inglês; “o Prosperity Fund foi um divisor de águas para o nosso relacionamento com o poderoso ministério da economia e com todo o governo Bolsonaro”.

Segundo dados da Transactional Track Record (TTR), o Reino Unido tornou-se o terceiro maior investidor em fusões e aquisições em solo brasileiro em 2021, atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina. Estudo da Redirection International apontam que os cinco setores de maior investimento britânico em operações de fusões e aquisições são: Financeiro (10%), Tecnologia (9,8%), Óleo e Gás (8,8%), Energia (7,8%) e Mineração (5,9%).

Bolsonaro prometeu que, se reeleito, iria “prosseguir com o reordenamento do papel do Estado brasileiro na economia, aumentando as privatizações e desinvestindo nas empresas estatais”.

Não é surpreendente que o primeiro anúncio do Governo Bolsonaro, logo após perder as eleições, tenha sido uma hiperdistribuição de R$ 43,7 bilhões em dividendos a acionistas da Petrobras.

A Paralisia Estratégica pelo Medo – Bolsonaro, Partido Militar e a imprensa corporativa

Enquanto o presidente “nacionalista” Bolsonaro e Guedes entregavam o que podiam e não deveriam, o Partido Militar atuava na guerra-cognitiva. Paralisia Estratégica pelo Medo, ou a Política do Balançar as Armas, como definiu Eduardo Costa Pinto (UFRJ).

Para assegurar que a população brasileira ficasse inerte enquanto ocorria o desmonte do Brasil, os militares ameaçavam golpe e plantavam falsas notícias na imprensa, que de bom grado retransmitiam a dissonância cognitiva, desse modo paralisando pelo medo os movimentos sociais e manifestações populares.

 – Agora vem o golpe! Não veio… – É nessa semana, o General Tainha disse que é agora! Não veio…  Mas no 7 de setembro é certeza, o Recruta Zero avisou!  [A cada 6 meses criava-se uma divisão irreal entre os militares, “tem uma ala olavista e outra racional”, agora “tem uma ala golpista e uma legalista”].

Há anos especialistas das mais diversas áreas; Piero Leirner, Manuel Domingos Neto, Eduardo Costa Pinto, Jacqueline Muniz, Marcelo Pimentel – cel. da reserva;  cantam a bola que não haveria golpe à la 1964. O modelo atual é o de Operações Psicológicas. Os EUA não podem se dar ao luxo de aceitar um golpe às claras nas Américas. Em julho, os EUA enviaram ao Brasil o próprio Secretário de Defesa, Lloyd Austin, para garantir que os militares brasileiros não metessem os pés pelas mãos.

Um golpe, com tanques e tropas, desmancharia a narrativa dos EUA à Guerra Fria 2.0: “O Ocidente democrático [EUA] contra o Oriente ditatorial [China e Rússia]”. Uma dicotomia artificial em que países neoliberais são democráticos e os não-neoliberais são considerados autocráticos. Todas as civilizações, menos a nossa, são bárbaras e precisam ser “civilizadas” para o próprio bem, exceto se… subjugaram-se aos nossos ditames.

* Marcus Atalla – Graduação em Imagem e Som – UFSCAR, graduação em Direito – USF. Especialização em Jornalismo – FDA, especialização em Jornalismo Investigativo – FMU

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br.

Redação

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  • Pois é! Enquanto - com a inestimável e sempre disponível AJUDA DA IMPRENSA - mantém a população distraída e imbecilizada discutindo problemas inexistentes, como MAMADEIRAS DE PIROCA, KIT GAY, BANHEIROS UNISEX, o LULA FECHANDO IGREJAS e absurdos assemelhados, a EXTREMA-DIREITA brasileira ENTREGA O PAÍS NA BACIA DAS ALMAS, ao mesmo tempo que SE LAMBUZA NAS EXTRATOSFÉRICAS PROPINAS, fruto da RECOMPENSA PELO SERVIÇO SUJO contra a soberania e o patrimônio do país!
    E o POVO, enquanto isso? Ora essa, o POVO QUE SE PHODA NA FILA DO OSSO!

  • Como autor do livro documentário "A Copel é Nossa" no qual conto passo a passo como foi construída a maior campanha vitoriosa da história do Paraná que foi a luta em defesa da Copel contra sua privatização em 2001, minha preocupação agora é como resgatar o espírito de cidadania do povo brasileiro nos tempos de fake news vivendo em bolhas que não conseguem mais distinguir fatos de ficções. Nada mais é grave na cabeça desse povo. Enquanto isso, a Copel é recolocada à venda no dia seguinte ao do segundo turno pelo governador reeleito, Ratinho Junior.

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