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O perdão a Billy the Kid

Por Miriam L

Da Folha

Novo México estuda perdoar lendário Billy the Kid

GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO


       Editoria de Arte/Folhapress   

O lendário caubói americano conhecido no mundo todo, e há várias gerações, como Billy the Kid poderá receber nesta semana o perdão do Estado do Novo México, onde viveu. O pedido está nas mãos do governador Bill Richardson, que promete analisá-lo antes de deixar o cargo, no dia 31.

Quase 130 anos depois de sua morte, o maior mito do Velho Oeste gera polêmica porque continua dividido entre a fama de impiedoso matador e a de uma espécie de Robin Hood americano.

De um lado estão, principalmente, os distantes descendentes do xerife que Billy teria assassinado em 1878, William Brady, e do xerife que o assassinou, dois anos mais tarde, Pat Garrett.

De outro estão pesquisadores como o criminalista Joel Jacobsen, autor de “Such Men as Billy the Kid” (algo como “Homens Como Billy the Kid”).

Segundo ele, há evidências “fortes, mesmo irrefutáveis” de que, em 1879, o então governador Lew Wallace concordou em perdoar o caubói, que estava preso, em troca de seu testemunho em outro caso.

Os registros mostram que Billy serviu de testemunha, cumprindo a sua parte do acordo, mas o governador, não. “O fora-da-lei foi mais honrado”, diz Jacobsen.

Billy aguardava julgamento pela morte do xerife Brady, a quem ele e seus amigos acusavam de corrupção por ter soltado capangas que mataram seu chefe a mando da elite da região.

Os mais ricos, acostumados a acossar pequenos produtores e comerciantes, teriam visto no chefe –e amigo’– de Billy uma ameaça a seu monopólio.

O caubói foi solto mesmo sem o perdão formal, mas, dois anos depois, se viu à mercê da perseguição do xerife Garrett.

Preso, ele escreveu ao menos quatro cartas ao governador, pedindo que ele fizesse valer o acordo, mas de nada adiantou. Foi condenado à forca.

Transferido de volta a Lincoln, onde iniciara carreira, ele conseguiu se livrar das algemas nas mãos e pés e fugir, matando dois policiais. Para Jacobsen, a fuga mostra que Billy contava com grande apoio entre a população.

“E os assassinatos ocorreram depois que o governador quebrou sua promessa. Se ele a tivesse mantido, esses dois policiais não teriam sido mortos”, completa a advogada Randi McGinn, 55, que cresceu perto de Lincoln e é a autora do pedido de perdão.

“Ouvi a história de Billy a vida toda e nunca soube do acordo. Normalmente, são descendentes que movem pedidos de perdão póstumos, mas Billy não possui herdeiros legítimos. Daí, me voluntariei”, ela explica.

“Quando o governador promete retirar acusações em troca de você arriscar sua vida para testemunhar, ele precisa manter a palavra.”

VILÃO

Mas o neto do xerife Garrett, JP Garrett, diz que o personagem não passa de um “ladrão, mentiroso, aterrorizador de pessoas comuns e matador de policiais”.

“O Kid era um notório fora-da-lei. Eu acho que Lew Wallace fez o que planejou, que era fazê-lo testemunhar e, daí, enforcá-lo”, disse recentemente em entrevista ao britânico “Telegraph”.

Para William Wallace, tataraneto do governador, a concessão do perdão equivaleria a tachar de “um mentiroso desonrado” o seu célebre ancestral, que serviu como general na Guerra Civil.

“O que houve foi que os poderosos ganharam. E foram eles que escreveram a história de Billy the Kid, deixando-o muito mais perigoso do que ele realmente era”, argumenta McGinn.

“Muito do que se sabe sobre ele não é verdade. O número de assassinatos que ele cometeu, por exemplo, é cerca de metade do que se diz na internet.”

De acordo com a advogada, das 20 a 21 mortes de que ele costuma ser culpado, só quatro foram comprovadas, incluindo as dos policiais.

Há outras cinco, reações à morte do chefe, que podem ter sido cometidas por aliados de Billy e atribuídas a ele por engano. McGinn destaca que, mesmo que Billy seja o autor dessas mortes, elas somariam, no máximo, nove.

“Claro que ainda é muito para alguém com 20 anos, mas eram tempos diferentes”, justifica.

Luis Nassif

Luis Nassif

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