Ciro Gomes e a necessidade de uma frente única para 2018, por Paulo Moreira Leite

Jornal GGN – Em coluna publicada hoje (24), o jornalista Paulo Moreira Leite elogia a “postura corajosa” de Ciro Gomes, porém critica recente fala do ex-governador do Ceará, que disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestaria um “desserviço ao país e a ele próprio” caso se candidatasse para a presidência em 2018.

Ciro, que pretende ser candidato presidencial, argumenta que Lula ganharia as eleições, porém “confrontando de uma forma odienta essa radicalização que se instalou no Brasil a ponto de firmar um golpe de estado em que tem ele como eixo”.

Paulo Moreira Leite diz que a declaração é desastrosa do ponto de vista política, já que não contribuir para construir uma perspectiva positiva para uma população que precisa de uma saída para o “precipício político e econômico” conduzido por Michel Temer.

Para o jornalista, o momento exige a união de forças que não perderam o compromisso com a democracia. “Ninguém tem o direito de fechar o caminho de ninguém”, afirma.

Leia a coluna completa abaixo:

Do Brasil 247

Ciro e a necessidade de frente única

Por Paulo Moreira Leite

Como tantos brasileiros, sou um admirador de Ciro Gomes. Aprendi a respeitar sua postura corajosa para afirmar um pensamento progressista, mesmo em situações adversas.   

Só para dar dois exemplos.

Em 2005, na crise provocada pela AP 470, Ciro demonstrou firmeza quando muitos fraquejavam, foi leal quando outros, aliados até mais antigos do governo Lula, preferiam o conforto da sombra. Em 2016, no auge da conspiração conservadora que produziu o golpe de 31 de agosto, Ciro demonstrou que tinha um lado no confronto que levou a mais grave ruptura institucional desde 1964 — o lado certo, da democracia e dos direitos do povo.

Este comportamento deu a Ciro toda legitimidade para pleitear uma  candidatura em outubro de 2018, quando, pelo calendário constitucional, o país irá escolher, nas urnas, o presidente da República que irá governar o país pelos quatro anos seguintes. O simples fato de anunciar sua candidatura, num momento de dificuldades e incertezas como o atual, é uma contribuição positiva de Ciro para a defesa da democracia e dos direitos dos mais de 100 milhões de eleitores brasileiros.

Quem se lembra do golpe de 1964, sabe que a mudança no calendário eleitoral foi uma providência básica dos novos ocupantes do poder para consolidar uma ditadura que acabou se prolongando por 21 anos.

Por todas essas razões, só posso discordar integralmente das declarações de Ciro sobre uma possível candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. Num debate entre universitários, Ciro afirmou que “Lula é muito forte, muito popular. Mas acho que ele prestará um desserviço ao país e a ele próprio. Na melhor hipótese, ele ganha. Porém, ganharia confrontando de uma forma odienta essa radicalização que se instalou no Brasil a ponto de firmar um golpe de estado em que tem ele como eixo”.

Também disse que “Lula deve por a sua liderança e o peso de sua história para dar passagem a um projeto novo, que experimente outros dizeres, outras relações, outra psicologia coletiva e não ficar se defendendo em um gueto moralista da delegacia de polícia que se transformou a política brasileira”.

São afirmações desastrosas do ponto de vista político. Não respondem às necessidades do momento difícil que o país atravessa nem contribuem para abrir uma perspectiva positiva para uma população que necessita construir uma saída para o precipício político e econômico para o qual está sendo conduzido pelo governo Michel Temer.

O momento atual pede unidade das forças que não perderam o compromisso com a democracia nem a capacidade de distinguir o principal do secundário, de separar o projeto particular do interesse geral. Ninguém tem o direito de fechar o caminho de ninguém. Ultimatos também são dispensáveis.

Na conjuntura atual, onde ocorrem notórias articulações para um golpe dentro do golpe, o que obviamente pode colocar em questão até mesmo a eleição de 2018, não é hora de condenar uma eventual — isso mesmo, eventual — candidatura do mais popular político brasileiro e, conforme todas as pesquisas, hoje favorito do campo progressista numa eleição presidencial. A manutenção de uma candidatura com forte base popular, hoje, é um fator de preservação do calendário eleitoral. Numa população que dá provas continuas de perda de confiança na maioria dos políticos, Lula cumpre um papel inegável.
Mais uma vez, a experiência de 1964 é didática. Antes de acabar com as eleições diretas, o regime militar consumou a cassação dos direitos políticos de Juscelino Kubitschek. Isso ocorreu porque seu apoio eleitoral era um obstáculo óbvio para aventuras anti democráticas. Depois dele, vieram outros cassados, inclusive golpistas civis de primeira hora, que se imaginavam protegidos, como Carlos Lacerda e Adhemar de Barros.

Estou convencido de que, meio século depois, Lula desempenha um papel semelhante na difícil conjuntura de 2016, quando os inimigos da democracia testam limites para sua capacidade de avançar contra direitos e garantias fundamentais. Esta é a razão verdadeira para que seja perseguido de forma implacável.

Este é o ponto em que o país se encontra.

A defesa dos direitos de Lula representa a preservação de conquistas e vitórias ameaçadas todos os dias. A candidatura Lula — apenas uma possibilidade, um direito — tem um caráter de resistência, de defesa de uma fronteira que não queremos que seja ultrapassada, que é o direito soberano do povo escolher livremente seus governantes.

Muito humildemente, ouso dizer que Ciro Gomes não honra um tirocínio político aprovado tantas vezes se imagina que, neste momento, sua pregação pelo país tem um caráter muito diferente. A importância de seus discursos pelo país, o valor de sua mensagem, também se encontra aí. Contribui para manter uma luz acesa numa conjuntura em que a treva dá sinais de avanço.

Esta é a travessia que precisa ser feita. Ninguém está disputando eleição nem precisa provar que é melhor. Numa hora que não permite otimismos ingênuos, a questão é anterior: garantir que a população tenha o direito de ir às urnas e votar em quem achar melhor.

Redação

Redação

View Comments

  • Ciro x Lula

    Essa posição de Ciro a respeito de uma eventual candidatura de Lula em 2018 tem uma explicação muito simples. Ele só conseguiria ter mais votos do que Lula, e talvez,  na sua terra,  Sobral - CE.

  • O Ciro está com os pés

    O Ciro está com os pés totalmente esburracados, de tanto dar tiros neles. Ele não é ruim, mas daí a dizer que ele é a melhor alternativa, vai longe demais. Acho que o Dino hoje é a melhor opção, depois do Lula. 

  • Ciro e o poder

    Ciro sempre sonhou com uma carona amiga para chegar ao poder.

    Ele tem mais é que correr atras e fazer por onde, nao ficar dando declaracoes desconexas para aparecer na mídia.

    Se quer mesmo chegar lá, os meios tem que ser outros.

     

    José Emílio Guedes Lages- Belo Horizonte

     

  • Com devido respeito ao autor,

    Com devido respeito ao autor, um dos lúcidos analistas do cenário nacional, Ciro está certo. Por tudo o que representou na história brasileira, Lula deveria retirar-se de cena, até porque o modelo de política da "Nova República", praticado pelo PT com algumas nuances específicas, está visivelmente esgotado, não dá para esperar algo diferente. Talvez, Ciro ou outro candidato efetivamente comprometido com uma renovação de valores e práticas e com o sempre desprezado Bem Comum, não tenham condições de promover a renovação de que o país necessita desesperadamente. Mas seria ilusório, quase insano, esperar que Lula e seus comandados possam representar uma mudança de rumo.

    • Geraldo

      O artigo tem como tema principal é que a fala do Ciro não ajuda neste momento "inconstitucional de araque" e desagrega para quem espera que exista eleição presidencial em 2018.

       

      Como profetizar todo mundo gosta: Se for o Lula o candidato que possa mudar o país, voto nele.

      Se for o Haddad, voto nele ! 

      Se for o Flavio Dino, voto nele !

      Se for o Ciro, adoro o seu lado progressista ( ele será sempre o nosso simpático segundo time), mas não votaria nele. Não consigo antever o Ciro brigando durante o seu possível mandato com todos os fdps existentes nos 3 Poderes  e  o país ficar sempre, habitualmente, assistindo. Vamos um dia não desejar ver mais e simplesmente, se sugerirem sair o Ciro, vamos aceitar, como fizeram com a Dilma.

      Ainda, somos um bando de babacas políticos e os donos de alambiques midiáticos sabem que uma duas doses de uma cachacinha ruim e barata, mas com um perfume faustão-global, inibriam todos os politicamente infantis e o Ciro não vai sozinho ganhar os rounds ( fazer um governo progressista), que necessariamente pede um povão mais ligado a um carismático com perfil do Lula, ou muito parecido.

      Lula consegue levar porrada e não falar mal do seu agressor; poucos tem este perfil político agregador, que sabe ter uma meta a ser alcançada e que não deve dela se afastar por motivos corriqueiros. O Ciro não é assim - ele representa o nosso lado brigão e constestador para conseguir as metas corretas, só que quando nos irritamos geramos nos opositores a mesma reação, e a briga começa. O Lula, como poucos, não se irrita, o que  nao tornam as diferenças incontornáveis.

      Ciro seria um ótimo ministro onde o pulso ético e firme seriam parte do perfil: Justiça ou Economia.

       

       

       

       

       

       

       

       

  • Vamos ter clareza

    Sim, o Lula tentar um 3o mandato é um desserviço, porque nos precisamos de novas liderancas, novas linguagens politicas e o Lula precisa entender que deve passar o bastao adiante. Não que o Ciro represente isto, porque ainda é um dos ultimos velha guarda. Mas o Ciro tá ai apresentando o projeto dele, correndo em varios Estados, prestando um serviço primoroso para a nossa democracia e para o pensamento progressista.

     

     

     

  • Lula 2018?!

    Não há nada para Lula fazer em 2018 a não ser atrapalhar. O PT já mostrou que não possui estratégia de desenvolvimento para o país.

      • E depois?

        O país fica com um grupo desprovido de estratégia econômica no comando. Detonando a reputação da esquerda.

        Desta vez dificilmente haverá ventos favoráveis vindo do exterior como na década passada.

        • Percentagem

          É mesmo, Roland? Você parece ter feito parte dos 13% (treze por cento) que consideraram o governo Lula, ao final de 2010, ruim. Com você deve se lembrar, 87% (oitenta e sete por cento) o aprovaram aqui. Além de diversos organismos internacionais e da imprensa. Inclusive a de direita, mas que costuma fazer jornalismo, ao contrário dos nossos panfletos. E, no lugar dos "ventos favoráveis", houve uma enorme crise em 2008/2009, a maior desde 1929, que aqui, para o que interessa (emprego e renda), foi uma marolinha.

          • É mesmo?!

            Ao assumir, o governo Lula manteve as taxas de juros nas alturas trazendo consigo os princípios da política “homodoxa” do governo FHC. Se não fosse a elevação dos preços das commodities – que fez com que o Brasil tivesse 5 anos seguidos de superávit em conta corrente – a situação que passamos agora já teria se desenrolado a partir de 2004.

            Em vez de aproveitar esses ventos favoráveis e imprimir uma desvalorização gradativa do R$ frente ao US$, de maneira a impulsionar as exportações de manufaturados e fortalecer a indústria nacional, preferiu manter o R$ valorizado dando espaço para os industrializados importados tomarem o mercado e tornar o país ainda mais dependente da exportação de produtos de baixa intensidade tecnológica.

            De maneira ingênua ou populista, após a crise de 2008, os preços dos produtos primários começam a cair e os ventos pararam.

            E a situação é essa em que o país está hoje, uma “marolinha”!

  • Ciro

    Por enquanto, a quadrilha no poder  - que inclui membros dos tres poderes - tenta evitar a volta do Lula com uma condenação criminal.  Ora, do jeito que as coisas vão, especialmente na área econômica, Lula ganha as próximas eleições com 70% dos votos, ou mais.  Alguém acha que os malfeitores que derrubaram Dilma vão tolerar um novo governo Lula? Vão derrubá-lo, se necessário a tiros. Bem, suponhamos que os integrantes da quadrilha na justiça mori...bunda consigam impedir a candidatura do ex-presidente. Obviamente, ganhará a eleição qualquer pretendente que o Lula apoiar. Ciro quer ser o indicado e acho que tem boas chances de que isso aconteça.

  • Ciro  não falha! Consegue ser

    Ciro  não falha! Consegue ser metodicamente desastroso. Lembra a candidatura  de Sílvio Santos,não consumada,por que os demais  concorrentes ,pediram-lhe para retirá-la ,pois sua vitória  era inevitável.Venceu  Collor. Lula ,não é  Sílvio Santos e 2018 não é 1989.Ciro, ou por miopia politica ou por  reles ambição,sabe  claramente  que o retorno de Lula,colocaria as coisas nos seus devidos lugares.  Lula ,indiscutivelmente é o único gênio politico,destituído de rancor com meios de conduzir  este  país   com indícios de fragmentação rumo à pacificação.Sua credibilidade externa  alçaria novamente à Nação nos rumos   desviados pela fraude do salvacionismo imposta pelos meios de comunicação aliados a segmentos   da  justiça corrompida pelas luzes dos  estúdios e da vulgar  popularidade.

  •  
    Este rapaz se perde pelas

     

    Este rapaz se perde pelas merdas que verbaliza.

    Enquanto não aprender a distinguir as competências de seus principais órgãos. Em especial daqueles responsáveis pela fonação (fala), ao que parece, o Ciro ainda não consegue distinguir que são inteiramente diverso dos procedimentos digestivos  que resultam na produção de fezes ou excrementos.

    Sobretudo agora que volta a concorrer à presidência.  O Ciro deve buscar orientação para usar corretamente as  estruturas que produzem os sons de nossa fala de maneira mais civilizada. Para tal, deve evitar usar de forma  indevida e inadequada, órgãos responsáveis pela fala como se fora do sistema digestivo. Em síntese, o senhor Ciro Gomes, não obstante tratar-se de excelente quadro político, carece de consultar especialista em  coprologia. Enquanto não se tratar, persistirá  defecando via oral.

    Orlando

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