Feliz Ano Novo, por Luis Nassif

Arte de Rosangela Borges

As festas de fim de ano são um bom momento para repensar a brasilidade. A tradição dos romãs, das uvas, do foguetório à meia noite, do bolo de milho e do peru. O “adeus ano velho / feliz ano novo”, que vieram de nossos pais e chegam aos nossos netos.

Por algum momento, ressurge o país ancestral, os valores, as músicas, os costumes que costuraram gerações em torno do conceito de nação. E permite esquecer, por algum momento, a vergonha suprema de ter sido entregue a uma organização criminosa.

Nas rodas familiares, evita-se até a pronunciar o nome de Temer, para não conspurcar a memória de nossos velhos, encarar a suprema humilhação geracional de, pela primeira vez na história, o crime organizado político ter conquistado o poder, impondo-se sobre instituições débeis, homens públicos covardes, procuradores ambiciosos, mídia vendendo opinião como xepa de feira.

Com todas as falhas e virtudes, da monarquia e dos conservadores da República Velha aos desenvolvimentistas de Getúlio a Jango, dos militares pós-64 aos presidentes da pós-redemocratização, com os erros de Collor, FHC, Lula e Dilma, houve toda sorte de presidentes, acertos e erros, mas nenhum representando organizações criminosas como muitos outros países latino-americanos, como o caso do México.

Em determinado momento, entre 2008 e 2012, supôs-se que o Brasil finalmente vencera o subdesenvolvimento e ingressara no campo das nações desenvolvidas. O orgulho de ser brasileiro iluminava cada pessoa no país, dos incluídos pelos programas sociais aos estudantes que saíam pelo mundo em cursos de pós-graduação, dos pequenos empresários do interior aos turistas internacionais.

A queda foi muito rápida, induzida por erros de Lula e de Dilma, sim, mas principalmente pelo golpismo antinacional de quem não se pejou de destruir sistematicamente a auto-estima nacional, superdimensionando todos os erros, escondendo todos os acertos.

Mas, ao som de “Tristeza do Jeca”, de “Que nem jiló”, das modinhas de Carlos Gomes a Chico Buarque, vai aumentando a convicção de que não vencerão. O País resistirá. A imagem que tenho do Brasil, hoje em dia, é o do bom gigante, forte, acolhedor e caído no chão, vítima de um golpe sujo. E, caído, sofre os pontapés dos roubos de Temer, pauladas dos subornos de Padilha, sem conseguir reagir. Mas, a exemplo dos titãs das lendas, sua força reside no contato com a terra. Foi assim no Brasil derrotado dos anos 20, do Brasil amordaçado dos anos 80.

O Brasil sairá desses tempos ferido, humilhado, desmontado, mas com a energia de quem superou todas as crises, a crise da República Velha, a ditadura do Estado Novo, o golpe de 64, a hiperinflação dos 80, o câmbio dos 90, o entreguismo do período tucano, a megalomania do fim do governo petista e, principalmente, a mais espúria aliança antinacional da história, no qual as corporações públicas, juízes e procuradores, se aliaram a uma mídia anacrônica e mercantil e um mercado sem noção de limites, para assaltar o orçamento público e destruir a auto-estima nacional.

Que 2018 marque o início da retomada civilizatória.

Feliz Ano Novo.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Reconstrução que a globo quer

    Reconstrução que a globo quer do país, somente com o retorno dos direitos retirados, com a retomada das concessões e privatizações!

    Isso eles não falam!

  • Você fala constante da tal

    Você fala constante da tal organização criminosa, está bem. Que tal falar da escória que foi às ruas guiadas pelas emissoras de rádio e TV, que tal falar da escória que de espaços ridículos chamados 'gourmet' batiam panelas, gritavam palavrões e urravam? Quando a tal organização criminosa se for, a escória que lhes deu sustenção permanecerá ao nosso lado. E aí?

  • Amém
    Peço aos nossos

    Amém

    Peço aos nossos camaradas, de todos os credos, inclusive os ateus, que façam uma prece pelo nosso Brasil. Nossa terra tão querida nunca precisou tamnto do carinho de seus filhos

  • Feliz 2018

    Se a organização criminosa chegou ao topo do poder no país foi porque teve cúmplices hábeis. Uns incitaram o ódio e espalharam a desinformação entre os próprios brasileiros; outros se omitiram da defesa da democracia, da legalidade e da igualdade. Nosso lema para 2018 é "Luto, logo existo."

  • A volta por cima

    A volta por cima, custe o que custar, vai ter que envolver a revisão do sistema de mídia, controlado por poucas famílias. Os últimos anos serviram para mostrar cabalmente que o oligopólio da mídia intimida o judiciário, promove falsos heróis e desmandos no judiciário. Além disso blinda governos corruptos se for bem paga, deixando a frágil democracia daqui à mercê dessas famílias, em especial a Rede Goebbels, que domina mais de 50% do mercado. Nem que jurem de pés juntos dá mais para acreditar nessas mídias. É fundamental um sistema mais pluralista e uma rede realmente pública (não aparelhada) de mídia. Sem isso, sempre correremos o risco de golpes midiáticos como o que sofremos recentemente.

  • "A queda foi muito rápida,

    "A queda foi muito rápida, induzida por erros de Lula e de Dilma, sim". Nassif não desiste de colocar a culpa nas vítimas!

  • Feliz Ano Novo à família
    Feliz Ano Novo à família Nassif e a todos os comentaristas!

    "Ousar lutar, ousar vencer"

  • Um Feliz 2.018 a todos. . .

    Feliz 2.018 a todos, precosaremos da união de todos neste ano para um novo projeto progressista e de redemocratização do país, mas para isso precisaremos acordar todos os pobres de direita.

  • Terá que se reerguer sem
    Terá que se reerguer sem nada. É o pré-sal vai financiar a educação... Na Noruega. Nossas crianças nunca terão escolas e hospitais. Esse país sobreviverá, mas sem quaisquer meios de sair do subdesenvolvimento. Como projeto de nação, está morto e enterrado. Administraremos terra arrasada.

Recent Posts

A Lei de Alienação Parental no Brasil, por Salvio Kotter

Entre a Tutela da Justiça e a Proteção da Infância, nem manter nem revogar, reformar…

13 minutos ago

O Direito de Julgar no vale tudo do mundo, por Marcelo Henrique

Com que “direito” têm estas inúmeras e incontáveis, pessoas, iguais a nós, de declararem suas…

27 minutos ago

Concessão de terras e combate ao MST foram fake news do Bolsonaro

Ceres Hadich conta à TVGGN que concessão de 420 mil terrenos foi apenas um contrato…

40 minutos ago

Anarriê, alavantú XXVI – O espermatozoide que invadiu o Banco Central do Brasil, por Rui Daher

Como os espermatozoides são únicos, independentes, as taxas de juros no Brasil também o são…

60 minutos ago

O senador Romário continua oportunista, mesmo fora do campo, por Percival Maricato

Romário e cia conseguem emplacar outra CPI, para o mesmo fim: investigar a corrupções na…

1 hora ago

O STF e os guardas da porta do presídio, por Luís Nassif

Mais um desafio para o CNJ e para o CNMP. Se não for enfrentado desaparecerá…

3 horas ago