Política

“Errei feio”, diz José de Abreu após compartilhar ameaça à Tabata Amaral e sofrer cancelamento

Jornal GGN – O ator José de Abreu admitiu em uma live nesta segunda-feira (27) que “errou redondamente” ao compartilhar uma mensagem no Twitter com ameaça de agressão física à deputada federal Tabata Amaral (PSB). O episódio aconteceu na semana passada e o ator afirmou que já pediu desculpas antes, mas diante da repercussão continuada e da onda de cancelamentos, ele prometeu “gravar amanhã” um pedido de desculpas em vídeo à parlamentar. A live sobre machismo foi transmitida pelo canal Fala Lola Fala, da blogueira feminista Lola Aronovich [assista abaixo].

“Errei. Errei. Errei feio. Acho que houve um vacilo. Houve uma super exposição minha em função dela. Talvez não merecesse tanto”, disse Abreu. “Fique envergonhado. Fiquei muito sentido dela querer me eliminar das novelas. Eu tenho 75 anos. Nem a ditadura fez isso… tirar a fonte de renda. Eu ainda tenho muitas despesas à minha volta”, acrescentou.

A reação de Abreu ocorreu um dia após um artigo de Tabata ficar em destaque na Folha de S. Paulo “por mais de 20 horas”. No texto, ela registra uma série de ofensas e ameaças que recebe diariamente pelas redes sociais, entrelaçadas às falas que marcaram o tweet compartilhado de Abreu. O ator chamou o texto “over” e disse que a deputada “passou do ponto”. Na esteira da polêmica, o jornal Valor Econômico defendeu a prisão de Abreu por incitação à violência. Tabata já anunciou que tomará as medidas judiciais cabíveis contra o ator. Abreu disse à Lola que espera não ser processado por causa de um retweet, pois isto seria “má utilização da Justiça”.

Na semana passada, Abreu retuitou a mensagem de um internauta que afirmava sentir vontade de cobrir Tabata Amaral na porrada até ser preso. O ator não fez nenhum comentário nem contextualização, apenas retransmitiu o tweet e, diante da repercussão, alegou que “RT não é endosso”. Ele repetiu o mantra na live com Lola. “Mas vamos partir do princípio que eu escrevi aquilo e que eu errei redondamente. Eu errei. Um milésimo de segundo, posso matar uma pessoa.”

Segundo Abreu, sua intenção ao dar o RT era exibir um ataque verdadeiramente “misógino” à Tabata, para que suas críticas políticas em relação à parlamentar fossem relativizadas nas redes sociais. Em outra oportunidades, Abreu chamou a deputada de “canalha” por divergir do posicionamento dela na Câmara. “Obviamente está implícito que ela é uma mulher, mas eu a vejo como uma pessoa [política] que se comprometeu com a esquerda e fez um estelionato eleitoral”, disse.

Durante a live, Abreu disse que não tem compromisso com o erro e que a repercussão negativa do caso o ajudará a “ampliar o conhecimento sobre feminismo”. Mas observou um “racha” entre as “mulheres de maneira geral”, sejam elas de esquerda ou direita. Ele achou curioso que uma parte das “feministas” tenha saído em defesa de Tabata, independente de questões ideológicas, enquanto outra parcela se silenciou e até validou este tipo de ataque agressivo quando se trata de uma mulher na política. Para Abreu, essa divisão está relacionada ao fato de Tabata se dizer progressista mas apoiar a chamada “terceira via” em detrimento da candidatura de Lula em 2022.

“Essa coisa virou de um apoio total a ela e de execração a mim. Depois virou: hoje você vê muito menos gente me atacando e mais gente atacando a Tabata. Talvez se ela tomasse a atitude de apoiar o Lula, não votar mais contra a aposentadoria, contra as mulheres, não apoiar essa pauta do Bolsonaro, enfim, se em um momento ela parte para assumir o socialismo do PSB, ou o trabalhismo do PDT… Mas isso não é o mais importante, entendeu? O que eu gostaria de discutir com você é uma desconstrução diária que a gente tem que fazer com racismo, homofobia, misoginia“, pontuou.

Ao final da live, quando Abreu indicou que contaria um pouco de sua vida pessoal para Tabata no vídeo de desculpas que será gravado, Lola sugeriu se ele se concentrasse na deputada. “Ela tem todo direito de ser terceira via. Ela não tem obrigação nenhuma de apoiar o Lula. Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, disse a blogueira.

Abreu atribuiu parte de seu machismo à criação ao se dizer filho de uma italiana que era muito “machista e racista” e que, talvez por isso, o ator não tenha aprendido desde cedo a referência de “respeito” em relação à figura feminina. “Fui criado num ambiente quase fascista”, relatou.

Assista:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Recent Posts

Sobre a privatização da Sabesp, por Pedro Maciel Neto

O acesso à água e ao saneamento é reconhecido internacionalmente como um direito humano, os…

7 minutos ago

Para onde vai o coração da gente, Paulo Freire?, por Urariano Mota

Na admiração que desperta no exterior, ele é destacado até por motivos errados. Quem o…

35 minutos ago

Rompimento de barragem no RS impacta níveis de rios e afeta cidades

Ruas da capital Porto Alegre estão tomadas pela água e a prefeitura decretou estado de…

59 minutos ago

Brasil registra 4,2 milhões de casos prováveis de dengue

O número de óbitos confirmados pela doença chegou a 2.149, segundo o Ministério da Saúde

2 horas ago

Privatização da Sabesp pela Câmara e Ricardo Nunes: entenda o que significa

A partir de agora, a estatal de água do Estado de São Paulo estará regularmente…

2 horas ago

A construção de um etnojornalismo indígena como ferramenta de luta, por Cairê Antunes

O jornalismo nacional ainda é elitista, e da forma como é feito pela grande imprensa,…

3 horas ago